IPCA de março deve mostrar pressão de preços administrados e analistas vão observar núcleos
Projeções são de que IPCA vai desacelerar ante fevereiro, mas com serviços ainda mostrando alguma resilência
O IPCA de março, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará nesta terça-feira (11), deve mostrar um desaceleração em relação ao índice de fevereiro, especialmente pela perda de força do grupo Educação, mas tende a continuar mostrando comportamento resiliente dos serviços. Analistas consultados pelo InfoMoney esperam uma variação entre 0,75% e 0,77% na inflação oficial em março, ante 0,84% em fevereiro. Eles vão manter um atenção redobrada no comportamento dos núcleos da inflação.
Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, prevê que o IPCA de março deve mostrar no mês uma esperada dissipação dos aumentos das mensalidades escolares, que trouxeram forte impactos no grupo Educação em fevereiro. Ele estima uma variação de 0,77% na comparação mensal e de 4,71% ante março de 2022.
Na comparação anualizada, ele destaca que deve exercer uma pressão de baixa a perda de força dos choques atípicos nos preços de alimentos e bens industriais, que no ano passado sofriam efeitos da pandemia de covid-19.
Na direção oposta, puxando o índice para cima, devem figurar os preços administrados, inflados pela reoneração de tributos federais em energia elétrica e combustíveis.
Para o ano fechado, a projeção tem piorado, segundo Caruso: o Original tem projeção de 6,1%. “A gente via alguns motivos para ter uma redução do IPCA projetado do ano, para algo abaixo de 6%, mas isso foi se dissipando ao longo do tempo por conta da perspectiva de reajustes contínuos de tributos, na linha de toda a necessidade de receita que o marco fiscal tem”, comenta
Ele prevê que deve haver uma discussão ao longo do tempo sobre quais tributos vão subir e como ele devem trazer impacto à inflação. Essa discussão, destaca será é se a inflação em 6% ou algo acima, por conta desses reajustes que são difíceis de projetar devido à questão política por trás deles. deles.
Para o Copom, no entanto, Caruso considera que a inflação corrente tende a ser pouco relevante para modificar as leituras. “A grande batalha do Copom se dá hoje em dia em cima das expectativas e em como o mercado olha a conjuntura macro para 2024 em diante”, afirma.
A Toro Investimentos, por sua vez, projeta a continuidade de perda de força no IPCA de 12 meses, que já vem acontecendo há alguns meses. “Na última divulgação do índice realizada no dia 10 de março, tivemos um IPCA de 5,6%, valor abaixo do patamar registrado no mês anterior, que era de 5,77%, destacam os analistas Rodrigo Caetano e João Vítor Freitas.
Eles também acreditam que o índice de março, deve mostrar maior pressão em relação aos preços dos combustíveis, devido à reoneração dos impostos. “Porém, com a cotação do barril de petróleo em patamares de preços menores, a Petrobras já sinalizou que eventuais cortes de preço nos combustíveis podem ocorrer, o que minimizaria os impactos”, afirmam.
De olho nos núcleos
Alexandre Maluf, estrategista de macroeconomia da XP Investimentos, também está com uma projeção de inflação de 0,77% no mês e de 4,71% na compara anual, em linha com o consenso do mercado.
Ele concorda que vai haver pressão de alta em administrados, com forte pressão de gasolina e energia elétrica, nessa última por conta da volta da incidência do ICMS sobre as tarifas de transmissão (TUST) e distribuição (TUSD), que exerceram influência sobre o IPCA-15. “Em Transporte, também houve ajustes pontuais em tarifas de trem e ônibus”, lembra.
No lado de baixa, ele prevê menor pressão na alimentação no domicílio, com destaque para tubérculos e frutas e, em menor escala, para carnes. “Em artigos de residência, as coletas têm indicado uma queda na margem, mais significativa em móveis e em eletroeletrônicos”, comenta.
Maluf também recomenda uma observação mais aprofundada no comportamento da média dos núcleos do IPCA. Várias empresas do mercado financeiro fazem essas ponderações entre núcleos por exclusão – acompanhado pelo Banco Central – e os núcleos estatísticos.
“Nas nossas medidas para fevereiro, os núcleos estavam rodando a 8,4%. Agora, a gente espera uma desaceleração para 7,8%. Isso dimensiona o desafio da política monetária. A gente tem uma meta de 3% e um núcleo rodando perto de 8% ainda”, compara o analista da XP.
