As incompreensões sobre o artigo de Haddad na Folha, por Luis Nassif

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Um dos aspectos mais curiosos desses tempos de redes sociais é o chamado conflito de narrativas. Nem me refiro aos embates entre tribos, mas à dificuldade da chamada narrativa universal, ou seja, um mesmo discurso valendo para os diversos público que compõem o caos informacional, dos meios tradicionais e às diversas bolhas da Internet.

Especificamente, refiro-me às críticas que Fernando Haddad tem sofrido em alguns bolsões das redes sociais, por seu artigo de hoje na Folha.

O PT tem dois públicos para atingir. Um, a militância, que se comunica basicamente pelas redes sociais, trabalho feito pela presidente do partido Gleise Hoffman. Outro, o público refratário ao PT, mas essencial para alargar o pacto político contra a selvageria. Esse público se informa basicamente pelos jornais e programas de debates na TV. Sem alargar as alianças, o PT ficará condenado a ser um partido de gueto, especialmente porque não se vive um período democrático, no qual o poder do voto é soberano.

Este é o público que está sendo bombardeado há anos pela desconstrução das políticas públicas da era Lula. A ultradireita – com o auxílio luxuoso da mídia – atribui todos os males do país à herança maldita do PT, colocando no mesmo balaio os erros de Dilma e as políticas públicas que modificaram a face do país, por sua eficácia e inovação.

Separar o joio do trigo é tarefa essencial no atual estágio do jogo político.

No artigo, Haddad contrapõe as principais mudanças institucionais e políticas públicas do governo Lula com as propostas vazias do Pacto para o Futuro dos governos FHC, Temer e Bolsonaro.

Menciona a crise das contas externas em fins de 1998, a imposição do tripé econômico – políticas fiscal, monetária e cambial – e a maneira como cada governo enfrentou o dilema: FHC aumentando impostos, e não conseguindo controlar a inflação; Lula ampliando as reservas cambiais e implantando políticas compensatórias; e Dilma com o afrouxamento fiscal.

Ao admitir os erros do governo Dilma, Haddad cumpre dois objetivos legítimos na polêmica. A primeira, de mostrar isenção. Nenhuma analise séria da crise poderá passar ao largo dos erros cometidos por Dilma. O que Haddad faz é mencioná-los dentro de um contexto maior, de boicote do PSDB, que impediu todas as medidas de ajuste posteriores, para poder acelerar o golpe.

Escorrega ao passar ao largo do maior dos erros de Dilma, o pacote Joaquim Levy, que promoveu um choque de preços, de tarifas e de câmbio e um arrocho fiscal e creditício responsáveis pela queda recorde do PIB naquele ano.

Mas o boicote do PSDB-PMDB levou à tragédia final, o golpe do impeachment, a consolidação de um diagnóstico incorreto sobre a crise brasileira, as políticas econômicas deletérias de Temer-Meirelles, Bolsonaro-Guedes. Finalmente, o desfecho trágico, a destruição da economia pela Lava Jato.

Para o público Folha, e para quem pretende avançar na alianças que permitam ao PT sair do gueto em que foi jogado, é um discurso eficaz. A admissão dos erros de Dilma, por ser analiticamente honesta, fortalece a crítica contra a estratégia atual de enfrentamento da crise. Enfrenta da armadilha maliciosa da direita, de incluir todas as políticas virtuosas do governo Lula, e início do governo Dilma, na conta da crise econômica posterior.

Aborda os erros gerais para enfatizar o erro central, o impeachment e as políticas econômicas pós-impeachment.
Para parte da militância, é traição, por admitir os erros de Dilma. É uma balança complicada, na qual o PT ainda não logrou uma estratégia eficaz para se equilibrar.

A libertação de Lula, e sua volta do jogo público, poderá resolver esses dilemas e acelerar a recomposição do centro democrático, que têm em Haddad e nos governadores do Nordeste os grandes protagonistas.

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Fonte jornalggn
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