Rodrigo Pacheco: “Não descarto que o presidente mude discurso mais negacionista que o normal”
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, foi o convidado do Canal Livre deste domingo (21) e falou sobre o combate à pandemia no Brasil. Ao propor um pacto nacional diante da crise sanitária no país, ele afirmou acreditar que o presidente Jair Bolsonaro possa mudar o discurso
“Eu não descarto, diante do quadro de gravidade nacional e da triste realidade que estamos vivendo, com falta de leitos e aumentos de mortes, que o presidente possa reconhecer que deva mudar um discurso que era mais negacionista que o normal. Temos que acreditar na possibilidade de mudança, mas para isso temos que sentar à mesa e conversar exaustivamente para chegarmos a um acordo”, afirmou.
Pacheco tem um encontro na próxima quarta-feira com Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, para abordar um plano de combate à Covid. O presidente do Senado lamentou que o país “esteja resolvendo hoje coisas que eram para ser resolvidas ontem, anteontem ou na semana passada”, mas disse acreditar no diálogo.
“Não descarto a possibilidade, diante da gravidade do quadro nacional, que possa o presidente da República reconhecer que se deva mudar o discurso que era mais negacionista que o normal”, afirmou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, no #CanalLivre. pic.twitter.com/Qejy0vHs4y
— Band Jornalismo (@BandJornalismo) March 22, 2021
“É preciso promover em nível nacional um pacto, uma união nacional, em torno deste enfrentamento. Abstrair agora isso de apontar os culpados, mas identificar erros num pacto que envolva o presidente da República como grande coordenador e líder. Aguardo muito essa postura. Sentar em torno da mesa os presidentes da República, do Senado, da Câmara, do STF, a Procuradoria-Geral da República, o ministro da Saúde, em quem se deposita muita confiança em assumir as rédeas do enfrentamento, os governadores de estado… É impossível imaginar os governadores fazendo uma coisa de um lado e o presidente fazendo outra de outro lado”, criticou.
Pacheco também disse que é preciso “entender o drama” de lideranças locais que estão optando pelo lockdown em meio à gravidade da crise. “Respeitemos prefeitos e governadores que tenham essa opção, seja no Amazonas, no Rio Grande do Sul, no meu estado de Minas Gerais, porque eles estão vivendo na pele o drama. Respeitar as opções desses chefes do Executivo e sentar à mesa para um caminho comum. Ainda que se discorde, são decisões que têm que ser cumpridas. Se fecharam uma praia é porque estão se aglomerando de um jeito irresponsável em um momento no qual não temos leito”, disse.
“Negar a pandemia é brincadeira macabra”
No Canal Livre, Rodrigo Pacheco usou palavras duras para condenar o negacionismo um ano depois da pandemia e num momento em que o Brasil se aproxima de 3 mil mortes por dia. “O negacionismo quando começou a pandemia era uma tese, tese esta ventilada por diversas pessoas. Mas agora o negacionismo é uma brincadeira de mau gosto, macabra e medieval. Não podemos mais negar a pandemia e para evitar a contaminação tomarmos medidas como uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social”.
O presidente do Senado também falou que não é papel dele, nem do presidente da República, “fazer propaganda de remédio”. “A população precisa procurar um médico. Ele que vai decidir”, disse Pacheco, que também não considera que este seja o momento ideal para a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigue falhas de governantes e órgãos no enfrentamento à Covid.
“Seria o primeiro a apoiar se acreditasse que é um caminho que iria mais ajudar do que atrapalhar. Mas neste momento acredito no trabalho da comissão de acompanhamento da pandemia do Senado e nas proposições legislativas dos senadores que já trouxeram resultados como a chamada lei da vacina”.
Pacheco revelou ainda que conversou com o futuro ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. “Só a troca de nomes não funciona. É preciso ter uma política que seja adequada. Eu estive com o novo ministro, conversamos longamente. Não é momento para solenidade de posse. Eu disse a ele que é necessário mergulhar no trabalho para identificar as dificuldades”, disse.
Auxílio emergencial, reformas, Lula:
No segundo bloco do #CanalLivre, confira o trecho da fala de Rodrigo Pacheco sobre a anulação do ministro Fachin: “Ou o Lula é culpado e isso será símbolo de impunidade ou é inocente e um ex-presidente da República ficou preso mais de um ano indevidamente em uma decisão nula.” pic.twitter.com/YrYXsbIFTc
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Além da pandemia, Rodrigo Pacheco falou sobre outros temas na participação no Canal Livre. Sobre o novo auxílio emergencial, disse que gostaria que os valores fossem mais altos, mas que entende a limitação de orçamento do ministério da Economia comandado por Paulo Guedes. O presidente do Senado ainda afirmou que a crise da pandemia vai exigir um “programa que seja análogo ou que substitua o Bolsa Família, mas que alcance uma população que vai precisar mais de alento no segundo semestre”.
Sobre a reforma tributária, o presidente disse que ainda acredita que o projeto será aprovado no Congresso em até oito meses apesar da pandemia. “Não é um tema simples. Setor de serviços pensa de um jeito, indústria de outro, agronegócio de outro. Mas a política é a arte de escolher. E não é a arte de conquistar, mas de ceder. Com fundamentos e técnicos chegaremos a um sistema diferente do atual”.
Advogado, Pacheco não quis falar sobre a ação de suspeição do juiz Sergio Moro, mas falou que a anulação por parte do ministro Edson Fachin, do STF, das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva trouxe um cenário preocupante.
“Ou o Lula é culpado e isso será símbolo de impunidade ou é inocente e um ex-presidente da República ficou preso mais de um ano indevidamente em uma decisão nula. Qualquer ângulo é muito preocupante”, disse Pacheco, que, sem relacionar diretamente aos processos do ex-presidente, apontou um possível erro da Operação Lava Jato.
“A política não pode entrar pela porta do tribunal porque a justiça foge pela janela. Isso serve para o Lula, para Bolsonaro e para qualquer político brasileiro. A pretexto de combater a corrupção não se pode corromper a Constituição. Não se pode querer perseguir culpados a qualquer custo, o que talvez tenha sido o erro”, concluiu.