Ataque hacker a “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” pode ter sido financiado
Um dos responsáveis pelo ataque teve R$ 36.000 bloqueados; PF vai investigar lavagem de dinheiro
Uma petição enviada pela defesa da ex-ministra Marina Silva (Rede) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sugere que o ataque hacker feito em setembro de 2018 contra o grupo de Facebook “Mulheres Unidas Contra Bolsonaro” pode ter sido financiado. As informações foram anexadas a uma ação que corre na Corte Eleitoral. Nela, Marina pede a cassação do mandato de Jair Bolsonaro (sem partido) e a inelegibilidade do presidente.
O grupo invadido, que chegou a ter 2,7 milhões de participantes, foi o principal responsável por organizar o “Movimento Ele Não”. Depois do ataque, o nome foi alterado para “Mulheres com Bolsonaro” e a página passou a veicular conteúdo a favor do presidente. Bolsonaro chegou a replicar material produzido depois da invasão.
Ao apurar o caso, a PF (Polícia Federal) chegou ao nome de Victor Gabriel de Oliveira, supostamente envolvido no ataque. A partir daí, a própria defesa de Marina Silva passou a investigar Oliveira e descobriu pagamentos suspeitos feitos ao rapaz por meio da ferramenta PayU. O documento está em sigilo, mas o Poder360 teve acesso.
A defesa analisou um processo movido pelo suposto hacker contra a PayU. Na ação, Oliveira pede indenização de R$ 50.000 porque houve o bloqueio de R$ 36.000 em sua conta na plataforma.
Ele afirma que o dinheiro veio de vendas de eletrodomésticos. Ao justificar o bloqueio, a PayU deu outra versão: afirmou que bloqueou a conta ao identificar diversas operações suspeitas feitas de 20 a 21 de setembro de 2018, menos de uma semana depois do ataque ao grupo, realizado em 15 de setembro.
Segundo a plataforma, Oliveira não entregou nenhum dos bens supostamente vendidos, e os valores enviados para a conta vieram, em sua maioria, de CPFs inexistentes. Os pagamentos foram feitos via boleto bancário, o que é considerado incomum em vendas realizadas pela internet. Os horários também foram considerados pouco habituais: 5 pagamentos foram feitos às 4h54 da manhã e outros 5 às 4h55.
“Fato é que as circunstâncias ora noticiadas demonstram que há fortes indícios de que os crimes que justificam a instauração desta Ação de Investigação Judicial Eleitoral foram praticados por meio de associação de indivíduos, que de forma sistemática, complexa e contando com o financiamento de terceiros, buscaram aviltar as eleições gerais de 2018, suprimindo a liberdade de pensamento e expressão de parcela significante de cidadãs brasileiras”, diz o documento enviado ao TSE.
“Reprisa-se que Mulheres Unidas Contra Bolsonaro não se limitou a um mero grupo de rede social, tendo sido o embrião do movimento popular conhecido como “#elenão”, uma das mais representativas, legítimas e fortes expressões eleitorais da cidadania nas eleições de 2018, o que torna ainda mais importante que sejam elucidados os fatos em investigação e punidos os responsáveis por tais crimes contra a democracia”, prossegue a petição.
Caso será investigado
No documento enviado ao TSE, a defesa de Marina Silva pede que as supostas evidências de financiamento sejam enviadas à PF e ao MP-SP (Ministério Público de São Paulo).
O corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Luis Felipe Salomão, abriu prazo de 5 dias para Jair Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão e o MPE (Ministério Público Eleitoral) se manifestarem sobre o caso. Será investigada a hipótese de lavagem de dinheiro.
Eis a íntegra do despacho (117 KB).
Atuam no caso defendendo Marina Silva os advogados Rafael Moreira Mota e Saulo Malcher Ávila.
“A apuração dos fatos que orbitam a invasão tem avançado bastante com o valoroso apoio da Polícia Federal, que já apontou dados pessoais e telemáticos de indivíduos possivelmente envolvidos nos crimes”, disse Mota ao Poder360.
Ele afirma que falta apurar se o suposto hacker tinha contato com Bolsonaro ou com algum envolvido na campanha do presidente.
“Os fatos novos que vieram à tona indicam que indivíduo apontado pela Polícia Federal como envolvido nos ataques tentou receber valores poucos dias após os ataques, utilizando-se de artifícios para ocultar a identidade de quem o remuneraria. Agora resta investigar a ligação com os candidatos ou com alguém da campanha”, diz.