Quem inventou a internet? Conheça a história completa da Guerra Fria ao WWW
A invenção da internet é um assunto polêmico que divide opiniões e com pouco consenso. Há quem atribua o feito a Tim Berners-Lee, considerado o “pai da World Wide Web”, mas afirmar isso seria desconsiderar conceitos fundamentais além da rede mundial de computadores. A internet é um conjunto de protocolos diversificados para interligação de pessoas e os websites são apenas uma das pernas de sustentação do ambiente online.
Na verdade, a internet é fruto do trabalho de dezenas de cientistas, programadores e engenheiros, cada qual com suas contribuições tecnológicas agrupadas para pavimentar o caminho conhecido hoje. Para entender melhor a origem é preciso retroceder várias décadas, do começo do século até o período da Segunda Guerra Mundial.
Muitos estudiosos já haviam antecipado a existência de redes mundiais de informação, como Nikola Tesla, que “brincou” com a ideia de um “sistema mundial sem fio” no início dos anos 1900, e pensadores visionários como Paul Otlet e Vannevar Bush, que conceberam sistemas de armazenamento de livros e mídia mecanizados nas décadas de 1930 e 1940.
A internet propriamente dita surgiu da necessidade de comunicação durante o conflito político entre os Estados Unidos e a União Soviética pelo domínio tecnológico (e ideológico) mundial.
Arpanet e o começo da internet
O primeiro protótipo viável da internet surgiu no final dos anos 1960 com a criação da Arpanet (Advanced Research Projects Agency Network), ou Rede da Agência de Pesquisas em Projetos Avançados, em português. Originalmente conduzida pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, com recursos da NASA e do Pentágono, a Arpanet usava comutação de pacotes, ou seja, a transferência de pequenos bits de dados através de redes diferentes para intercomunicação entre computadores.
Em 29 de outubro de 1969, a Arpanet conseguiu entregar sua primeira mensagem entre duas máquinas, ambas com quase o tamanho de uma casa, fisicamente distantes: uma estava em um laboratório de pesquisa na Universidade da Califórnia (UCLA) e outra na Universidade Stanford. A mensagem enviada era a palavra “Login”, curta e simples, mas que não foi recebida com o sucesso desejado — apenas as duas primeiras letras chegaram no outro computador.
Depois, um novo teste envolveu o envio de uma mensagem um pouco maior: “Você está recebendo isso?”. Ao ter a afirmativa rápida dos destinatários, ficou claro que a técnica havia funcionado.
Surgimento do TCP/IP
A tecnologia passou por diversos aprimoramentos na década de 1970, após os cientistas Robert Kahn e Vinton Cerf, ambos dos EUA, desenvolverem o Transmission Control Protocol/Internet Protocol (TCP/IP), um modelo de comunicação que estabeleceu padrões sobre a forma como os dados poderiam ser transmitidos entre várias redes simultâneas.
Quando você envia um e-mail para alguém, em vez de precisar estabelecer uma conexão com o destinatário antes de enviar, o e-mail é dividido em pacotes e pode ser lido assim que todas as frações são recebidas e remontadas do outro lado. É justamente isso que o TCP/IP fazia e foi o que garantiu o sucesso na transmissão de dados.
A “parte TCP” é responsável por empacotar os dados antes que eles se movam pela rede e descompactá-los assim que chegarem. O componente “IP” atua como “coordenador de viagem” e mapeia o movimento das informações do ponto inicial ao ponto final ao estabelecer um “endereço virtual” para cada computador.
A Arpanet adotou o TCP/IP em 1º de janeiro de 1983, e isso possibilitou aos cientistas criarem inúmeras redes distintas. Dessa forma, agentes infiltrados na Rússia e outros países rivais dos EUA poderiam se comunicar com militares de sua terra natal sem precisar recorrer aos telefones, que poderiam ser grampeados, ou depender da lentidão das cartas.
A criação do WWW
O mundo online assumiu uma forma mais amigável às pessoas em 1990, quando o cientista da computação britânico Tim Berners-Lee inventou a World Wide Web. Embora seja frequentemente confundida com a própria internet, a teia mundial de computadores é somente o meio mais comum de acessar dados online na forma de sites e hiperlinks.
Em um laboratório da Suíça, no ano de 1989, Berners-Lee conseguiu criar um programa capaz de transformar dados em algo visível para as pessoas. Na época ele trabalhava para a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear e não fazia ideia de que o WWW mudaria os rumos da internet.
Para fazer tudo funcionar, o programador precisou criar uma linguagem específica para confecção dos sites (o HTML) e um protocolo de transmissão de informações (o HTTP). Essa “dupla dinâmica” perdurou por quase 20 anos e existe até hoje — sites em HTML são considerados ultrapassados e o protocolo HTTP ganhou uma camada extra de segurança, mas ambos ainda estão presentes em muitas páginas.
A criação da World Wide Web abriu caminho para a exploração comercial da internet, pois a fez deixar de ser um mero instrumento de comunicação entre universidades e departamento de defesas, para começar a invadir empresas e casas.
Cientistas reconhecidos
Tim Berners-Lee deu uma contribuição tão imensa para a humanidade que o fez receber o título de cavaleiro da rainha da Inglaterra em 2003. Atualmente, ele é professor na Universidade de Oxford, no Reino Unido, e no Massachusetts Institute of Technology, nos EUA.
Já os precursores Cerf e Kahn receberam em 2004 o prêmio A.M.Turing Award, o prêmio mais elevado no campo da tecnologia da informação. Vint Cerf tem 78 anos, extensa carreira acadêmica — com diversos títulos honorários e doutorados — e membro do ICANN (Internet Corporation for Assigned Names and Numbers). Já Robert Kahn também atua como professor, é dirigente da Bell Labs e presta consultorias para a Defense Advanced Research Projects Agency, nos Estados Unidos.
Graças a esses e outros gênios da academia, a internet pode chegar ao momento atual, com redes sociais, streaming e dispositivos inteligentes. A invenção desses estudiosos, em uma época em que tecnologia era algo distante, teve um impacto incalculável nos negócios, nas relações e na humanidade em geral.
Fonte: History, Britannica, e-biografia