Transição conta com parlamentares que foram aliados de Bolsonaro e fizeram críticas a Lula e ao PT

Pelo menos cinco do indicados na última terça-feira (22) têm histórico de publicações contra Lula no passado e, em alguns casos, apoio a Jair Bolsonaro (PL). Presidente eleito defende unidade e frente ampla para governar.

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O gabinete de transição do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), anunciou na última terça-feira (22) ao menos cinco ex-críticos aos governos petistas e ex-aliados da atual gestão Jair Bolsonaro (PL), derrotada no segundo turno.

Os nomes integram a lista de deputados federais e senadores anunciados pelo coordenador da transição de governo, vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), para a composição de grupos técnicos. Quase 100 parlamentares, de dez partidos, foram apresentados.

Destes, os deputados federais Alexandre Frota (Pros-SP), Edilázio Júnior (PSD-MA), Marcelo Calero (PSD-RJ), Newton Cardoso Jr (MDB-MG) e Tito (Avante-BA) têm histórico, ao longo dos últimos anos, de publicações e declarações públicas com críticas diretas ao PT, ou de endosso à campanha e ao governo Bolsonaro.

Ex-integrante do núcleo duro bolsonarista, Alexandre Frota ocupará uma das cadeiras do grupo da transição que prepara o diagnóstico da área cultural. Em 2018, ele foi eleito deputado federal na onda de candidatos que se apoiaram na imagem de Jair Bolsonaro. Ele também participou ativamente da campanha que levou Bolsonaro à vitória.

Frota disse, em algumas ocasiões, que o então candidato do PSL “varreria” o PT do Brasil.

Quando candidato a deputado federal na campanha de 2018, ele chegou a impugnar a tentativa de Lula e do PT de registrar uma candidatura ao Planalto. Naquele ano, Lula havia sido preso após condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá (SP). Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações e tornou-o elegível novamente.

No último mês, em uma rede social, Alexandre Frota disse acreditar que errou ao se aliar a Jair Bolsonaro. “Vamos construir uma vitória ao lado dos que defendem um país melhor diminuindo a fome e a desigualdade social, um país que respeite a diversidade e as mulheres. Errei em 2018”, escreveu

Newton Cardoso Jr também esteve na campanha de Bolsonaro em 2018. “Todos unidos por um novo Brasil”, disse ao anunciar que havia se reunido com o então candidato do PSL para declarar apoio a ele no segundo turno daquele ano. Ele seguiu participando de reuniões com o atual presidente ainda durante o mandato, mas não endossou publicamente a campanha de Jair Bolsonaro à reeleição neste ano.

O MDB, partido do deputado federal, lançou a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência.

Tito e Edilázio Júnior seguiram caminhos semelhantes nos últimos quatro anos. Eles estiveram ao lado de Jair Bolsonaro em eventos públicos, reuniões de bancadas e fizeram declarações de apoio ao atual presidente.

Ao deixar um café da manhã entre Bolsonaro e a bancada evangélica, em maio de 2021, Tito escreveu em uma rede social que se sentia “honrado em fazer parte” do governo. “Que Deus lhe abençoe cada vez mais, presidente”, completou.

Edilázio Júnior comemorou o “aumento de popularidade” de Bolsonaro no Nordeste. “É com muita felicidade que vejo esta notícia”, escreveu.

Ele também gravou vídeos ao lado de um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), direcionando ataques e críticas ao então governador do Maranhão – hoje, senador eleito – Flávio Dino (PSB).

Dino é um dos nomes fortes de Lula, que sinalizou durante a campanha que o ex-governador deve chefiar um ministério.

Um dos apadrinhados do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), Marcelo Calero não era aliado da gestão Bolsonaro.

Embora tenha feito críticas ao atual presidente, ele também foi um dos críticos das gestões petistas nos últimos anos.

Em uma de várias publicações em redes sociais, datada de 2013, ele atribuiu uma “tática nazista” ao PT, ao comentar uma notícia de que a sigla poderia lançar nota para defender integrantes que haviam sido presos.

“Será que o PT e o presidente Lula não conseguem enxergar o quão mal fazem ao país ao se julgarem donos da verdade e, assim, atacar o STF e [o ministro Joaquim] Barbosa?”, indagou em outra.

Antes da pandemia, Calero fez comparações entre o governo de Bolsonaro e o PT. “Nada mais parecido com o PT do que o PSL no poder”, disse.

Frente ampla

 

A escolha de nomes que se posicionaram contrários a Lula e ao PT nos últimos tempos é uma tentativa do partido de viabilizar a frente ampla pregada pelo presidente eleito durante a campanha vitoriosa ao Planalto.

Por diversas vezes, Lula acenou a antigos críticos na tentativa de ampliar o rol de aliados e, na avaliação dele, ampliar as chances de ser eleito.

Em março passado, a direção nacional do PT aprovou, a despeito de críticas internas, uma resolução que pavimentaria toda a articulação política de Lula e aliados para a campanha de 2022. O texto era um aceno a antigos adversários e trouxe a defesa de que “para derrotar o bolsonarismo” era “preciso dar uma resposta de unidade da sociedade brasileira”.

“Quem outrora não esteve conosco é mais do que bem-vindo a participar deste movimento que devolverá a cadeira de presidente da República ao povo brasileiro”, diz a resolução.

O tom perdurou por toda a campanha. No discurso de vitória, no último dia 30, Lula reforçou a tese: “Esta não é uma vitória minha, do PT ou dos partidos que me apoiaram, mas de um imenso movimento democrático que se formou acima dos partidos, dos interesses pessoais, das ideologias, para que a democracia saísse vencedora”.

Prestes a dar início ao novo governo, Lula tem dito que pretende governar ao lado de pessoas com diferentes pensamentos.

“Eu quero que vocês saibam que o governo será montado com a cara da minha vitória, com os partidos que participaram, com gente da sociedade que pode contribuir. Vocês sabem que a gente vai ter que ter um governo para conversar com muita gente que está com raiva”, disse.

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Fonte globo
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