Brasil trabalha por tom neutro sobre Rússia na Cúpula do G-7
A expectativa nos bastidores do G-7 é que as potencias ocidentais e europeias forcem a mão para endurecer o tom contra a Rússia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se opor, em reunião do G-7 no Japão, a tentativas dos países do bloco de endurecerem o tom contra a Rússia em uma declaração final, que será assinada por países convidados como o Brasil.
O Itamaraty negocia para que o texto conjunto, que tem como tema de fundo a segurança alimentar e deve ser adotado de forma consensual, não seja usado como plataforma para atacar Moscou por causa da guerra na Ucrânia.
Efeitos negativos da Guerra da Ucrânia
A guerra necessariamente será citada nesse documento por causa de seus efeitos negativos, em escala global, sobre a cadeia produtiva e de distribuição de suprimentos e alimentos. Mas, segundo o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros, o Brasil atua para adequar a linguagem de forma que ela esteja em sintonia com a posição brasileira.
O governo Lula tenta se equilibrar no conflito e apresentar-se como neutro.
“Como é uma declaração sobre segurança alimentar e há efeitos do conflito na Ucrânia sobre acesso a alimentos e nós sabemos disso uma referência inicial deverá ser feita ao conflito na Ucrânia. E, naturalmente, o governo brasileiro negocia essa linguagem para que seja compatível com a linguagem que o Brasil tem usado sobre o tema, inclusive tem defendido na negociação de resoluções em diversas instâncias internacionais, como a própria ONU”, afirmou Lyrio, nesta segunda-feira, dia 15, ao apresentar os compromissos do presidente no G-7. “Nossa visão é que a ênfase desse documento deve ser de fato a segurança alimentar, já que esse é o tema principal.”
Divergências entre Brasil e G-7
Antes do segmento com países convidados, do qual Lula participará, o grupo do G-7 (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido) emitirá um comunicado próprio oficial. Trata-se de outra declaração conjunta, de cuja negociação o Brasil não participa. “O documento do G-7 propriamente dito e o do G-7 mais países convidados são bastante diferentes”, explicou o embaixador.
Na quinta-feira passada, dia 11, o chanceler Mauro Vieira afirmou que o Brasil não iria isolar a Rússia em fóruns multilaterais, como é o caso do G-7. Além disso, segundo ele, o Brasil não tem interesse em tomar lado no conflito.
Embora condene a violação do território da Ucrânia pela Rússia, o chanceler disse que o Brasil não aceita sanções unilaterais e rejeita articulações para isolar Vladimir Putin nos fóruns multilaterais. A Rússia não faz mais parte do bloco, antigo G-8, tendo sido expulsa após a tomada da Crimeia, em 2014.
A expectativa nos bastidores do G-7 é que as potencias ocidentais e europeias forcem a mão para endurecer o tom contra a Rússia. Nesse cenário, a diplomacia brasileira atua nos bastidores para amenizar os termos.