Terra preta da Amazônia pode facilitar o reflorestamento mundial, diz estudo
A terra preta amazônica (ADE, na sigla em inglês) é excepcionalmente fértil porque é rica em nutrientes e matéria orgânica. Agora, cientistas da USP e de outras instituições brasileiras mostraram que ela pode ser um ingrediente importante em novos projetos de reflorestamento na Amazônia e em outros lugares do país.
Os pesquisadores coletaram amostras de ADE na Estação Experimental do Caldeirão, em Manaus (AM), e amostras de solo agrícola da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, um campus da USP em Piracicaba, no interior do estado de São Paulo. Este serviu como um solo controle nos experimentos, um parâmetro de comparação para a ADE.
Então, encheram 36 vasos com 3kg de terra e os deixaram em uma estufa com temperatura média de 34ºC. A ideia era antecipar o aquecimento global excedendo as temperaturas comuns na Amazônia atualmente, entre 22 e 28ºC.
Um terço dos vasos na estufa recebeu apenas solo controle; outro terço, uma mistura de quatro partes de solo controle e uma de ADE. O restante eram amostras de solo 100% ADE. Para imitar o pasto nos vasos, os pesquisadores plantaram sementes de capim e deixaram as mudas crescerem por 60 dias.
Em seguida, cortaram o capim e deixaram as raízes da planta nos vasos para simular um território pronto para reflorestamento. Então, plantaram sementes de embaúba, de canafístula (também chamada de angico amarelo) e de cedro rosa.
Depois que as sementes germinaram e as mudas cresceram por 90 dias, a equipe examinou como o tipo de solo influenciou no desenvolvimento das árvores. Eles mediram a altura das mudas e a extensão das raízes; verificaram o pH do solo, a concentração de matéria orgânica, a presença de micro-organismos e a quantidade de nutrientes em cada vaso.
Os resultados mostraram que os vasos com ADE ou mistura de ADE abrigaram uma maior biodiversidade de bactérias e arqueobactérias benéficas para as plantas do que os solos controle.
A ADE também melhorou o crescimento e o desenvolvimento das plantas. As mudas de cedro rosa e canafístula eram duas e cinco vezes mais altas, respectivamente, nos vasos com mistura de ADE em comparação ao solo controle. Nos vasos que só tinham ADE, eram três e seis vezes mais altas, respectivamente. A embaúba, por sua vez, só cresceu nos vasos 100% ADE.
Os pesquisadores afirmam que a terra amazônica potencializa o desenvolvimento da planta e o enriquecimento benéfico da microbiota. O estudo foi publicado este mês na revista Frontiers in Soil Science.
Mas a ideia não é retirar este solo precioso da floresta amazônica. “Nossas recomendações não são utilizar o ADE propriamente dito, mas copiar suas características, principalmente seus microrganismos, em futuros projetos de restauração ecológica”, disse Siu Mui Tsai, autor do estudo, em comunicado.