Cenário otimista impulsiona criação de vagas de fim de ano e melhora expectativa do mercado de trabalho para 2022

Avanço da vacinação e perspectiva de investimentos geram clima favorável para a queda da taxa de desemprego; desempenho, no entanto, pode ser afetado por juros altos, inflação e eleições

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O cenário otimista que vai levar ao aumento das contratações de fim de ano deve trazer alívio ao mercado de trabalho e estimular a queda da taxa de desemprego para menos de dois dígitos nos próximos meses. O aumento da imunização da população brasileira contra o novo coronavírus e a maior mobilidade dos consumidores são apontados como as principais razões para que o número de empregos temporários no último trimestre de 2021 seja melhor que o registrado no mesmo período do ano passado. Além desses fatores, a intensificação dos investimentos produtivos aguardada para 2022 e a manutenção da retomada do setor de serviços — o maior responsável pelo Produto Interno Bruto (PIB) — têm potencial para reforçar a reabilitação do mercado de trabalho. As últimas divulgações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, uma das referências para medir a ocupação no Brasil, já mostram a desaceleração da taxa de desemprego. Após atingir o pico de 14,7% no trimestre encerrado em abril, o índice perdeu força e recuou para 13,7% nos três meses encerrados em julho, totalizando 14,1 milhões de pessoas na fila em busca de um trabalho no país.

A previsão de alta dos investimentos é reforçada pelos avanços da agenda de privatizações, pela elevação do aporte de dinheiro estrangeiro no país após o forte tombo registrado em 2020 e pela sequência de resultados positivos na balança comercial. “Primeiro, precisamos recuperar os níveis de investimentos no primeiro trimestre, e assim, no decorrer do ano, vamos ver a taxa de desemprego abaixo de 10%”, afirma Walter Franco, professor de macroeconomia do Ibmec. O cenário positivo, no entanto, também está condicionado à convergência de outros fatores, como a recuperação das atividades econômicas e a continuidade da queda do número de mortos e infectados pela Covid-19. “Mantidas essas condições, é possível iniciar esse processo de aproximar a taxa de desemprego para um dígito”, diz Franco.

A Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem) projeta alta de 20% na geração de empregos provisórios entre outubro e dezembro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, somando 565 mil novas oportunidades. O número mantém a expectativa de contratações acima do patamar pré-pandemia: em 2020, foram 471 mil, ante 436 mil em 2019. O fenômeno se explica pela maior facilidade de contratação de trabalhadores temporários em meio às incertezas geradas pela crise sanitária. Marcos de Abreu, presidente da entidade, afirma que os dados são conservadores e que o atual cenário permite margem para uma surpresa positiva no número de contratações. Ele cita a redução do temor de racionamento de energia, a retomada consistente do setor de serviços e o bom desempenho das commodities como bases para o sentimento otimista. “Os fatores que estavam nos limitando estão desaparecendo”, afirma. Além do cenário econômico, Abreu aponta o aumento do índice de transformação de vagas temporárias em postos efetivos. O índice de pessoas que superam o período provisório para conquistar a vaga efetiva está em 22%, ante 15% em 2018. “Não tenho dúvidas que no início de 2022 vamos estar em uma situação muito melhor do que a de 2021. Não iremos sofrer com a redução de vagas temporárias e efetivas.”

Apesar da previsão indicar o retorno das expectativas ao “velho normal’, os números poderiam ser ainda mais arrojados, caso o país não fosse desafiado por graves gargalos econômicos. A elevação da taxa de juros e a corrosão do poder de compra dos brasileiros — ambos fenômenos causados pela aceleração do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação doméstica — são vistos como os principais entraves para projeções mais otimistas. “A inflação é o bicho-papão da hora com o impacto que ela tem na redução do consumo e o potencial para atrapalhar o mercado de forma geral”, diz Abreu. Mas a variação dos preços não é a única fonte de preocupação. Para Juliana Inhasz, coordenadora da graduação em Economia do Insper, o desempenho do mercado de trabalho em 2022 também pode ser influenciado pelas movimentações políticas com a proximidade das eleições. “Há muitos elementos que podem melhorar ou piorar o começo do ano. É um ano de eleições, ou seja, é um ano curto, e será necessário que o governo se aplique muito para conseguir fazer mudanças e políticas econômicas para que a economia melhore de fato”, afirma. Apesar da incidência de pressões negativas, o conjunto na totalidade deve forçar a queda da taxa de desemprego nos primeiros meses de 2022, mesmo que menos do que o ideal diante do quadro de mais de 14 milhões de desempregados. “A continuidade desse movimento vai depender dessas ações governamentais”, diz a coordenadora.

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Fonte jovempan
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