Fim de governo esvazia participação do Brasil no G20, enquanto grupo busca saídas para riscos globais
Grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo discute o que fazer diante de risco de recessão, da crise climática e da guerra entre Rússia e Ucrânia
Recluso no Palácio da Alvorada desde a derrota na eleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem, até o momento, presença prevista nas reuniões de cúpula do G20, na Indonésia. Se não viajar a Bali, a participação brasileira no evento, já bastante esvaziada por se tratar de um governo em seus últimos dias, deve perder ainda mais em importância.
O G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) volta a se encontrar nesta semana em Bali, capital da Indonésia, em meio à guerra entre Rússia e Ucrânia, inflação em níveis históricos nos países ricos, crise energética na Europa e o risco de uma recessão global. O desafio será pavimentar, sob bases sustentáveis, a recuperação de um mundo que ainda sofre para se recuperar dos estragos da pandemia.
Salvo mudança de última hora, o Brasil será representado na cúpula do G20 pelo ministro de Relações Exteriores, Carlos França, nas reuniões na terça (15) e na quarta-feira (16). Especialistas em relações internacionais consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo esperam uma atuação discreta do chanceler brasileiro.
Com a troca de governo é esperado um retorno do Brasil às relações multilaterais, afirma Roberto Dumas, estrategista-chefe do Voiter, com o país apresentando ao mundo uma aguardada nova agenda ambiental. “O Brasil voltou ao cenário internacional. Não significa que é um protagonista, mas que agora tem muito mais a dizer, principalmente em relação ao meio ambiente.”
O G20 na Indonésia
Os últimos encontros do G20 terminaram sem um documento final assinado por todos os membros do grupo, e nada garante que haverá consenso na redação de um comunicado formal no evento desta semana, na Indonésia, devido às divergências entre as maiores potências do G20 em torno da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O presidente russo, Vladimir Putin, enviará seu ministro de Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e conta com o apoio da China e a neutralidade de países emergentes como Índia, África do Sul e o próprio Brasil. Caberá ao chanceler russo a missão de frear a confecção de um documento que represente uma condenação categórica do grupo à Ucrânia.
Agenda ambiental e econômica
Especialistas em relações internacionais veem espaço para avanços na agenda ambiental, com os compromissos assumidos na conferência do clima da ONU ecoando nas reuniões do G20. Também há chance de maior acordo entre os países em torno da recuperação econômica, do combate à inflação, da reestruturação de cadeias produtivas e dos acordos comerciais.
“Por outro lado, é improvável que o tema mais relevante — a guerra na Ucrânia — seja tratado a partir de algum tipo de consenso”, afirma Vinícius Müller, professor de economia da Eseg (faculdade do grupo Etapa). “Mesmo que haja uma convergência entre França, Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Japão, o mesmo não deve ocorrer com a Índia e a China, que tendem a adotar posições mais cautelosas em relação a qualquer tipo de condenação à Rússia.”
Igor Lucena, economista e doutor em relações internacionais pela Universidade de Lisboa, diz que a perspectiva de a guerra avançar nos próximos dias torna mais difícil um alinhamento entre os membros do G20.
Possíveis caminhos
A segurança alimentar, dado o risco de uma crise de alimentos em 2023; a vulnerabilidade energética da Europa, que busca fontes de energia substitutas ao gás russo; e a digitalização das economias estão entre os assuntos que mais devem pautar as reuniões entre chefes de Estado. Há expectativa de que China e União Europeia defendam o fortalecimento de acordos globais de comércio.
Preocupações com a instabilidade na geopolítica também podem estimular debates envolvendo a entrada da Suécia e da Finlândia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) — a aliança militar ocidental que se opõe à Rússia no leste europeu —, bem como as tensões entre China e Taiwan.
Em um esforço para estreitar as relações, os presidentes dos EUA, Joe Biden, e da China, Xi Jinping, terão uma reunião bilateral na segunda-feira (14), véspera da cúpula do G20. Será o primeiro encontro presencial entre os dois líderes desde que Biden assumiu o cargo.