Bolsonaro demitiu Cintra porque discussão sobre CPMF ‘se tornou pública demais’, diz Mourão
Presidente em exercício se reuniu com Paulo Guedes antes do anúncio da exoneração
BRASÍLIA — O presidente em exercício Hamilton Mourão afirmou nesta quarta-feira que o presidente Jair Bolsonaro decidiu demitir Marcos Cintra da Receita Federal porque a discussão em torno da criação de um imposto nos moldes da CPMF se tornou “pública demais”, e não devido à proposta em si. Mourão disse que Bolsonaro não tem uma “decisão” sobre o imposto. No entanto, o presidente escreveu mais cedo em uma rede social que a CPMF está descartada da reforma.
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— Foi decisão do presidente — disse Mourão, ao deixar o Palácio do Planalto. — É a questão do Imposto de Transação Financeira que o presidente Bolsonaro não tem uma decisão a este respeito e ele acha que a discussão se tornou pública demais antes de passar por ele.
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Segundo Mourão, Bolsonaro não gostou do fato do debate sobre o imposto ter “transbordado” e ter chegado inclusive nas redes sociais.
— Antes de ter passado por ele, antes de ter discutido com ele, esse troço transbordou, já estava sendo discutido em rede social, essas coisas todas, e o presidente não gostou.
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A possível demissão de Cintra foi discutido por Mourão e o ministro da Economia, Paulo Guedes, em um almoço entre os dois, a convite do ministro, nesta quarta. Até o encontro, a demissão ainda não estava sacramentada, o que só ocorreu após a palavra final de Bolsonaro. De acordo com o presidente em exercício, Guedes demonstrou “angústia” com a situação.
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— Ele compartilhou essa angústia com essa situação, mas disse: ‘vamos aguardar a decisão do presidente.’ Aí veio da decisão do presidente.
Questionado se Guedes também era a favor da demissão, Mourão respondeu que o ministro “cumpre as orientações” do presidente.
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Mourão ressaltou que, independente da posição do governo, é o Congresso que tomará a decisão final, e por isso é melhor evitar um “desgaste prematuro”.
— Isso tem que ser discutido. Agora, vocês tem que lembrar uma coisa. Vamos supor que o governo considere que tem que encaminhar isso para o Congresso. Quem é que vai definir essa manobra? É o Congresso. Acho que todo o desgaste prematuro em torno disso aí não leva a nada, porque tudo vai ser discutido pelo Congresso. Se o Congresso quiser, vai ocorrer. Se não quiser, não vai ocorrer.
O presidente em exercício ainda elogiou Cintra, dizendo que ele é uma pessoa “competente”:
— Eu considero o professor Marcos Cintra uma pessoa extremamente comprometida, competente. Ele tem as ideias dele e, óbvio, cada um nós que tem suas ideias que tem que defender até a decisão do decisor. Pode parecer até um pleonasmo isso aqui, mas é dessa forma que vejo as coisas.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), afirmou que a decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir Cintra “compactua” com a tese dele de que “brasileiro não aguenta pagar mais impostos”.
— O secretário Cintra defendia uma tributação. Então, a saída dele com certeza vai compactuar com a minha tese de que os brasileiros não aguentam mais pagar impostos.
Alcolumbre diz que o governo toma “decisão legítima” ao demitir Cintra e que a negociação entre Senado e governo tem sido com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
— O governo toma uma decisão legítima e o Senado continuará aguardando o próximo interlocutor para a gente tratar essa matéria em comum acordo — disse.