Moro sai, Doria fica. Para onde vai a terceira via nas eleições?
Home Brasil Moro sai, Doria fica. Para onde vai a terceira via nas eleições? Diante da polarização entre Lula e Bolsonaro, partidos tentam se encaixar nas expectativas do eleitorado, mas, sem um nome único, acabam se dividindo com pequenas porcentagens cada
Não é de hoje que as sondagens mostram uma polarização entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Palácio do Planalto. O primeiro tem 40% das intenções de voto, de acordo com a pesquisa EXAME/IDEIA mais recente, divulgada em 24 de março. O segundo, 29%. Entre os dois, no entanto, há 31% que não sabem, não gostam de nenhuma das opções ou votarão em algum dos candidatos da chamada terceira via.
Partidos como MDB, PSDB, PDT, União Brasil e Novo tentam se encaixar nas expectativas dessa parcela do eleitorado, mas, sem um nome único, acabam se dividindo com pequenas porcentagens cada. De Ciro Gomes (PDT) a Simone Tebet (MDB), nenhum candidato de terceira via consegue hoje chegar aos dois dígitos nas pesquisas, embora eles contem com a alta rejeição aos nomes de Lula e Bolsonaro.
Nos últimos dias, houve mudanças importantes nesse tabuleiro. Na quinta-feira, 31, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, que seria candidato à Presidência pelo Podemos, migrou para o União Brasil e disse que desistiu de tentar ser presidente “neste momento”, depois de quase cinco meses estagnado com não mais que 10% das intenções de voto.
No dia da filiação de Moro ao União Brasil, o secretário-geral do partido, ACM Neto, divulgou uma nota na qual deixa claro que o ingresso dele à legenda “não pode se dar na condição de pré-candidato à Presidência da República”. O documento é assinado por outros nomes importantes do partido, como Efraim Filho, José Agripino Maia, Ronaldo Caiado e Davi Alcolumbre.
Um dia depois do anúncio de que abriria mão da candidatura à Presidência, no entanto, Moro afirmou que “não desistiu de nada” e negou que tentará uma vaga na Câmara dos Deputados, declarações que levaram uma ala do União Brasil a ameaçar pedir a impugnação da filiação do ex-juiz. “Sem experiência política, Moro está completamente perdido”, avalia o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa. “Ele é um ex-político em atividade, que nunca chegou a entrar em campo”, definiu.
No pronunciamento feito na sexta-feira, o ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro defendeu a união do “centro democrático” contra os “extremos” e disse que o nome que unifica esse polo político é o de Luciano Bivar, presidente do União Brasil. Mas está claro que, pelo partido, Moro não será candidato à Presidência. A legenda tem negociado com MDB e PSDB a possibilidade de uma candidatura única, mas o ex-juiz não é citado nessas conversas como possível cabeça de chapa.
A situação do PSDB também impacta na definição de um nome para a terceira via. Depois de também ensaiar uma desistência, João Doria (PSDB) confirmou, na quinta-feira, que será candidato à Presidência e anunciou a saída do governo paulista. Ele conta, porém, com apenas 1% das intenções de voto, o que leva o PSDB a entrar na mesa de discussão com outros partidos pela criação de uma chapa única.
As conversas não avançam na velocidade esperada – faltam seis meses para as eleições e, até agora, nada foi decidido. Para chegar a um nome viável com o PSDB, é preciso resolver o drama interno do partido, que continua rachado. Na quinta-feira, o presidente da legenda, Bruno Araújo, publicou uma carta na qual reforça que Doria é o candidato do PSDB, mas isso não significa que não há divergências e que não possa haver mudanças até agosto, quando as candidaturas serão registradas.
Nada garante que, no caso de uma candidatura única com outras siglas, Doria mantenha a cabeça de chapa. Eduardo Leite, que renunciou ao governo do Rio Grande do Sul sem indicar a que cargo vai concorrer, continua sendo uma ameaça aos planos do paulista. “Com a carta de Bruno Araújo, o custo político de trocar o nome aumenta, mas não quer dizer que isso não possa acontecer”, diz o gerente de análise política e econômica da consultoria Prospectiva, Adriano Laureno.
Na intenção de votos, não há grandes diferenças entre Doria e Leite. O primeiro conta com 1% e o segundo, com 2%, atualmente. O que pode diferenciar os dois é o potencial de crescimento nas pesquisas, já que o ex-governador paulista, mais conhecido pelo eleitorado, tem uma rejeição de 18%, enquanto 11% dizem que não votariam em Leite de jeito nenhum.