Milton Gonçalves virou referência defendendo o papel de protagonismo para artistas negros
Desde o início da carreira, ator atuou na luta contra o racismo e o preconceito, abriu portas e mostrou caminhos para as gerações que vieram depois.
Pioneiro no teatro e na televisão, Milton Gonçalves virou e é referência por abrir portas e defender o protagonismo para várias gerações de artistas negros.
Um ator que nunca saiu de cena. No palco, nos estúdios da TV, nos sets de filmagem de cinema. Milton Gonçalves interpretou dezenas de personagens. Um dos principais papéis foi além das telas: o de pioneiro, de exemplo. Um ator que desde o início da carreira atuou na luta contra o racismo e o preconceito, abriu portas, mostrou caminhos para as gerações que vieram depois.
“Milton, pioneiro. Pioneiro das artes, pioneiro como ator, diretor, homem de palavras firmes. Muitas portas abertas. Uma história de muita conquista, de muita luta, mas de muita conquista. Uma estrela, um farol para a gente sempre admirar e se reconhecer”, diz a atriz Camila Pitanga.
“Seu Milton foi para nós, atores negros, uma grande porta aberta para a gente entender o protagonismo negro dentro da teledramaturgia, do cinema e do teatro. Ele inaugura esse protagonismo negro com resistência, com ética, buscando sempre passar o bastão para outros atores que estavam chegando”, afirma o ator Luís Miranda.
Nos anos 1970, Milton Gonçalves tomou atitude que é lembrada hoje como uma referência: fez questão de interpretar personagens que fugissem dos papéis normalmente oferecidos a atores negros na época. Dizia que queria ser inspiração na tela para que crianças negras acreditassem: elas podem chegar aonde quiserem. E foi inspiração também para uma legião de artistas.
“Com certeza vai continuar na nossa memória e vai nos inspirar a continuar na luta pela arte no Brasil, mas também uma luta que ele carregava bem fortemente que é a luta pelo povo preto, para gente avançar e a gente conseguir o mínimo de igualdade nesse país”, diz a atriz Luana Xavier.
“A gente não perdeu o Milton. A gente ganhou tudo o que o Milton deixou para a gente aqui. E ele deixou muitas coisas. Eu fiz filha do Milton muitas vezes: na televisão, no cinema, no teatro… Eu chego a escutar as frases dele, os ensinamentos”, afirma a atriz Taís Araújo.
“Milton Gonçalves nos deixou. A cultura perde um excelente ator e o Brasil um grande homem. Descanse em paz, meu amigo”, diz a atriz Zezé Motta.
“Aquilo que ele dirigiu, o cinema e o teatro que ele também brilhantemente fez, isso nos enche de orgulho e a gente só tem a agradecer”, afirma o ator Edson Celulari.
Ator e diretor, ele esteve na frente ou atrás das câmeras nos capítulos mais importantes da TV brasileira e contracenou com várias gerações de atores.
“É uma figura incrível. Ele chegava para gravar com uma alegria, uma vivacidade, fazia questão de passar o texto, e às vezes eu ficava em cena assim contracenando com ele… Sabe quando você está observando um gênio? Ficava nervoso às vezes de contracenar com ele”, conta o ator Marcelo Serrado.
“Milton era um ator da maior responsabilidade. Vibrante, vigoroso, brasileiro, corajoso”, diz o ator Tony Ramos.
Do teatro de Arena, um dos mais importantes grupos teatrais dos anos 1950 e 1960, onde começou a carreira, surgiram amizades para vida.
“Grandes homenagens, Milton, você já se prestou em vida, nos dando grandes espetáculos como ator e como diretor. Vamos sentir a sua falta, mas você cumpriu a missão da mais bela que é a profissão de ator e de diretor. A arte em primeiro lugar”, afirma o ator Antonio Pitanga.
Fica o legado de um mestre, a reverência a um símbolo de luta, de resistência, e a saudade de todos que compartilharam essa história na tela e na vida.
“Eu aproveito agora para te saudar, querido irmão, querido amigo. Tantos anos na televisão, alguns anos no Arena, sua gana, sua raça, sua maneira de lutar, grandiosa, maior. É o que eu saúdo agora, nesse momento que você se foi, meu amigo. Milton Gonçalves, descanse em paz, irmão”, diz o ator Lima Duarte.
O velório será aberto ao público nesta terça-feira (31), pela manhã, no Theatro Municipal no Rio de Janeiro.