Professora de Cristalândia utiliza a educação para combater o racismo
No Colégio Estadual de Cristalândia, a professora de história Elizabeth Aires Leite se destaca com o projeto Batuque, que em 2019 completa 16 anos, sendo um elo de desenvolvimento de estratégias para combater o racismo. A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie defende que a “educação é a arma mais eficaz na forma de combate aos preconceitos”. E é utilizando o conhecimento que a professora Elizabeth trabalha novos conceitos, a história e a cultura dos povos negros e, como consequência, ajuda a construir uma sociedade mais consciente e livre.
O projeto Batuque evidencia o valor da diversidade humana, destaca a igualdade racial e sua contribuição para a história do povo brasileiro. O projeto tem início em fevereiro com vários estudos sobre a cultura negra e, ao longo do ano, são realizadas oficinas de bonecas negras, de máscaras e de percussão, além de palestras e debates sobre o tema. Neste ano, a escola promoveu uma palestra sobre cultura africana com a participação do acadêmico da Universidade Federal do Tocantins (UFT) Justino Cornélio, natural de Guiné-Bissau.
A diretora da escola, Euzilene Oliveira Lima, ressaltou o trabalho da professora Elizabeth. “Destaco dois pontos importantes, a valorização da cultura afro e a promoção da autoestima dos estudantes. Acreditamos que alunos com autoestima elevada são mais felizes e têm maior probabilidade de alcançar sucesso na vida”, frisou.
A diretora também comentou sobre as atividades lúdicas. “São aulas diferenciadas, criativas, responsáveis por tornar a escola mais leve. Podemos dizer que 90% dos servidores da escola apoiam e colaboram com o projeto Batuque”, contou.
A culminância do projeto acontecerá no dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, por meio do qual se homenageia Zumbi dos Palmares. Neste dia, a escola realiza atividades como feiras de comidas típicas, danças, apresentações teatrais e musicais. O evento é realizado com a participação da comunidade.
Projeto que renova atitudes
A estudante Érica Josefa de Freitas Ferreira, que participa do projeto Batuque, ressaltou a importância da conscientização. “São ações que nos ajudam a conhecer melhor a história e a cultura africana. Nós descobrimos que não vale a pena discriminar ninguém por causa da cor da pele, porque cada um tem sua história, cada um tem sua cultura e cada um tem o seu jeito”, afirmou.
Telma Miranda Aguiar também comentou a sua participação no projeto. “O Batuque entrou na minha vida, antes que eu fizesse parte das reuniões e atividades. O projeto modificou a minha casa, meu modo de pensar e de agir. Você começa a se sensibilizar com certos atos racistas, além de tudo, passa a respeitar outras religiões, culturas e falas afrodescentes”, comentou.
A estudante Laisa Victoria Costa Araújo destacou a mudança da forma de pensar. “É um projeto que nos leva a repensar sobre a vida, nos ajuda a deixar de sermos preconceituosos e racistas e nos faz aceitar as diferenças. O projeto valoriza a cultura africana e afro-brasileira e, por causa disso, muitos que não se aceitavam e outros que praticavam o racismo conseguem repensar mais sobre si e seus atos. O projeto é, sem dúvida, uma das melhores oportunidades que a vida, até aqui, me ofereceu. Tenho mudado minhas atitudes e, principalmente, tenho amado mais o meu próximo, fazendo com que, todos os dias, me coloque no lugar do outro”, comentou Laisa.
Premiações
O projeto Batuque levou o Colégio Estadual de Cristalândia a um grande reconhecimento. Dentre as premiações recebidas estão: Educar para a Igualdade Racial, em 2006, promovido pelo Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT); prêmio Professores do Brasil, em 2011, promovido pelo Ministério da Educação; o Selo de Educação para a Igualdade Racial pela Secretaria Nacional de Políticas e Promoção da Igualdade Racial, em 2011. Em 2015, venceu o edital para Gestão Escolar para a Equidade Juventude Negra, organizado pelo Instituto Unibanco, em parceria com a Fundação Boabá e Universidade Federal de São Carlos.
Ensino obrigatório
O ensino de história e cultura africana é regido pela Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008, que altera a lei nº 9.394, de 20 de novembro de 1996, modificada pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.