Indicado à Petrobras, Pires critica falta de previsibilidade e políticas públicas para setor
Em entrevista ao CNN Brasil Business antes da indicação para comandar estatal, economista defendeu "imposto ambiental" sobre gasolina e diesel de modo a garantir a competitividade do etanol
O economista Adriano Pires, indicado para assumir a presidência da Petrobras nesta segunda-feira (28), diz que faltam previsibilidade e políticas públicas estáveis para investimentos no setor de petróleo e seu derivados.
Em entrevista ao CNN Brasil Business, antes da nomeação para a estatal, ele falou sobre os desafios impostos pela guerra da Ucrânia na busca de alternativas para a gasolina e o diesel, cujos preços dispararam com o conflito.
Segundo ele, o Brasil tem várias alternativas, mas a principal dificuldade para o aumento de produção e adesão a essas alternativas, é a “falta de segurança regulatória e jurídica”. É o caso do etanol, do GNV para distâncias menores, do biodiesel (hoje gerado principalmente pelos óleos de palma e soja), diesel verde e do GNL para caminhões e trens.
Pires avalia que as políticas no Brasil são muito cíclicas, mudando a cada governo. “Já teve governo incentivando biodiesel e etanol, aí veio pré-sal e o foco foi em gasolina. Agora reduziram a mistura do biodiesel. Falta uma previsibilidade”.
No caso do etanol, por exemplo, a decisão de usar a cana para produzir o combustível ou açúcar precisa ser feita com quatro anos de antecedência. Se não há garantia que o uso para o etanol vai compensar financeiramente, o açúcar acaba sendo prioridade.
Pires, que deve assumir a Petrobras após assembleia de acionistas em 13 de abril, considera que há potencial para que os biocombustíveis ganhem espaço, mas que isso demanda políticas públicas. “Se não o risco de ser pintado como a solução e depois quando o petróleo barateia todo mundo esquece deles”.
Imposto ambiental sobre gasolina e diesel
Pires, que é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), considera que o Brasil é um “país privilegiado” em alternativas de energia, e que não faz sentido optar por carros elétricos tendo o etanol, que em geral é mais limpo e não demandaria um investimento em infraestrutura para ser expandido.
Ele também afirma que seria interessante para o Brasil pensar em um “imposto ambiental” sobre a gasolina e o diesel de modo a garantir a competitividade financeira do etanol. Segundo ele, “o etanol traz benefícios em termo de emprego e independência energética, com um aspecto ambiental imbatível”.
Não existe energia ruim, cada uma tem um atributo, e precisa colocar isso no preço
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)
O economista avalia que o Brasil “precisa saber o que quer na vida. A transição energética com a guerra está sendo discutida. Havia uma certa pressa em demonizar fósseis, a guerra mostrou que não é bem assim, e que transição é em décadas, não anos”.
“A transição vai continuar, mas mais lenta. O Brasil tem dois grandes diferenciais, a potência no agronegócio e energética. Isso já nos faz hoje ter uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, e no transporte também podemos ser”, diz.