Penúltimo dia da COP26: conflitos se intensificam por detalhes do acordo final
Presidente da Cúpula do Clima, Alok Sharma, pressiona para que relatório final tenha solidez, sabendo que a história julgará a COP26 com base no documento
Com pouco mais de 24 horas antes da cúpula do clima COP26 chegar ao fim, está quase tudo pronto.
Uma nova versão do texto do esboço do acordo deve ser publicada em algum momento na noite desta quinta-feira (11), mas o presidente da COP26, Alok Sharma, deixou claro que as negociações estão longe do fim — então não se surpreenda se elas continuarem após o prazo.
Aqui está o que aconteceu no encontro desta quinta-feira (11), o penúltimo da COP26.
Questões incertas
O presidente da Cúpula do Clima da ONU, Sharma está pressionando fortemente para que o próximo acordo de Glasgow tenha solidez, sabendo bem que a história julgará a cúpula com base no texto final. Falando aos delegados nesta quinta-feira, ele disse estar preocupado com o número de questões ainda não acordadas.
“Eu sei o quão duro todos vocês estão trabalhando. Mas hoje deve representar outra mudança de marcha, quando os negociadores finalizarem o trabalho técnico excelente, e os ministros aumentarem seu compromisso”, disse ele aos delegados. “E recordo aos colegas, a COP26 está programada para encerrar no final de amanhã.”
A primeira iteração do projeto de acordo foi publicada na quarta-feira (10), e não foi muito bem com muitos especialistas em clima e grupos de defesa, que o criticaram como vago e não ambicioso o suficiente — e isso foi antes de negociadores de alguns dos maiores países produtores de combustível fóssil aumentaram os esforços para tentar atenuá-lo.
O financiamento do clima — fazer com que os países ricos ajudem as nações em desenvolvimento a reduzir as emissões e se adaptar — está se tornando um dos principais pontos de conflito, com Sharma pedindo aos delegados que encontrem um terreno comum.
“Nossos líderes foram claros no início da cúpula. Eles querem que mostremos ambição e construamos consenso, mas ainda vemos que nas salas de finanças estamos lutando para progredir mesmo com alguns problemas técnicos de rotina. Este, meus amigos, não pode ser o caso hoje”, disse Sharma.
Luta dos países em desenvolvimento
Um grupo de nações conhecido como Países em Desenvolvimento com Mentes Similares (LMDC, na sigla em inglês), que inclui China e Índia, pediu que toda a seção sobre mitigação das mudanças climáticas fosse retirada do texto preliminar da COP26, em um sinal da luta que permanece um dia antes do encerramento das negociações.
A seção de mitigação no rascunho inclui linguagem sobre a redução das emissões de gases de efeito estufa o suficiente para limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, em oposição ao limite superior de 2 graus Celsius do Acordo de Paris. Também incentiva os países a acelerar as atualizações de seus compromissos de emissões até o final de 2022.
O negociador-chefe da Bolívia, Diego Pacheco, que representa o grupo LMDC, disse nesta quinta-feira (11) que os países sentiam que o mundo desenvolvido estava tentando transferir suas responsabilidades pela crise climática para o mundo em desenvolvimento.
“Solicitamos que a presidência remova completamente a seção sobre mitigação”, disse Pacheco em uma entrevista coletiva em Glasgow. O grupo LMDC não acredita que os países em desenvolvimento devam ter os mesmos prazos e ambições de emissões que as nações ricas.
Alguns grupos da sociedade civil na conferência criticaram a posição do LMDC, chamando-a de um pedido deliberadamente exagerado para ganhar força nas negociações.
A sugestão de excluir a seção de mitigação “é claramente um soco no rosto das pessoas que sofrem com a crise climática”, disse Teresa Anderson, porta-voz da Rede de Ação Climática.
Frans Timmermans, o vice-presidente da Comissão da União Europeia, ridicularizou a demanda como ilógica.
“Estou tentando seguir a lógica dessa posição”, disse ele, reconhecendo que entendeu os pedidos das nações em desenvolvimento por mais dinheiro para se adaptarem à crise climática.
