Imenso consumo de energia ligado aos bitcoins na berlinda após críticas de Elon Musk
Transformado em um dos oráculos das criptomoedas, o fundador da Tesla, Elon Musk, sacudiu a cotação do bitcoin ao criticar seu impacto ambiental, despertando mais dúvidas sobre o futuro da moeda virtual.
“Nos preocupa o uso cada vez maior de combustíveis fósseis na mineração (ndr: emissão monetária) e transações de bitcoins, especialmente o carvão, que tem emissões piores do que qualquer combustível”, tuitou Musk na noite de quarta-feira.
“A criptomoeda é uma boa ideia em muitos níveis e achamos que tem um futuro promissor, mas isto não pode ter um grande custo para o meio ambiente”, concluiu.
A mineração de bitcoins se tornou uma batalha informática, com máquinas devorando eletricidade enquanto competem para realizar cálculos computacionais complexos.
Nesta quinta-feira (13), o empresário bilionário insistiu. “O uso de energia nos últimos meses é uma loucura”, tuitou, compartilhando um gráfico do Índice de Consumo Elétrico do Bitcoin de Cambridge (CBECI).
A tabela mostra a evolução do consumo de energia elétrica estimado para tornar possível a moeda virtual, que tem aumentado quase constantemente desde 2016 e se acelerado drasticamente desde o fim de 2020, com uma base anualizada.
Atualmente, este consumo é estimado em seu máximo histórico, a 149 TWh (terawatt-hora, o equivalente a um trilhão de watts-hora).
“Se o bitcoin fosse um país, usaria a mesma quantidade de eletricidade por ano que a Suíça”, informaram analistas do Deutsche Bank em nota.
Comparativamente, a Google consumiu 12,2 TWh em 2019, e todos os centros de dados do mundo, exceto os que extraem bitcoins, consomem juntos por volta de 200 TWh, segundo George Kamiya, analista da Agência Internacional de Energia (AIE).
Mas as coisas se complicam ao observar o nível superior das estimativas do CBECI. A curva é muito mais vertical e poderia superar os 500 TWh se os caçadores de bitcoins, os “mineiros”, utilizarem equipamentos que consomem mais energia.
O preço do bitcoin despencou 15%, ao seu nível mais baixo em dois meses e meio, depois do anúncio de Musk na quarta-feira de que a Tesla não aceitaria mais esta criptomoeda como pagamento por seus veículos enquanto sua mineração consumir tantos combustíveis fósseis, especialmente carvão.
Os clientes da fabricante, que também investiu 1,5 bilhão de dólares na moeda virtual em fevereiro, podiam usá-la para comprar veículos da marca desde o fim de março.
Na origem do cada vez mais frenético consumo de energia no mercado de bitcoins, cuja capitalização superou o trilhão de dólares no começo do ano antes de voltar a cair, está a lucrativa recompensa cobiçada por estes membros, que levaram à multiplicação dos centros de dados dedicados à atividade.
– Equações complexas –
Para atender um código de segurança da rede de emissão de bitcoins, as pessoas que mineram devem resolver equações complexas que não têm relação direta com as transações. Em troca, recebem automaticamente uma recompensa em forma de criptomoeda a cada dez minutos por sua “prova de trabalho”.
Por isso, à medida que o preço do bitcoin sobe, também aumenta o interesse pela mineração e, por fim, o consumo de eletricidade.
E então, também crescem as consequências para o meio ambiente: a revista científica Nature publicou um estudo no mês passado mostrando que a mineração de bitcoins na China, onde se produz quase 80% do comércio mundial de criptomonedas, corre o risco de comprometer os objetivos climáticos de Pequim.
Neste país, parte da mineração se faz às custas da eletricidade gerada por um carvão particularmente contaminante, o lignito.
No entanto, para ter energia descarbonizada na China a ponto de permitir a geração maciça de criptomoedas usando fontes renováveis, seria necessário esperar até 2060, antecipa a Bloomberg.
Em relação à mineração, “muitas pessoas dirão que grande parte é renovável”, explicam analistas do Deutsche Bank. “Mas uma parte ainda maior não é em absoluto!”.
Uma solução para este problema seria passar da “prova de trabalho” a um sistema que consuma menos energia, o que permitiria evitar o uso de alguns processadores – ao que se propôs a segunda criptomoeda, o ethereum.
Mas é difícil imaginar que o bitcoin adotará uma mudança deste tipo, o que ameaçaria tornar a rede menos descentralizada e segura.
“A decisão da Tesla convida a uma forte tomada de consciência empresas e consumidores que possuem bitcoins e que anteriormente não tinham prestado atenção na conta ecológica”, disse Laith Khalaf, analista da AJ Bell.
“Isso mostra que a adoção a longo prazo desta moeda por parte de empresas, consumidores e investidores ainda é muito incerta”.