Guindos, do BCE, ameniza crise de bancos no exterior, mas admite riscos
Segundo a autoridade monetária, a questão agora é qual o impacto dos eventos no sistema bancário dos EUA e no Credit Suisse na economia da zona do euro
Em entrevista ao Business Post, o vice-presidente do Banco Central Europeu, Luis de Guindos, atenuou a crise dos bancos internacionais, em especial os europeus, num momento que julga “bem diferente” à quebradeira de instituições ocorrida entre 2008 e 2009. Na sua avaliação, os bancos têm posições de capital e liquidez “muito melhores” e “bem acima dos requisitos mínimos”. “A sua situação é globalmente mais sólida, também devido a uma regulamentação mais exigente”, explicou.
Segundo a autoridade monetária, a questão agora é qual o impacto dos eventos no sistema bancário dos Estados Unidos e no Credit Suisse na economia da zona do euro. “Ao longo das próximas semanas e meses, temos de avaliar se vão dar origem a um aperto adicional nas condições de financiamento”, pondera, admitindo que esses tipos de eventos “aumentam a incerteza”.
“Nossa impressão é que eles levarão a um aperto adicional dos padrões de crédito na zona do euro. E talvez isso repercuta na economia em termos de menor crescimento e menor inflação. Mas temos que avaliar a intensidade desse fator. Ainda é muito cedo para dizer agora”, disse.
Do ponto de vista macroeconômico, Guindos acrescenta que não há problemas de competitividade das economias europeias, tendo como exemplo o balanço de pagamentos na Espanha, Grécia, Irlanda ou Portugal.
“A abordagem da política econômica é diferente em comparação com 2010, 2011 e 2012. Tivemos quatro anos de regras fiscais mais frouxas. Essa foi a resposta correta para a crise durante a pandemia. Foi uma espécie de tudo o que é preciso na política fiscal, enquanto a política monetária também foi muito favorável. Temos outras dificuldades agora”, diz.
Sobre as perspectivas econômicas da Europa em relação ao segundo semestre de 2022, Guindos avalia que as projeções em dezembro previam uma recessão técnica, com dois trimestres consecutivos de crescimento negativo. “As projeções divulgadas na semana passada foram mais otimistas sobre crescimento e inflação. No entanto, os números do crescimento não foram grandes, girando em torno de 1%, enquanto a inflação foi claramente mais positiva, especialmente a inflação plena”.
Cerco contra a inflação
Para o vice-presidente do BCE, a política monetária tem um papel a desempenhar, assim como a política fiscal, que, na sua opinião, deve ser temporária, direcionada e seletiva. Simultaneamente, a moderação salarial é necessária e, nesse sentido, a política fiscal pode ajudar.
Subimos as taxas em 50 pontos base em março e estamos de mente aberta em relação ao futuro. Somos dependentes de dados. Existe agora esse elemento adicional de incerteza decorrente dos problemas do setor financeiro nos Estados Unidos e na Suíça. E faremos uma abordagem reunião a reunião”, destaca.
Em relação aos testes de estresse, segundo ele, o exercício de 2023 liderado pela Autoridade Bancária Europeia já estava em andamento, e os resultados serão publicados em julho. “Mas, de modo geral, a situação do sistema bancário da área do euro é muito melhor do que há uma década em termos de liquidez, capital e supervisão. Portanto, acreditamos que o setor como um todo é resiliente, sólido e seguro. Mas não devemos ser complacentes”.
Socorro ao Credit Suisse
Para Guindos, a solução de socorro para o Credit Suisse foi “rápida e isso é bom”. “Na área do euro, esclarecemos que não seria possível a ordem de senioridade seguida neste caso em termos de absorção de perdas”, pontua, afirmando que o BCE respeita a ordem estabelecida pela Diretiva de Recuperação e Resolução Bancária.
Sobre a abordagem suíça de impor perdas aos detentores de títulos primeiro era arriscada e poderia haver consequências para os bancos da zona do euro, ele não vê muito contágio. “É claro que nossa hierarquia é primeiro o patrimônio e só depois a dívida júnior. Esclarecemos isso e reduzimos qualquer incerteza potencial que a decisão das autoridades suíças poderia ter criado”, afirmou.
BCE a postos para nova crise
Sobre um possível contágio nos bancos europeus em uma eventual nova crise, Guindos afirma que a estabilidade financeira “é essencial” e que “estamos monitorando de perto”. “Os instrumentos de liquidez em nossa caixa de ferramentas estão prontos para serem usados novamente. O kit de ferramentas está disponível caso seja necessário”, disse.