AIEA alcança acordo com o Irã sobre material de monitoramento
Rafael Grossi, diretor-geral da agência, está em Teerã para negociação sobre o programa nuclear do país
A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), cujo diretor-geral Rafael Grossi está em Teerã, anunciou, neste domingo (12), que chegou a um acordo com o Irã a respeito dos equipamentos de monitoramento de seu programa nuclear, poucos dias depois de denunciar a falta de cooperação das autoridades iranianas.
“Os inspetores da AIEA têm autorização para intervir, a fim de manter o equipamento e substituir os discos rígidos”, disse o órgão da ONU em um comunicado conjunto com a Organização Iraniana de Energia Atômica.
A agência, porém, continuará sem acesso aos dados das câmeras, enquanto, em fevereiro, Teerã havia se comprometido a fornecê-los em longo prazo, se as negociações para salvar o acordo internacional de 2015 forem bem-sucedidas.
Desta forma, Grossi, que realiza sua segunda viagem ao Irã este ano, assegurou a continuidade do monitoramento do programa nuclear iraniano.
A AIEA estava, de fato, preocupada em perder dados em caso de saturação da capacidade de registro das ferramentas.
Ele retornará a Teerã “em um futuro próximo para consultas de alto nível”, segundo informa o comunicado da agência, que insiste na “cooperação e confiança mútuas das duas partes”.
A visita ocorre poucos dias após a entrega de um relatório do gendarme nuclear da ONU acusando o Irã de falta de cooperação, e antes de uma reunião, a ser realizada a partir de segunda-feira (13), do Conselho de Governadores da Agência.
Em virtude de uma lei aprovada em dezembro por seu Parlamento, o Irã restringiu em fevereiro o acesso dos inspetores da AIEA a algumas de suas instalações nucleares.
Um acordo foi negociado para garantir um certo grau de vigilância, mas expirou em junho.
“Desde fevereiro de 2021, as atividades de verificação e vigilância foram seriamente prejudicadas pela decisão do Irã” de restringir as inspeções, denunciou a AIEA na terça-feira em um relatório consultado pela AFP.
Citado pela agência oficial Irna, Eslami saudou “negociações boas e construtivas com o Sr. Grossi”.
“Ficou decidido que os especialistas da Agência virão ao Irã para substituir os cartões de memória das câmeras técnicas de vigilância”, apontou. “Eles permanecerão selados no Irã e novos cartões serão instalados”.
Este novo arranjo oferece um alívio às grandes potências, que estão tentando ressuscitar o acordo de Viena, colocado em apuros em 2018 pela decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de se retirar unilateralmente e restaurar as sanções americanas.
Em resposta, o Irã se livrou da maioria de seus compromissos.
As negociações iniciadas em abril para tentar ressuscitar o acordo por meio da reintegração de Washington estão suspensas desde 20 de junho, dois dias após a vitória presidencial do ultraconservador Ebrahim Raïssi.
Após a publicação do relatório da AIEA, Raïssi garantiu na quarta-feira que seu país era “transparente”.
“Claro, no caso de uma abordagem não construtiva da AIEA, não é razoável esperar uma resposta construtiva do Irã”, disse ele, no entanto.
Por sua vez, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou após a publicação do relatório que os Estados Unidos estavam “perto” de abandonar seus esforços para reativar o acordo.
Já o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, contrário ao acordo, acusou o Irã na sexta-feira de continuar a “mentir para o mundo”.
“Israel vê com extrema gravidade a imagem refletida no relatório (da AIEA), que prova que o Irã continua a mentir para o mundo e a promover um programa de desenvolvimento de armas nucleares, em violação de suas obrigações internacionais”, afirmou.