Ficar ou fugir? Motivos para você amar ou odiar Sky Rojo
Misturando fantasia e realidade, Sky Rojo flerta com La Casa de Papel e promete polemizar
A série espanhola Sky Rojo estreou no dia 19 de março na Netflix e está dando o que falar. Não é para menos: além de já ter sido confirmada para uma segunda temporada, a trama promete ser tudo menos entediante.
Na história, acompanhamos três prostitutas, Coral (Verónica Sánchez), Wendy (Lali Espósito) e Gina (Yany Prado), que fogem do cafetão Romeo (Asier Etxeandia), dono do clube para onde trabalham, na tentativa de recuperar novamente a liberdade. A partir daí já é possível deduzir que sexo e ação são ingredientes de sobra da narrativa… tal qual La Casa de Papel, fenômeno que conquistou mais de 65 milhões de espectadores ao redor do mundo. Exatamente por isso as duas produções estão sendo comparadas, mas será que Sky Rojo consegue o sucesso da sua predecessora?
Sky Rojo | Trailer oficial
Sky Rojo e La Casa de Papel: mais do mesmo?
De fato, ambas as produções contam com semelhanças inegáveis. Uma delas é que compartilham o mesmo criador, o produtor e diretor Álex Pina, que tem mais um sucesso no currículo, Vis a Vis, também disponível no streaming. Outra é a narrativa: enquanto em La Casa de Papel somos conduzidos pela voz de Tóquio (Úrsula Corberó), em Sky Rojo é Coral (Verónica Sánchez) que mostra o caminho. No entanto, se não fosse pelo timbre diferente de cada atriz, seria possível confundir e dizer que é a mesma personagem que fala.
Além dessas similaridades, pode-se dizer que a trama rocambolesca é um outro recurso presente nas duas obras, temperada, claro, com muito drama e diálogos acalorados, marca registrada de Pina.
No geral, Sky Rojo segue os passos de La Casa de Papel, mas talvez não todos os necessários para alcançar o mesmo fenômeno. Afinal, ao mesmo tempo em que há razões para amá-la, também é fácil apontar por que é possível odiá-la. Confira abaixo por que amar ou odiar Sky Rojo:
Por que amar
Mulheres fortes (e unidas)
A série é protagonizada por Coral (Verónica Sánchez), Wendy (Lali Espósito) e Gina (Yany Prado) que, apesar de trabalharem a um bom tempo juntas, não se pode dizer que são melhores amigas. Cada uma tem uma história completamente diferente do por que entrou para a prostituição: enquanto Gina foi enganada, Wendy foi sequestrada e Coral se voluntariou. Todas, no entanto, compartilham um passado recheado de abusos cometidos dentro do clube, o que as une e, com o passar da história, fundamenta a relação do grupo.
Como era de se esperar, as protagonistas carregam personalidades fortes e por vezes complementares, nas quais onde uma é estourada, outra é mais racional ou sentimental. Apesar disso, independente do perfil delas, é inegável a resiliência e força de cada uma – não só pelo seu desenvolvimento na série como também pelas experiências pelas quais passaram, trazidas em flashbacks frequentes.
Desglamurização da prostituição
Por sinal, os flashbacks entram na série como poderosos recursos para expor os absurdos pelos quais as personagens passaram, em uma total desglamurização da prostituição. Neles, são reveladas situações que vão desde estupros até agressões pesadas – tudo permitido dentro das fronteiras do clube. Mas não é só.
Romeo (Asier Etxeandia), cafetão do lugar, é a personificação do caráter exploratório do ofício. Enquanto justifica a existência do clube afirmando que a Espanha é o terceiro país do mundo quando o assunto é prostituição, ele mantém as mulheres presas em um sistema de dívidas do qual é impossível escapar.
Ritmo frenético
O simples fato de Sky Rojo ter um total de oito episódios com aproximadamente 30 minutos cada já dá uma noção do ritmo da série. Mas não é só sua duração digna de maratona que dita a cadência da história. As cenas de ação são constantes, acelerando o passo e dando pouco respiro para as protagonistas, que quase não conseguem um descanso sequer.
Vale apontar que a junção dos episódios curtos e do forte apelo das cenas de ação faz com que o aprofundamento dos personagens seja distribuído ao longo dos episódios, mas não deixa de aparecer.
Por que odiar
Nem realista, nem fantástico
Se você está procurando uma série bem verossímil, Sky Rojo não é a melhor pedida. Ao mesmo tempo, se está procurando algo mais “fora da casinha”, talvez se decepcione. A série não chega a ser nem um nem outro, constantemente cruzando a fronteira entre essas possibilidades de uma maneira que pode incomodar os mais conservadores.
Afinal, se em um momento a narrativa foca em denunciar a podridão do mercado da prostituição, em seguida aposta em uma sequência absurda de ação ou em uma morte escrachada – beirando o tragicômico, mas sem chegar lá.
Tentativa (fracassada) de Tarantino
Apesar de La Casa de Papel não seguir a tendência, vários trabalhos do produtor e diretor Álex Pina trazem uma forte inspiração de Quentin Tarantino. Em Sky Rojo, o excesso de ação e violência, por vezes com direito a bastante sangue, remetem a algumas obras famosas do diretor, mas não chegam ao seu esplendor. Pelo contrário: algumas sequências parecem desconexas e por vezes desorganizadas. Um exemplo que vale ser mencionado é a cena em que os personagens lutam com katanas, clara referência ao clássico Kill Bill (2003), de Tarantino.
Fetiche ou crítica?
Ao mesmo tempo em que apresenta protagonistas femininas fortes e desglamuriza a prostituição, há momentos em que a série parece flertar com a fetichização das personagens. Não dá para ignorar que, apesar de estarem em uma constante correria e fuga de criminosos perigosos, elas continuam vestindo roupas extremamente justas e aparentemente desconfortáveis. Além disso, é possível questionar o quanto algumas cenas mais sensuais são realmente necessárias para a narrativa ou são somente um chamariz para alimentar esse tal fetiche.