Ataques a China atrasam a chegada de insumos para vacina, admitem membros do governo Bolsonaro
A relação conturbada do governo Jair Bolsonaro com a China tem travado a importação de insumos para a produção das vacinas contra a covid-19 no Brasil.
Integrantes do alto escalão reconheceram que os ataques estão prejudicando a chegada do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), princípio ativo da Coronavac, vacina produzida pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês Sinovac.
Esse assunto foi tratado na tarde de segunda-feira (18) em reunião do presidente com ministros no Palácio do Planalto.
O IFA também usado para a produção da vacina de Oxford/Astrazeneca no Brasil. A Fiocruz tinha a previsão de que o princípio já estivesse disponível no Brasil no último dia 12, mas ainda aguarda informações da Astrazeneca e das autoridades regulatórias da China, que têm protocolos específicos para exportação da carga, para confirmar a chegada dos primeiros insumos para a vacina.
De acordo com a CNN, integrantes do governo disseram que a ordem agora é para que haja um esforço de reaproximação com o governo chinês. Embora tenha sido um dos principais a atacar a China, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, tem mantido contato diário com o seu correspondente chinês, segundo relatos ouvidos pela emissora.
Além disso, o chanceler tem mantido contato com o governo indiano para tentar a vinda de 2 milhões de doses da vacina de Oxford.
Ministros dizem também que o impasse com a China também envolve a negociação financeira. Integrantes do governo federal afirmaram ainda que o governo chinês tem priorizado os países que conseguem pagar melhor pelos insumos.
“A questão política pesa, mas também pesa o fato de sermos um país de terceiro mundo. Estamos sendo tratados como tal”, afirmou o auxiliar de Bolsonaro.
CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS
Um dos “incidentes diplomáticos” com a China aconteceu em novembro do ano passado, quando o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, acusou o Partido Comunista Chinês de espionagem.
“Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita americana (…) Caso contrário, irão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil”, reagiu a embaixada da China no Brasil.
Ernesto Araújo ainda criticou a resposta do embaixador chinês a Eduardo pelo Twitter: “Tom ofensivo e desrespeitoso”.
O próprio presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que desconfiava da “vacina chinesa”, ao se referir à Coronavac.
“A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido lá”, acrescentou.