Gloria Pires lembra as crises financeiras da família: “Muito difícil”
Filha do ator Antonio Carlos Pires, ela comenta que a profissão do pai não era regulamentada naquela época, mas sempre superaram com um olhar mais positivista sobre o futuro
Interpretar uma mulher dos anos 1930 na novela Éramos Seis tem feito Gloria Pires resgatar suas mais remotas lembranças de infância, além de histórias que circulavam no seio de sua família. A nova trama das 6, escrita por Angela Chaves, tem uma cidade cenográfica que retrata a capital de São Paulo do começo do século 20 e deixa a atriz com uma saudade das histórias que seu pai, Antonio Carlos Pires, contava sobre aquele período.
“Eu me lembro do meu pai contando as coisas, os detalhes, ele sempre foi muito detalhista. Passeando aqui pela cidade cenografia, eu fico me lembrando das coisas que ele me dizia, sabe? Identificando a chapelaria, as sacadas, a postura das moças, os carros… Tudo isso que ele me contava e eu viajava, agora estou vendo aqui! Então é isso mesmo que eu falei: o coração está na mão o tempo todo”, se emociona.
Na história de Maria José Dupré, adaptada pela terceira vez para a televisão, Lola, personagem Gloria, tem problemas financeiros sérios e isso também faz a atriz se recordar do seu passado quando a profissão do pai nem era regulamentada.
“Artista, agora está muito melhor. Agora, por exemplo, a gente tem uma associação de gestão coletiva dos artistas do audiovisual. Isso não existia naquela época. O artista antigamente sequer podia assinar a carteira como artista! Era como comerciário ou como prostituta. A gente não tinha a nossa profissão regulamentada e nem reconhecida. Então, como todos sabem, eu sou filha de ator [falecido em 2005], e minha família teve uma vida difícil sim. Muito difícil. Mas sempre com um olhar para metade da garrafa cheia, sabe? Essa maneira de ver a vida com positividade, com fé… E não só ver, mas fazer! Suar a camisa e ir em busca do objetivo. A minha família sempre foi uma família assim”, conta.
Outra identificação com sua personagem é que ela gosta de costurar, assim como sua mãe, Elza Pires, que amava criar modelitos para a família em sua máquina de costura.
“Ela adorava fazer coisas novas e criativas pra gente. Os meus pais eram bem engraçados, eram muito criativos! Queriam sempre coisas diferentes. Então eu estou voltando ao passado muitas vezes com esse trabalho. Cada vez que leio uma cena, alguma coisa me remete a uma coisa que minha mãe dizia, ou minha avó, o meu pai… A cidade cenográfica, para mim, é estar junto com o meu pai, passeando”, descreve.
Gloria diz que acessa sua memória afetiva de todas as maneiras para compor sua nova personagem e conta que se deu bem com a máquina de costura logo de primeira porque aprendeu o ofício com Dona Elza.
“E essa máquina que usamos aqui [na novela] não era a que a minha mãe usava. Essa é a de pedal, que eu também aprendi. Isso é uma coisa maravilhosa de ser ator, né? A gente tem acesso a tantas coisas, a gente aprende tanto… Quando eu fui fazer O Tempo e o Vento, eu aprendi a fiar. É dificílimo, mas eu aprendi. E com aquele pedal, a mesma história do pedal da máquina.”
Assim como sua personagem, a atriz é mãe de quatro filhos (Cleo, Antonia, Ana e Bento), e diz que nunca teve a oportunidade de ver todos morando em casa juntos porque a mais velha, fruto do relacionamento com Fabio Jr, saiu de casa cedo.
“Sempre dei força para meus filhos voarem e incentivei cada um a buscar sua realização, o seu desejo. Quando o Bento nasceu, a Cleo já não morava conosco. Eles têm 22 anos de diferença. Então nunca fomos os seis juntos na mesma casa. Não o tempo todo, ao menos, só nas férias, no Natal, mas para mim seremos sempre seis”, comenta.