Open Finance: dados de contas e cartões de crédito de clientes são os mais acessados pelos bancos
Relatório também aponta que os empréstimos figuram na 3º posição entre as informações mais buscadas pelas instituições financeiras
Informações relacionadas às contas corrente, poupança e pagamento, além de dados dos cartões de crédito, são as mais acessadas pelos bancos no âmbito do Open Finance no Brasil, segundo mostra o Relatório Anual do ecossistema, obtido com exclusividade pelo InfoMoney.
Não necessariamente o acesso se traduz em algo palpável. As finalidades dos bancos variam, como:
- captar as informações para uso futuro;
- estudar comportamentos;
- e aumentar o conhecimento sobre o consumidor.
Mas o grande objetivo das instituições participantes é utilizar o dado para manter o consumidor bem perto com ofertas de mais produtos e serviços.
Das 11,6 bilhões de chamadas de APIs feitas entre março (primeiro mês do monitoramento) e dezembro de 2022, 68% (7,92 bilhões) delas são referentes a essas informações.
As APIs (Application Programming Interface ou Interface de Programação de Aplicação, em tradução literal) são o meio usado para o compartilhamento de dados dos clientes entre as instituições financeiras. Para facilitar o entendimento, imagine que a API seja um cano. Dentro dele, em vez de água, circulam as informações referentes aos clientes que saem de um banco em direção a outro.
Um único consentimento pode gerar várias chamadas de APIs porque os clientes autorizam o acesso a um grupo de informações por até 12 meses — o que permite a obtenção dos dados pelas instituições. A partir disso, elas podem acessar essas informações quando quiserem. Por esse motivo, inclusive, o número de chamadas de APIs de consentimentos é mais baixo, com 216 milhões (veja abaixo).
Veja a quantidade de chamadas de APIs por grupos de informações já liberados no ecossistema:
- Contas: 5,54 bilhões (48%);
- Cartões de crédito: 2,37 bilhões (20%);
- Empréstimos: 1,32 bilhões (11%);
- Recursos (API administrativa que ajuda as instituições no monitoramento das informações dos usuários): 860 milhões (7%);
- Financiamento: 602,2 milhões (5%);
- Dados Cadastrais: 519,7 milhões (4%);
- Consentimento: 216,1 milhões (2%);
- Outros (direitos creditórios e adiantamento a depositantes): 166,7 milhões (1,4%)
Por que contas e cartões são mais utilizados?
“Quando o consumidor dá consentimento a um bloco de informações, a instituição tem autonomia para consumir o que é mais interessante para ela e seu negócio”, explica Carlos Jorge, sócio-fundador da Chicago Advisory Partners, consultoria responsável pela governança do Open Finance no Brasil e secretário-geral do ecossistema.
O Open Finance já dispõe de alguns recursos ao consumidor, como agregadores de contas, transferências entre as instituições, interações via WhatsApp e aumento do limite de cartão. No futuro, segundo especialistas, a prateleira de opções será vasta.
Para Elcio Calefi Junior, CIO do Open Finance Brasil, as atenções dos bancos sobre as contas e os cartões se sobressaem porque são os meios mais comuns de movimentação financeira dos brasileiros.
“Com a expansão das contas digitais nos últimos anos, esses dados são mais massificados e compartilhados. O que não acontece com os dados de empréstimos e financiamentos. As pessoas sentem mais cautela na hora de compartilhar informações sobre dívidas com uma nova instituição”, diz Calefi Junior.
Os dados compartilhados, acrescenta Calefi Junior, funcionam como uma fotografia que mostra o momento atual financeiro do consumidor. “É com esses dados que as instituições avaliam o que pode ser ofertado de útil para cada cliente de forma individualizada”, explica o CIO do Open Finance Brasil.
O que vem por aí?
Para 2023, a principal meta do ecossistema é fortalecer os iniciadores de transação de pagamentos (ITPs), que são empresas reguladas pelo BC para iniciar transferências e pagamentos aos clientes.
Os próximos passos incluem a chegada do pagamento recorrente, espécie de débito automático, e a jornada de pagamento sem redirecionamento. No segundo caso, a ideia é reduzir a jornada que o usuário precisa fazer hoje, com 7 passos, para efetuar o pagamento com Pix no Open Finance.
Leandro Nóbrega, head de produtos da Chicago Advisory Partners, pontua que o foco será “no contato direto com o cliente”. “Temos desafios e vamos discutir como ampliar adoção e casos de uso”.
Veja quadro: