Investimento em bolsa não deve ser foco em 2023, avaliam gestores
Juros altos, risco fiscal e baixo crescimento do Brasil estão entre os pontos de atenção para Legacy e Ibiúna.
Em meio ao cenário de juros elevados, risco fiscal, expectativa de baixo crescimento econômico do Brasil, investimento em bolsa de valores em 2023 deve ser deixado de lado. É o que avaliam os gestores Felipe Guerra, CIO da Legacy Capital, e Rodrigo Azevedo, CIO da Ibiuna Investimentos.
Em participação no Macro Vision 2022, promovido pelo Itaú BBA nesta quinta-feira (08), Guerra afirmou que as bolsas de valores no mundo todo estão caras e, no caso do Brasil, com juros altos e crescimento baixo, existe dificuldade de se encontrar ações para se investir neste momento, mesmo que empresas sejam boas.
“O ‘cavalo’ principal é a venda da bolsa. Nunca é fácil vender bolsa, tem empresas extraordinárias, que crescem, se reinventam ao longo do tempo, então, é um mercado muito desafiador, pois o sharpe da venda de bolsa é muito diferente do sharpe tomado de juros”, disse CIO da Legacy Capital.
Na mesma linha, Rodrigo Azevedo, da Ibiuna Investimentos, afirmou que tudo o que se acompanhou depois da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do país para cá indica que o país não estará no regime de governo de Lula de 2003 a 2010, mas, sim, do governo do PT de 2011 a 2015.
“É o momento onde vai continuar um acelerando (governo) e outro pisando no freio (Banco Central). O juros real vai ser mais alto. Difícil achar que essa combinação vai gerar mais crescimento. E, em geral, para ativos como bolsa não é bom. O juro real é alto, o crescimento é baixo e lá fora está em um ambiente de recessão. Brasil vai ser mercado de trade e não de alocação”, destaca Azevedo.
O CIO da Ibiúna Investimentos destacou, no entanto, que “se tem o potencial de virada no exterior que poderia ser favorável ao Brasil, e os sinais que estamos vendo até agora indicam que vamos desperdiçar isso, e o Brasil vai voltar para aquele modelo onde se tem que operar muito mais juros e câmbio e deixar a bolsa meio guardadinha para ver se um dia a coisa volta”.
Para Felipe Guerra, da Legacy Capital, com o próximo governo no Brasil, o país terá um ambiente com mais juros, mais inflação, já que se terá mais gastos, mais impostos e, com isso, crescerá menos.
“Nesse sentido, somando tudo isso, temos muito mais dúvida do tempo do que da posição. Achamos que comprar bolsa nesse ambiente de desaceleração global, queda de lucros, inflações distante das metas, não haverá ajuda dos bancos centrais na hora que a desaceleração vier. Na ‘pernada’ da desaceleração, juros vai ajudar pouco na reprecificação da bolsa”, disse Guerra.
Risco fiscal no radar
Durante o evento, Azevedo lembrou que o posicionamento atual do Brasil é positivo, ou seja, geopolitciamente, o país está longe do conflito entre Ucrânia e Rússia, o Brasil tem energia limpa, é exportador de commodities e que o que depende para aproveitar isso é o endereçamento da questão fiscal.
“Estamos tendo potencial transição de modelo econômico de Brasil. Vamos enfrentar um ano de liquidez restrita, com juros alto que, em geral, é muito ruim para quem é devedor em dólar. Nós somos credor em dólar, temos déficit em conta corrente pequeno. Além disso, um grande problema que países estão enfrentando é trazer inflação para baixo, nosso ciclo já está acabando”, disse.
Ele acrescentou que, se o cenário virar e for feito o mínimo de dever de casa na parte fiscal, poderia ser um ano muito bom. “Poderia, pois tudo o que vimos até agora não indica que é nessa direção que estamos caminhando”, defendeu o CIO da Ibiuna.
Stuhlberger: de olho no portfólio
Luis Stuhlberger, CEO da Verde Asset Management, afirmou durante o evento que nenhum portfólio funciona quando se entra em um governo populista. “Tem que revisar e repensar. Enquanto as coisas vão bem, ok, mas se forem mal, como com ideias heterodoxas, não aprecem quando as coisas estão indo bem. Estamos pensando fortemente nisso”, recomenda Stuhlberger.
O CEO da Verde defende que o investidor tem que ter um pequeno portfólio de empresas que gosta e deixá-las na carteira, de forma cada vez mais seletiva, tendo, por exemplo, empresas boas que não dependam muito do Produto Interno Bruto (PIB).
Para justificar o cenário, Stuhlberger exemplificou com duas empresas que estão em portfólio da gestora, a Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11). Segundo ele, ambas são companhias do setor elétrico, que não são dependentes do PIB, e estão com taxa de retorno com dividendos equivalente a IPCA mais 11%, ou seja, 5 pontos acima do retorno real oferecido por títulos públicos atrelados à inflação.