Mulheres cientistas são menos convidadas a participarem de estudos médicos
Disparidade é ainda maior para as mulheres mais velhas, de acordo com estudo feito pela Universidade Harvard
Pesquisadores de Harvard revelaram que cientistas do sexo feminino têm 21% menos chances de comentar em revistas médicas do que colegas do mesmo nível de conhecimento científico. Eles descobriram que a disparidade era maior para as mulheres que progrediram em suas carreiras, chegando a 40% em casos de autoras mais velhas.
Publicado no JAMA Network Open, o estudo analisou o gênero dos cientistas que foram convidados para fazer comentários em 2.459 revistas médicas entre 2013 e 2017 — e compararam seus conhecimentos científicos. Foram 43.235 casos em que apenas 23% dos comentários foram escritos por mulheres.
A autora principal do estudo é Emma Thomas, estudante de doutorado na Escola de Saúde Pública de Harvard, nos Estados Unidos. Ela disse que estava “genuinamente surpresa” com o tamanho da diferença de gênero encontrada. “Como uma jovem cientista, eu esperava que pudéssemos alcançar a paridade de gênero na autoria de artigos convidados naturalmente, à medida que mais mulheres avançassem para o topo da linha científica”, afirma em comunicado. “Nossos resultados sugerem que pode não ser o caso.”
Segundo a estudante, essa falta de diversidade de perspectivas pode dificultar o progresso da pesquisa em saúde, uma vez que a diversidade de pensamento é um fator-chave da inovação. “Essas descobertas desafiam a suposição comum de que existem disparidades de gênero na autoria de artigos científicos de prestígio porque há menos mulheres com experiência e conhecimento suficientes para escrever esses artigos”, afirma.
A situação é grave porque, nas revistas médicas, a publicação de um comentário convidado é um reconhecimento da experiência e pode impulsionar a carreira do cientista. Segundo os pesquisadores, uma solução para diversificar os autores seria utilizar softwares de mineração de texto para identificar pesquisadoras com experiência relevante.
“Nosso estudo fornece prova de conceito para essa proposta, porque usamos o processamento de linguagem natural para identificar milhares de mulheres com experiência relevante em tópicos de comentários anteriores e demonstramos que elas estavam sub-representadas como autoras de comentários em comparação com seus pares do sexo masculino”, dizem os pesquisadores.