Para ele, o dado de março não deve trazer algo significativo a ponto de mudar a estratégia atual do Copom, mas uma leitura benigna desses núcleos pode ser citada de alguma forma em palestras ou entrevistas de integrantes do comitê
“Boa parte da inflação de bens já voltou, mas a gente está com uma inflação de serviços ainda muito resiliente, rodando muito acima da meta de inflação. Para o BC, seria importante um arrefecimento da inflação na leitura de serviços, mas não é decisivo para a próxima reunião, em maio”, diz.
Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, também tem expectativa de uma desaceleração da inflação para 0,77% em março e para 4,71% em 12 meses.
Parte disso virá do grupo Educação, comenta. “Não estamos mais no período de início de ano escolar e isso faz com que os preços acabem diminuindo”, explica.
Ariane Benedito, economista da Esh Capital, é outra especialista que alerta para os grupos de preços administrados e de serviço, como as principais variáveis de impacto altista para as medições do índice cheio do IPCA. Isso mesmo com indicadores mais fracos de atividade de comércio, serviços e indústria, além do arrefecimento do emprego.
Além disso, outros fatores como a pressão nos preços das commodities, intervenções na oferta de petróleo, a gradual desaceleração das economias desenvolvidas, os incentivos governamentais brasileiros com objetivo de estímulo ao consumo e a renda, bem como as questões fiscais internas, devem dificultam que a inflação convirja para o centro da meta, diz Ariane Benedito.
“Nossa projeção para a medição final do IPCA em 2023 fica em torno de 5,6%. Para a medição de março, que será divulgada nesta terça-feira, nossa expectativa é de uma inflação de 0,75%”, estima.
Serviços
A projeção do IPCA de março de Amabile Ferrazoli, economista da Tenax Capital, é de 0,76% no mês e de 4,70% no ano. “Os destaques dessa divulgação devem ser combustíveis, com o efeito da reoneração parcial de impostos federais – PIS e Cofins – em gasolina, principalmente, e a composição dos núcleos de inflação”, destaca.
Ela também observa que a inflação de serviços permanece resiliente. A economista afirma que observar em que patamar a inflação dessa parte do índice consegue se estabilizar é importante para entender o quanto a política monetária ainda terá de trabalho.
“Em comunicação recente, após divulgação do Relatório Trimestral de Inflação, o diretor Diogo Guillen citou que a desinflação teria duas etapas: uma mais breve e uma mais custosa. Essa parte mais custosa é a que está em curso e a que observaremos com mais atenção”, destaca.
Amabile projeta que a inflação de 12 meses vai desacelerar até 4,05% em junho, voltando a pegar tração depois. “O efeito das desonerações da PLP 18 (o projeto que reduziu os impostos) saem da conta. Então o acumulado 12 meses de inflação deixará de carregar esses efeitos”, comenta.
A projeção fechada para o final do ano da Tenax Capital é de 6,30%, já considerando a desinflação relevante dos bens industriais pela reorganização de cadeias e algum efeito de apreciação cambial.
Nessa conta, o grupo Alimentação deve representar o risco de baixa. “Como estamos em mais um ano de safras recordes no Brasil, o efeito de queda de preços no atacado pode beneficiar o consumidor final. Na outra ponta, os riscos altistas podem vir de uma inflação de serviços ainda muito resiliente”, estima.
Para o ano fechado a expectativa é que a inflação de serviços acumule alta de 6,6%, vindo de 7,6% em 2022.
Leonardo Costa, economista da ASA Investments, diz que está projetando desaceleração do IPCA para 0,75%, por conta da variação mais baixa nos serviços de educação e pela deflação nos itens de cuidado pessoal.
“Por outro lado, devemos ter aceleração forte nos preços administrados, efeito da recomposição parcial dos impostos federais sobre os combustíveis. A inflação deve continuar amainando na comparação em 12 meses, com taxa esperada de 4,7% em março.”
Étore Sanchez, economista chefe da Ativa Investimento, também diz que o IPCA deverá trazer velhos destaques, cujas informações são muito relevantes para o curto prazo, como nas variações de preços de gasolina e de cuidados pessoais.
“Para o IPCA do ano ficamos de olho no comportamento dos núcleos de inflação, e sobremaneira na dinâmica apresentada por Serviços, que já fora destacada pela autoridade como um ponto de concentração de persistência inflacionária.”