“Então vamos remover essa mitigação — não há quantidade de dinheiro no planeta, não existe uma grande solução técnica para adaptação boa o suficiente para nos levar onde precisamos estar na adaptação se não fizermos a mitigação. Veja o que está acontecendo com 1,1 grau agora. Imagine que disparamos através dos dois graus e dois graus e meio. O que você vai fazer na adaptação?”, indagou.
Aliança para eliminar combustível fóssil
A Costa Rica e a Dinamarca lançaram oficialmente a “Aliança Além do Petróleo e Gás” nesta quinta-feira (11). O grupo inclui França, Suécia, Irlanda, País de Gales, Groenlândia e Quebec, enquanto Califórnia, Portugal e a Nova Zelândia se juntaram como membros associados, e a Itália expressou seu apoio ao grupo.
O Ministro do Clima da Dinamarca, Dan Jorgensen, disse que todos os membros do grupo se comprometeram a encerrar todas as novas concessões, licenciamento e arrendamento de projetos de petróleo e gás, e também se comprometeram a definir uma data alinhada a Paris para encerrar a produção e exploração de petróleo e gás.
O Reino Unido, que está hospedando a conferência sobre o clima e liderou muitos dos acordos anunciados nas últimas duas semanas, não aderiu à aliança.
Jorgensen disse que alguns dos países que aderiram têm uma produção e reservas significativas de petróleo e gás. Ele disse que um dos principais objetivos da aliança é colocar na agenda a questão do fim da exploração e perfuração de petróleo e gás.
“Como você pode se defender de querer ser neutro em carbono em 2050”, perguntou Jorgensen, “mas ainda querer produzir petróleo e gás e vendê-los a terceiros? Isso, em nossa opinião, não faz sentido.”
Negociações sobre mercados de carbono
A presidência da COP26 ainda pressiona por um acordo sobre os detalhes do Artigo 6 do Acordo de Paris, que estabelece a necessidade de mercados de carbono. COPs anteriores não conseguiram chegar a um consenso sobre as regras que deveriam reger o comércio de emissões, e as negociações em Glasgow estão provando ser tão difíceis quanto.
A ideia é que os países que lutam para cumprir suas metas de corte de emissões possam, no futuro, comprar reduções de emissões dos países que já cortaram seus índices de poluição mais do que se comprometeram.
Mas existem alguns pontos principais, como evitar a contagem dupla e evitar que os maiores poluidores do mundo dependam do comércio de emissões em vez de se concentrarem nas reduções reais. Alguns países em desenvolvimento também argumentaram pela tributação dos mercados, dizendo que os recursos deveriam ir para o financiamento do clima.
Grupos de povos indígenas têm feito campanha por qualquer acordo que inclua proteções estritas de direitos humanos e cláusulas que protejam suas terras.
Alguns países estão avançando nessa questão: a Suíça anunciou nesta quinta-feira que chegou a um acordo sobre comércio de emissões com vários países, incluindo Peru, Gana, Senegal, Geórgia, Vanuatu e Dominica.
EUA rejeitam reparações climáticas
Os EUA não apoiam a criação de um fundo de compensação de perdas e danos, uma ideia que está sendo promovida na COP26 por países em desenvolvimento e menores particularmente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, disse um alto funcionário dos EUA a jornalistas.
Os países vulneráveis argumentam que os países ricos são os mais responsáveis, historicamente, pelas mudanças climáticas. Algumas nações na linha de frente da crise pensam que os países que mais poluíram deveriam ser responsabilizadas e até mesmo pagar indenizações.
Embora os EUA tenham assinado uma declaração recente de um grupo de 61 países, conhecido como “High Ambition Coalition” (Coalizão de Alta Ambição, em livre tradução), que concordou em aumentar os recursos para países particularmente vulneráveis, o alto funcionário disse que os EUA ainda têm muitas dúvidas sobre como isso funcionaria na prática.
*Esse texto foi traduzido. Cliquei aqui para ler o original em inglês
*Com informações de Ingrid Formanek, da CNN Internacional