‘Estou muito confiante’, diz Bruno Covas após descoberta de câncer; veja entrevista completa

O prefeito de São Paulo falou pela primeira vez sobre o câncer que descobriu há pouco mais de uma semana. Ele já passou por sessão de quimioterapia e está despachando do hospital.

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O impacto de um diagnóstico e o começo de um tratamento que vai exigir todas as forças de um jovem político. A luta de Bruno Covas pela vida. O prefeito de São Paulo falou pela primeira vez ao Fantástico depois da descoberta de um câncer.

Veja a íntegra da entrevista do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, ao Fantástico:

Bruno Covas, prefeito de São Paulo: Tudo bom?

Giuliana Girardi, repórter: Oi, tudo bom prefeito? Como tá se sentindo?

Bruno Covas: Tudo bem, tudo ótimo.

Repórter: O Sr. está aqui há quase duas semanas, né?

Bruno Covas: Duas semanas daqui a pouco. Cheguei quarta-feira passada.

Repórter: Tô vendo que o Sr. está com uma meia de compressão.

Bruno Covas: A meia por conta da trombose, pra circulação, mas tô ótimo. Foi assim, uma avalanche de notícias. Tava sentindo uma dor no pé, achei que era, tinha exagerado na academia, tinha pisado errado, enfim. Na hora que eu chego lá, diagnosticaram com uma erisipela, infecção. Me deram medicamento pra erisipela, antibiótico. Três dias depois, piorou.

David Uip, infectologista: Na verdade, o que piorou foi o aparecimento de uma trombose venosa profunda na perna direita.

Trombose é a formação de coágulos pelo corpo. Esses coágulos, que estavam na perna direita foram também para os dois pulmões de Bruno Covas – provocando uma embolia.

“Em três, quatro dias, que eu comecei a me tratar de uma infecção e descobri que eu estava com câncer. É um soco na cara, é um carro a 200 por hora que bate na parede. Você fica: ‘que que aconteceu, como assim?’. Eu, com 39 anos de idade, prefeito da maior cidade, de São Paulo, tô aqui enfrentando um câncer”, diz Bruno Covas.

“Nós sabemos que a trombose especialmente no indivíduo jovem, que não tem outro fator de risco. O Bruno está magro. Está bem nutrido. Não viajou. No indivíduo com esse perfil, obrigatoriamente você investiga uma doença associada. No caso, nós descobrimos esse tumor no trato digestivo”, explica o infectologista David Uip.

15% a 20% de pacientes com trombose que não tem fatores de risco, são diagnosticados com câncer, segundo a Sociedade Brasileira de Angiologia. No caso de Bruno Covas, as células de tumor também se espalharam. É a chamada metástase. Ele tem uma lesão no fígado e nos gânglios linfáticos.

Giuliana Girardi, repórter: As pessoas pensam metástase como sentença de morte. Muitas vezes usam essa frase até…

David Uip, infectologista: Mas não é. A vida mudou. Nós estamos nisso há muitos anos. Então a cada dia tem uma novidade, a cada dia temos uma nova pesquisa.

Repórter: Quando te comunicaram que o Sr. estava com câncer, qual foi o primeiro pensamento da tua cabeça?

Bruno Covas: Meu filho. Não tem como pensar na família nessa hora.

Repórter: O que o Sr. pensou exatamente?

Bruno Covas: Eu pensei que como a gente fica 24 horas trabalhando, fazendo política, que eu não podia deixar de vencer essa, porque eu ainda tenho muito tempo pra passar ao lado dele. Quero de novo levar meu filho pra ver um jogo do Santos. É o que ele mais gosta de fazer e se é o que ele mais gosta de fazer, é o que eu mais gosto de fazer também. O maior medo é claro, é não vencer, o maior medo é a doença ganhar essa. Mas eu tô muito confiante. E graças a Deus, tive uma boa reação a primeira sessão de quimioterapia. Ela fica ligada aqui, eu recebi durante 30 horas, começou segunda às 8 da manhã e foi até terça 13h. O que tinha era a opção, ou faz um tratamento mais agressivo, com mais efeito colateral, ou um tratamento menos agressivo. Eu falei: ‘não, eu quero o mais agressivo, eu quero o mais forte de todos’.

Repórter: Como ele tem reagido?

