Especialistas apontam diferenças entre uso recreativo e medicinal da Cannabis sativa
Na quarta, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o cultivo da planta para fins medicinais e industriais
Há mais de dez anos, Francisco convive com uma dor crônica neuropática: sente um incômodo forte na cervical, que comprime nervos que irradiam dores para o ombro. Desde que descobriu o problema, ele tentou tratamentos com diversos remédios. A solução apareceu há alguns meses, quando começou a usar medicação à base de cannabidiol, uma das substâncias químicas encontradas na Cannabis sativa, a planta da maconha. “É impressionante o benefício do cannabidiol. Eu mesmo não acreditava. Quando passeia tomar, de fato resolveu meu problema. Não sinto mais a dor, praticamente zerado. Qualidade de vida recuperada, recuperei uns 10 anos, voltei a fazer esporte. Fazia muito esporte e tive que parar porque a dor não me permitia abusos. E, agora, com o cannabidiol, eu retomei a minha vida normal, sem problema nenhum.” Na quarta-feira, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou o cultivo da Cannabis sativa para fins medicinais e industriais. A votação foi acirrada e gerou polêmica entre os parlamentares. Agora, o texto já pode ser enviado ao Senado, mas deputados contrários à liberação informaram que vão apresentar recurso para que haja a análise no plenário da Câmara.
Médica especializada no desenvolvimento da medicina canabinóide, com foco na dor crônica, Maria Teresa Jacob afirma que o debate é cercado de falta de informação. “Ninguém está falando em uso recreativo de maconha, que é totalmente diferente de medicamentos na base de cannabis. Esse posicionamento contra faz parte da falta de informação. A partir do momento que você vê a ação desse medicamento que provem da planta cannabis, nós temos que dar acesso à população por um preço mais adequado a produtos de qualidade — seguindo as regras mais rígidas de produção de de medicamento.” Atualmente, a maior parte desses medicamentos é conseguida por brasileiros à base de importação. Para isso, além da receita médica, o paciente precisa solicitar autorização da Anvisa. Questionada pela reportagem, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária não respondeu quantas pessoas aguardam autorização para fazer compra e uso de produtos ou medicamentos à base de cannabidiol. Há, no entanto, alguns remédios com uso autorizado pela agência que já podem ser encontrados em farmácias nacionais.
*Com informações da repórter Beatriz Manfredini