Para políticos, troca de comandantes militares é demonstração de força
Mudança na Defesa em momento de fragilidade política do presidente é recebida com preocupação. Movimento é acompanhado com atenção por aliados e adversários de Bolsonaro
A renúncia dos comandantes das três forças militares, menos de 24h depois da demissão de Fernando Azevedo do Ministério da Defesa, foi recebida no meio político como forma de compensação de Bolsonaro à fragilidade política a que se viu exposto, após movimentos de seus aliados no Congresso. O presidente estaria disposto a deixar claro que não ficará refém de pressões de uma base parlamentar – a qual sempre resistiu constituir.
Chamou particular atenção a nota oficial publicada pela Defesa registrar não a renúncia dos comandantes, mas já anunciar sua substituição, após reunião que contou com a participação do futuro ministro da pasta, general Braga Neto, que, embora tenha tido o nome publicado no Diário Oficial, ainda sequer assinou o termo de posse. A sinalização é de que o presidente quer mudança rápida e cirúrgica, até com o atropelo do rito burocrático.
Para políticos, a troca do comandante do Exército, general Pujol, considerado “neutro”, por um nome mais alinhado com o Planalto é a sinalização mais preocupante. Até o momento, o ministro que sai, Fernando Azevedo, era visto como anteparo eficiente à politização dos militares da ativa, inclusive com pontuais manifestações públicas de reforço a posições do presidente, como chegou a ser feito pelo general Villas Boas. Tal postura, no entanto, não conta com o apoio entre os comandantes demissionários das três forças.
O ministro que assume, general Braga Neto, egresso da Casa Civil – o ministério palaciano por excelência – é visto como militar com “vínculo umbilical” às posições de Bolsonaro. Entre políticos, a expectativa é de tensão na esfera militar pelos próximos dias, que marcarão eventuais mudanças na inflexão da tropa ou resistência aos projetos presidenciais.