Queiroga aguarda “evidências científicas” para decidir sobre vacinação de adolescentes
Ministro também divulgou fake news sobre o Reino Unido suspender vacina em pessoas a partir de 12 anos
O ministro Marcelo Queiroga, titular do Ministério da Saúde, reconheceu que pode voltar atrás na orientação da pasta que suspendeu a vacinação de pessoas de 12 a 17 anos. Mas isso só será possível, segundo ele, se houver evidências científicas de que adolescentes não sofrerão efeitos adversos após a aplicação das doses da Pfizer. O gestor falou com reportagem do Jornal da Band, neste sábado, 18.
Queiroga disse que aguarda os dados da Secretaria de Vigilância em Saúde para tomar uma decisão. O ministro voltou a criticar governadores e prefeitos que começaram a vacinar adolescentes em agosto, antes do prazo previsto pelo Ministério da Saúde, que era 15 de setembro.
O ministro da Saúde ainda rechaçou o uso de imunizantes não autorizados pela Anvisa nesse público, como a Coronavac e AstraZeneca. Para o gestor, mesmo se voltar atrás, estados e municípios precisam respeitar o Plano Nacional de Imunização.
Capitais ignoram suspensão da vacinação em adolescentes
A maioria das capitais rejeitou a orientação do Ministério da Saúde de suspenção da vacinação de pessoas a partir de 12. Com isso, as cidades retomaram a imunização ainda hoje. Especialista criticam a postura do Governo Federal e destacam que a aplicação das doses da Pfizer em adolescentes, já autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é segura e importante para conter a pandemia.
Em Manaus, a vacinação de adolescentes ficou suspensa por apenas um dia. Anoar Samad, secretário de Saúde da cidade, pontuou que uma comissão decidiu, por unanimidade, manter a imunização. “Eu fiquei doente. Acabei não vindo me vacinar, mas agora estou melhor e muito feliz”, disse Romualdo Neto, de apenas 12 anos.
Em São Paulo, o movimento de adolescentes foi baixo nos postos de saúde. O Governo paulista também mantém a vacinação, assim com a maioria dos estados. Atualmente, apenas três capitais seguem a orientação do Ministério da Saúde: Macapá, Cuiabá e Curitiba.
Especialistas criticam Ministério da Saúde
Médicos e especialistas da câmara técnica que assessoram o Ministério da Saúde no Programa Nacional de Imunização exigiram uma mudança de posição e ameaçaram deixar os cargos, caso a vacinação dos adolescentes não seja retomada.
“A vacina veio para nos tirar dessa crise enorme que o mundo está vivendo. Será importante vacinar os adolescentes e, depois, as crianças porque eles podem não ter a doença, mas eles podem transmitir o vírus”, explicou Jorge Kalil, imunologista e professor da Universidade de São Paulo (USP).
Mais especialistas destacam que a vacinação de adolescentes é um passo importante para a retomada das aulas, sobretudo nas escolas públicas. “A vacinação diminui o risco de transmissão na comunidade, uma vez que você alcança um número maior de pessoas protegidas. Isso contribui para o controle da pandemia”, reforçou o infectologista Marco Aurélio Sáfadi.
Queiroga divulga fake news a jornalistas
Na contramão da comunidade científica, Marcelo Queiroga, médico e ministro da Saúde, divulgou informação errada de que o Reino Unido suspendeu a vacinação de adolescentes. “Eu não sei por que tanta polêmica. Porque o Reino Unido, com um dos maiores sistemas de saúde do mundo, fez isso. Aqui fica com essa cortina de fumaça desnecessária”, disse.
Em Londres, o correspondente da Band verificou a informação trazida pelo ministro Queiroga. Ao contrário do que foi dito, a vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos segue avançando no Reino Unido. O plano do Governo britânico é aplicar apenas uma dose da Pfizer no respectivo público.
“Nós temos, neste momento, uma necessidade urgente de saúde público que o Ministério da Saúde revisite essa posição anunciada e que anuncie que vai incorporar, novamente, os adolescentes sem comorbidade no Plano Nacional de Imunização contra a covid-19”, pontuou Nésio Fernandes, secretário de Saúde do espírito Santo e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conas).