Roberto Kalil Filho, cardiologista: Muito bem, muito bem. O estado geral está ótimo e principalmente o otimismo do prefeito é uma coisa que chama atenção. Claro que é um tumor, claro que é um tumor maligno e no início de tratamento, mas veja ele tem reagido muito bem.

Repórter: Essa quimioterapia ele começou agora, mas terá que fazer outras sessões?

David Uip, infectologista: Ele fará novas sessões a cada duas semanas. E no término da terceira ele será avaliado por imagens. Ele emagreceu antes da doença por uma decisão pessoal. Ele está magro, cuidado, bem nutrido. Isso vai favorecer muito no tratamento que ele enfrentará daqui pra frente.

Bruno Covas mudou radicalmente o estilo de vida em 2016 – dois anos antes de assumir a prefeitura de São Paulo.

Bruno Covas: Eu pesava quando eu comecei a dieta, 106.

Repórter: E agora?

Bruno Covas: Agora eu fico ali entre 88, 86, variando. Cinco vezes por semana eu vou pra academia.

Repórter: Se a gente for comparar uma foto do Sr. de três anos atrás, com uma foto de agora, parece que a gente tá vendo…

Bruno Covas: Duas pessoas diferentes. É como se eu tivesse me preparando pra nesse momento enfrentar esse desafio.

Um desafio que ele viu o avô enfrentar. Mário Covas, governador de São Paulo, também teve câncer, mas em outra região – na bexiga.

Bruno Covas: Eu tinha 18 anos, quando ele teve a primeira manifestação do câncer, 20 quando ele faleceu, e nesse período eu morava com ele.

“Mas como é que posso reclamar disso se Deus me deu a vida? Quem ganha o principal, como pode discutir o acessório?”, disse Mário Covas em uma entrevista coletiva no dia 1º de dezembro de 2000.

“Eu tive a felicidade de conviver muito perto do Mário Covas e hoje eu tenho a oportunidade de estar próximo do Bruno Covas em um momento que sei que posso ajudá-lo. De uma forma muito corajosa ele me afirmou num primeiro momento: ‘nós vamos vencer esse tumor’. Quando nos demos a notícia pro Mário Covas. Mário Covas obviamente sentiu a notícia, mas imediatamente ele se portou contra o tumor e foi a luta”, relembra o infectologista David Uip.

Repórter: Posturas parecidas, você notou?

David Uip: Neto e avô, né?

Bruno Covas: Eu me lembro muito desse período que ele enfrentou a doença e deixou essa lição. Não cabe nesse momento falar ou não falar, a gente tem obrigação de contar pras pessoas. Eu sou responsável por 12 milhões de pessoas e elas tem o direito de saber a condição que está o prefeito.

Repórter: Outra questão em relação ao avô do Sr. Ele também não se afastou, né? Houve uma pressão da família pra ele saísse?

Bruno Covas: Houve a partir do momento que não tinha mais condição dele tocar as duas coisas. No momento em que ele passou a esquecer o nome, a partir do momento que a doença apareceu no cérebro. Eu escolho ficar porque eu tenho condição de ficar, se não tivesse eu teria obrigação de me licenciar. Não tenho, claro, a energia pra trabalhar, 14, 15 horas, por dia como eu trabalhava, mas dá pra trabalhar umas 8, 9.

Repórter: O senhor está recebendo vários secretários, está trabalhando daqui de dentro né?

Bruno Covas: Trabalhando daqui de dentro. Adaptei aqui pra poder trabalhar.

Repórter: E sempre tem vindo muita gente aqui?

Bruno Covas: Tem. Não fiquei sozinho aqui um momento. A quantidade de mensagens que eu recebo é uma coisa impressionante.

A entrevista já tinha acabado. A equipe do Fantástico se despedia do prefeito. Quando…

Bruno Covas: E aí filho , tudo bom? Dá um beijo. Muita gente fala ‘ah, manda abraço pro seu pai’.

Repórter: Verdade? Na tua escola?

Filho de Bruno Covas: Fala ‘pode contar comigo”, essas coisas.

Repórter: Eu perguntei qual vai ser a primeira coisa que ele vai fazer quando sair daqui. Sabe o que que ele falou?

Filho de Bruno Covas: Jogo dos Santos ou ir no cinema.

Bruno Covas: Muito animado, vou sair dessa, vou vencer mais essa.

Ouça o podcast do Fantástico!

 

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Fonte globo
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