“Prévia do PIB” do Banco Central indica começo de ano fraco para economia brasileira e deve refletir em indicadores futuros
IBC-Br de janeiro caiu mais que o previsto e deixa carregamento estatístico negativo para o indicador do primeiro trimestre de 2022
A queda maior que a esperada do índice de atividade econômica do Banco Central, o IBC-Br, revelou um começo de ano devagar para a economia brasileira e trouxe preocupações sobre o desempenho dos próximos indicadores. O indicador recuou 0,99% em janeiro, na comparação com dezembro, e ficou abaixo do nível pré-pandemia.
Rodolfo Margato, economista da XP, diz que o IBC-Br de janeiro reforça a avaliação de que o ritmo de atividade doméstica permanece fraco, mas o dado deve ser avaliado com cautela, sobretudo em relação ao carrego estatístico “muito ruim” deixado para o indicador do primeiro trimestre de 2022. Esse efeito aponta para uma queda de 0,6% em relação ao quarto trimestre de 2021.
Contudo, a expectativa é de recuperação para o índice de atividade do BC em fevereiro. “Nossa projeção para o IBC-Br de fevereiro indica crescimento de 0,4% em comparação a janeiro, após ajusta sazonal”, afirma Margato. O cálculo da XP embute uma previsão de alta de 0,9% na produção industrial em fevereiro, de 0,6% nas vendas do varejo e de 0,5% nas receitas do setor de serviços.
A XP calcula que o PIB do primeiro trimestre de 2022 deve crescer 0,5% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Porém, projeta taxa de variação nula para o PIB do ano como um todo. “Mas reconhecemos um ligeiro viés altista para tal expectativa, tendo em vista o carrego estatístico um pouco mais alto, deixado pelo PIB de 2021[+4,6%])”, diz a análise de Margato. Esse viés também é reforçado pela alta das commodities, que beneficia setores exportadores, e medidas de estímulo fiscal que podem sustentar a demanda doméstica no curto prazo.
“Isto posto, as incertezas crescentes no cenário macro global (guerra da Ucrânia e risco de estagflação) combinadas ao aperto das condições monetárias e trajetória cadente dos salários reais explicam nossa postura cautelosa em relação às perspectivas de crescimento econômico este ano”, conclui o economista da XP.
O Goldman Sachs também prevê a renovação de estímulos fiscais, que, em conjunto com progressos em relação à Covid, ajudem na recuperação de alguns dos segmentos de serviços nos próximos meses.
“No entanto, inflação elevada, juros subindo (apertando as condições de financiamentos domésticos), altos níveis de endividamento das famílias, ruído político persistente, confiança fraca do consumidor e empresas devem gerar ventos contrários à atividade no curto prazo”, diz o relatório do economista Alberto Ramos.
Para o Bank of America, o índice mostra que 2022 começou devagar e reforça o cenário de desaceleração de outros indicadores. O banco lembra que a produção industrial de janeiro sofreu uma queda mensal de 2,4% em janeiro, praticamente apagando a alta de 2,9% que registrou em janeiro, com novos problemas na cadeia de suprimentos. O setor de serviços também recuou no começo do ano, em 0,1% frente a dezembro, afetado pelo aumento de casos da variante Ômicron no período. Por fim, apenas o varejo surpreendeu positivamente, com um avanço mensal de 0,8% em janeiro.
“A atividade econômica de fevereiro deve ser beneficiada pela dispersão da onda da Ômicron mas, por outro lado, fatores negativos devem ser substanciais. Em um primeiro momento, a instabilidade geopolítica deve contribuir com disrupções na cadeia global de suprimentos, que afetará, sobretudo, a produção industrial”, diz a análise do banco, assinada pelo estrategista David Beker. O BofA destaca também a visão mais pessimista do Banco Central sobre a inflação e a perspectiva de um ciclo de aperto mais longo.
“Nossa previsão preliminar para o IBC-Br de fevereiro é de outra queda, de 0,1%, na comparação com janeiro. Para o primeiro trimestre de 2022, continuamos a ver o IBC-Br positivo em 0,2%, na comparação com o trimestre anterior”, diz o texto de Beker.
O BofA ressalta que os riscos permanecem altos para o restante de 2022. Ainda que o Brasil consiga ganhar algum poder de barganha no comércio exterior com o conflito na Ucrânia, haverá aumento de ruídos políticos, com a proximidade das eleições, em meio a ciclo de aperto monetário. “O PIB brasileiro deve crescer 0,5% em 2022”, conclui o relatório.