“Terreno fértil para ditadura”, diz Bolsonaro sobre lockdown
Presidente comparou o fechamento de comércio e outros estabelecimentos a um decreto de estado de sítio
Em mais uma investida contra as ações de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos, o presidente Jair Bolsonaro citou nesta sexta-feira, 19, os impactos econômicos causados pela pandemia da covid-19 e disse que “vai chegar o momento” em que o governo terá de tomar uma “medida dura”.
O presidente não detalhou que tipo de medida seria essa. Ao falar com apoiadores no Palácio do Alvorada, pela manhã, ele comparou o fechamento de comércio e outros estabelecimentos a um decreto de estado de sítio, medida de exceção que só pode ser tomada pelo presidente.
Bolsonaro afirmou que a miséria, a fome e a pobreza são “terreno fértil para ditadura” no País. As declarações foram dadas pelo presidente nesta sexta-feira, 19. “Será que o governo federal vai ter que tomar uma decisão antes que isso aconteça? Será que a população está preparada para uma ação do governo federal dura no tocante a isso?”
Em seguida, Bolsonaro afirmou que o governo poderia tomar uma decisão enérgica para acabar com as decisões locais de isolamento. “Que que é (medida) dura? É para dar liberdade pro povo, é para dar o direito do povo trabalhar. Não é ditadura não, uns hipócritas aí falando de ditadura o tempo todo, uns imbecis. Agora, um terreno fértil para ditadura é exatamente a miséria, a fome, a pobreza, onde o homem com necessidade perde a razão. Estamos esperando o quê? Vai chegar o momento, eu gostaria que não chegasse esse momento, vai acabar chegando.”
O presidente mencionou a ação que enviou ao Supremo Tribunal Federal, com a tentativa de suspender as medidas anunciadas pelos governadores do Distrito Federal, Bahia e Rio Grande do Sul.
“Espero que essa minha ação no Supremo Tribunal Federal no dia de ontem… que os decretos falam em simplesmente toque de recolher… O que é toque de recolher? Só em países ditatoriais. Estão aqui aplicando a legislação do estado de sítio prevista na Constituição, que não basta eu decretar estado de sítio, o Congresso tem que validar embaixo. E governadores e prefeitos humilhando a população, dizendo que estão defendendo a vida deles. Ora bolas, que defendendo a vida, estão matando essas pessoas”, afirmou o presidente.
Com o recrudescimento da pandemia, ao menos nove Estados e quatro capitais endureceram nas últimas semanas medidas de isolamento social e permitem apenas serviços considerados essenciais, como mercados e farmácias.
O Brasil registrou 2.659 novas mortes pela covid-19 nesta quinta-feira, 18, e em apenas 18 dias do mês de março já superou todas as vítimas de fevereiro, que já tinha registrado aumento da curva de óbitos pela doença
Aos apoiadores, Bolsonaro frisou que “seu Exército” não sairá dos quartéis para cumprir eventual ordem de governadores para evitar eventuais distúrbios. Ele voltou a insinuar que as medidas para conter a transmissão do vírus podem provocar atos de “desobediência civil”.
“Jamais adotaria o lockdown no Brasil. E digo mais como também já disse: o meu Exército não vai para a rua para cumprir decreto de governadores. Não vai. Se o povo começar a sair [de casa], entrar na desobediência civil, não adianta pedir Exército, que o meu Exército não vai. Nem por ordem do Papa, não vai”, disse o presidente nesta manhã.
Bolsonaro disse que “o caos vem aí” e que “a fome vai tirar o pessoal de casa”. “Vamos ter problemas que a gente nunca esperava ter. Problemas sociais gravíssimos. Eu tenho mantido todos os ministros informados do que está acontecendo, e ainda culpam a mim, como se eu fosse insensível no tocante a morte”, disse o presidente que reafirmou nunca admitir o lockdown no País.