Estudante quilombola passa em primeiro lugar para Medicina em SE: ‘Sou a inclusão em um curso elitista’
Um estudante de origem quilombola foi aprovado em primeiro lugar para o curso de Medicina na Universidade Federal de Sergipe (UFS). Com a conquista da vaga, Williston Augusto de Jesus Augustinho, de 18 anos, deve ser o primeiro médico descendente de pessoas escravizadas em sua região.
Filho de um lavrador e de uma professora, Williston morou até os 5 anos no povoado de Malhada dos Negros, uma comunidade de origem quilombola. Depois passou a viver em São Miguel do Aleixo, município de 4 mil habitantes situado no agreste sergipano, a 95 km da capital Aracaju.
— Tivemos uma vida dura em Malhada dos Negros. Eu era pequeno mas me lembro que vivíamos em uma casa simples, de barro e somente um quarto para meus pais e seus três filhos. Nossas condições começaram a mudar quando minha mãe conseguiu fazer um curso de Pedagogia e tornou-se professora concursada. Ela sempre apostou na educação para os filhos terem um futuro melhor — conta Williston.
O jovem fez todos seus estudos em escola pública. Ele era aluno do Centro de Excelência Miguel das Graças, em São Miguel do Aleixo, uma instituição de ensino em tempo integral.
Em seu histórico escolar consta uma participação na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas. A competição lhe rendeu bolsas de estudos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica aos estudantes de Ensino Médio (PibicJr).
Durante a pandemia, Williston teve aulas online e uma rotina de dedicação aos livros: das 8h às 22h, com intervalos apenas para comer e descansar.
Williston justifica a escolha pelo curso de Medicina com a possibilidade de melhorar as condições materiais de vida da família. E também relaciona ao fato da profissão ter poucos profissionais negros e de origem pobre.
— As pessoas ainda olham para um negro e assimilam a algo ruim. Então é importante mostrar negros conquistando coisas grandes. Ainda precisamos melhorar muito a inclusão para termos mais médicos negros e índios, por exemplo. De algum modo eu sou a inclusão em um curso ainda elitista como o de Medicina. E acho que vai ser importante para verem que o negro pode fazer e ser qualquer coisa, que ele é uma pessoa capaz independente de qualquer coisa — disse.
O estudante publicou sua conquista nas redes sociais nesta segunda-feira (31). A publicação já tem mais de 167 mil curtidas e comentários.
— Me prometeram jalecos e eu estou aguardando. Acho que vou ficar emocionado quando vestir um — afirma. — A Medicina sempre despertou um grande fascínio em mim, sempre fiquei pensando em como o corpo pode ser uma máquina tão perfeita, sempre gostei de estudar isso — acrescentou.
A aprovação de Williston ocorreu por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele obteve a maior pontuação entre todos os estudantes de escola pública e sua nota garantia a aprovação mesmo sem as cotas.