Cientistas europeus conseguem desviar raios com um poderoso laser
Pesquisadores europeus testaram com sucesso um novo sistema de para-raios que utiliza um laser de alta potência para direcionar as descargas elétricas. A tecnologia promete desviar raios por várias dezenas de metros, podendo ser usada para proteger locais sensíveis.
Atualmente, o para-raios é a melhor proteção contra essas descargas eletrostáticas. Ele foi inventado em 1752, pelo norte-americano Benjamin Franklin. Ele consiste em uma estrutura vertical feita de um metal condutor e que possui um mastro pontiagudo que atrai o raio e descarrega no solo os milhões de volts do fenômeno atmosférico.
Desde a sua invenção, o para-raios pouco mudou. Porém, ele conta com a desvantagem de apresentar uma proteção limitada – geralmente, por uma superfície com um raio mais ou menos igual à sua altura. Ou seja, uma haste de 10 metros de altura protege apenas uma área com um raio de 10 metros ao seu redor. Além disso, ele não é eficaz em áreas amplas, como aeroportos, parques eólicos, usinas nucleares ou plataformas de lançamento de foguetes.
O novo sistema experimental foi desenvolvido por um consórcio europeu formado pela Universidade de Genebra e a Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, além da Escola Politécnica de Paris, na França, e da empresa alemã TRUMPF, que desenvolve tecnologias a laser.
Batizado como LLR (“Laser Para-Raios”, na sigla em inglês), o sistema usa pulsos lasers com potência de nível terawatt para direcionar os raios para uma pequena haste de oito metros de altura. O laser foi instalado no topo da montanha suíça Säntis, acima de uma torre de telecomunicações de uma operadora local — com cerca de 120 metros de altura e que também utiliza um para-raios tradicional.
O local é uma das áreas com maior incidência de raios em toda a Europa, e tinha o objetivo de verificar se ocorreria alguma diferença após o uso do novo sistema. Durante os testes, o laser foi utilizado entre os meses de junho e setembro de 2021, sempre que era prevista uma tempestade. Por precaução, a área foi fechada para o tráfego aéreo.
Quando ativado, o LLR ioniza moléculas de nitrogênio e oxigênio do ar, liberando elétrons e criando um plasma que conduz eletricidade. Como ele é disparado a uma taxa de 1.000 pulsos por segundo, o laser pode atrair o raio conforme ele se forma.
Após um ano analisando todos os dados coletados, os europeus afirmam agora que o sistema conseguiu atrair os raios. “Desde o primeiro raio usando o laser, descobrimos que a descarga poderia seguir o feixe por quase 60 metros antes de atingir a torre, o que significa que aumentou o raio da superfície de proteção de 120 m para 180 m”, disseram os pesquisadores em comunicado.
O LLR também se mostrou eficaz mesmo em condições climáticas severas, como nevoeiros, em que a nuvem e a neblina poderiam reduzir o alcance do feixe de luz.
O próximo passo da pesquisa é aumentar a altura de ação do laser. No longo prazo, o sistema poderá estender a área de proteção de um único para-raios para até 500 metros de distância.
Na prática, ele poderia prevenir danos em infraestruturas, cortes de energia ou mesmo incêndios florestais. Porém, o sistema ainda pode estar longe de ser usado de forma generalizada. Segundo o norte-americano Wall Street Journal, o experimento custou US$ 2,17 bilhões.