“Governo dizer que fazer mineração em terras indígenas vai resolver nosso problema dos fertilizantes, acho que é um pouco puxado”, diz CFO da Suzano
Marcelo Bacci participou de live do InfoMoney e falou sobre créditos de carbono, ESG, dividendos, investimentos, exportações, inflação e aumento de custo
O esforço do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) para aprovar o PL 191, que trata do garimpo em terras indígenas, é “um pouco puxado”, na visão do CFO da Suzano (SUZB3), Marcelo Bacci. A justificativa para o projeto de lei seria a dependência brasileira de importação de fertilizantes, quadro agravado recentemente pela guerra entre Ucrânia e Rússia, um dos principais produtores do insumo no mundo.
Em live do InfoMoney, o diretor da fabricante de papel e celulose reconheceu a necessidade de produzir mais fertilizantes no país para reduzir nossa necessidade de importação do insumo, mas afirmou que há minerais que podem ser extraídos também em outras terras, “não só em terra indígena”. A Suzano utiliza fertilizantes no plantio de eucalipto. “A gente não importa diretamente fertilizantes da Rússia ou da Ucrânia, mas a gente sabe que alguns dos nossos fornecedores importam de lá.”
A live faz parte do projeto Por Dentro dos Resultados, em que o InfoMoney entrevista CEOs e diretores de importantes companhias de capital aberto, no Brasil ou no exterior. Eles falam sobre o balanço do quarto trimestre de 2021 e sobre perspectivas. Para acompanhar todas as entrevistas da série, se inscreva no canal do InfoMoney no YouTube.
“O Brasil tem potencial de produzir mais fertilizantes do que produz hoje e reduzir a dependência de importação. Se eu não me engano, 85% do que é utilizado no Brasil hoje de fertilizante é importado. Isso poderia ser menor ao longo do tempo com mais investimento. Fertilizante parte de mineração. Você tem que fazer mineração para obter os componentes dos fertilizantes, depois você faz as misturas e as formulações. Então a gente importa muita coisa que poderia ser minerada aqui no Brasil”, disse Bacci.
“Agora daí a dizer que fazer a mineração nas terras indígenas vai resolver nosso problema, eu acho que é um pouco puxado. O governo coloca às vezes de uma maneira que tem que fazer mineração nas terras indígenas para resolver o problema de fertilizantes. Não é só em terra indígena que tem esses minerais. Nós não temos ainda uma posição oficial dentro da empresa sobre se a gente apoia ou não apoia esse projeto. A gente não conhece ele a fundo. Ele pode ser interessante, dependendo das regras que forem criadas, eu não conheço detalhes. Mas a solução do problema dos fertilizantes no Brasil não depende só dessa questão de terra indígena”, completou o CFO.
O executivo falou ainda sobre projetos relacionados a créditos de carbono. Segundo ele, a Suzano tem auxiliado o Governo Federal em relação a essa iniciativa. A empresa participou da COP-26, onde debateu o assunto. “Pelo porte que temos, o desenvolvimento de um mercado global de carbono, de uma forma que possibilite compensar a emissão de um país com créditos de carbono de outro, pode proporcionar muito mais liquidez para esses ativos.” Bacci disse ainda que a Suzano está em várias discussões com eventuais compradores sobre a venda de créditos, mas nada ainda está em vias de conclusão.
A pauta ESG ganhou espaço e relevância na empresa, que, segundo o CFO, aderiu a ações de redução de temperatura e emissão de carbono e observou avanços na questão racial e de gênero dentro da companhia. Parte dessa estratégia é o investimento em startups que tenham mulheres em papéis de liderança. A partir do aporte de R$ 5 milhões nessa iniciativa, há a possibilidade de surgirem soluções que a empresa possa implementar junto a seus clientes. “De momento, não temos pretensão de realizar M&A, mas estamos atentos a novidades que nos ajudem a criar inovações”, disse.
Exportações e inflação
De acordo com Bacci, a guerra no leste europeu não tem impacto negativo no negócio da Suzano. A companhia exporta cerca de 80% de sua produção, mas muito pouco vai para a zona de conflito. O que impacta a companhia relacionado a isso são as restrições de movimentações de cargas e comércio geradas por sanções contra a Rússia, o que acaba restringindo a oferta global de celulose, jogando os preços da matéria-prima para cima. “Outras commodities passam por isso também, como o petróleo. Os preços da celulose não tiveram uma alta tão expressiva, mas subiram.”
Além disso, a guerra também causa uma inflação generalizada, um problema que tem sido enfrentado por todos os países do mundo e que acaba elevando os custos da Suzano. “Nosso custo sobe, mas o custo dos nossos concorrentes também sobe. E, como somos a produtora de celulose de menor custo no mundo, acabamos mantendo nossa vantagem”, explicou o CFO da companhia. A Suzano também se beneficia da valorização do dólar, já que a maior parte de sua receita é na moeda americana. “Por isso temos uma política de hedge eficiente.”
Bacci falou ainda sobre remuneração ao acionista e sobre o projeto de uma nova fábrica no Brasil, parte de seu plano de expansão, que deve adicionar 2,5 milhões de toneladas à produção da companhia quando estiver em pleno funcionamento. “Nosso capex em 2021 foi de cerca de R$ 6,3 bilhões e para 2022 deve chegar a R$ 13,4 bilhões. Um dos maiores capex do Brasil”, enfatizou.
O executivo também comentou sobre a redução da alavancagem da companhia, a oscilação negativa do lucro no quarto trimestre de 2021 frente ao mesmo período do ano anterior, o crescimento consistente da geração de caixa da Suzano trimestre após trimestre e sobre a demanda de clientes no mercado asiático. Assista à live completa acima, ou clique aqui.