Dólar: juro deve manter moeda abaixo de R$ 5 no curto prazo, diz Perfeito
Efeito pode perder força ao longo do ano, com aperto monetário nos Estados Unidos e fim do ciclo de alta da Selic, diz economista-chefe da Necton
A repentina valorização do dólar tem desafiado as projeções de quedas adicionais da moeda. A divisa americana, que era cotada a R$ 4,60 antes do feriado de Tiradentes, chegou a ser negociada a R$ 5 nesta terça-feira, 26, antes de devolver parte da valorização recente.
André Perfeito, economista-chefe da Necton, explica que alguns fatores ajudaram a impulsionar o preço da moeda desde a última semana. Entre eles, a queda de preços de commodities e a aversão global ao risco, com preocupações de alta de juros mais intensas nos Estados Unidos e de novas restrições para combater a covid-19 na China.
“Outro motivo é a dinâmica institucional. A graça presidencial ao deputado Daniel Silveira [condenado pelo STF] e o embate do [ministro do STF] Luís Roberto Barroso com militares não são brincadeira”, disse.
Apesar da série de motivos que tem impulsionado a moeda americana nos últimos dias, Perfeito acredita que um fator , especialmente, deve conter a disparada do dólar: o diferencial de juros com os Estados Unidos. A Selic, atualmente em 11,75%, deve subir para 13,25%, segundo o boletim Focus desta terça, enquanto a taxa básica de juros americana está no intervalo entre 0,25% e 0,50%.
Esse efeito, disse o economista, deve manter o dólar abaixo de R$ 5 no curto prazo. A expectativa de Perfeito, porém, é de que essa força seja mitigada ao longo do ano, com a diminuição da diferença entre o juro brasileiro e o americano.
“Ninguém espera que a Selic suba acima de 13,25%, enquanto, nos Estados Unidos, o juro [atualmente entre 0,25% e 0,50%] pode subir para até 4%.”
A esperada menor diferenciação dos juros, segundo Perfeito, tem sustentado as projeções de mercado para o dólar mais forte. Mesmo após as quedas das semanas anteriores, o consenso do mercado ainda é de que o dólar se mantenha a R$ 5 ou acima, pelo menos, até 2025.
Nesse momento de maior volatilidade, contou Perfeito, é “fundamental” mapear os principais fatores que movimentam a moeda. Um deles, as eleições presidenciais, ainda pode provocar grande volatilidade no mercado local, disse.
Até lá, o economista espera que o câmbio brasileiro seja ditado por três grandes vetores: taxa de juros brasileira, taxa de juros americana e preços de commodities. Este último, disse, tem sofrido com a percepção de que novas restrições na China reduza o nível do consumo global de produtos básicos. “Mas pode ser que o mercado passe a considerar este apenas um efeito marginal para a demanda de commodities.”
O mercado está tão volátil, de acordo com Perfeito, que “o que agora é notícia, daqui a uma hora pode não ser mais”.