Giro da Saúde: remédio contra COVID; nova cepa no Rio; cuidado com a reinfecção!
O ano está chegando ao fim, e as notícias mais quentes sobre saúde da semana do Natal ainda são sobre vacinas, linhagens e reinfecção pelo coronavírus (SARS-CoV-2). Com as campanhas de vacinação e liberação de uso emergencial em alguns países, aumentam as expectativas sobre imunizantes em mais locais do mundo — inclusive no Brasil. Fique por dentro dos destaques da última semana em poucos minutos — todo domingo, selecionamos no Canaltech as notícias mais importantes dos últimos dias para você ficar atualizado, aqui no Giro da Saúde!
Remédio da AstraZeneca contra COVID-19
Se você está ligado na movimentação da indústria farmacêutica e nas possíveis soluções medicamentosas para combater o coronavírus, provavelmente soube que, em agosto, a AstraZeneca testava, paralelamente à sua candidata à vacina, um medicamento capaz de gerar resposta imunológica contra o coronavírus nos pacientes. Pois bem: essa pesquisa avançou e, na sexta-feira (25), uma publicação do jornal inglês The Guardian trouxe um update promissor sobre o assunto.
A AstraZeneca está avançando nos estudos de seu fármaco, composto de anticorpos sintéticos, que poderá ser administrado em pessoas que tiveram contato com o coronavírus. Funciona assim: ao entrar contato com alguém que está infectado pelo SARS-CoV-2, uma pessoa poderia iniciar o tratamento em até oito dias após a exposição. Chamado de AZD7448, o medicamento é injetável e dotado de anticorpos monoclonais criados em laboratório, capazes de induzir resposta imunológica no paciente — que pode, aliás, durar de 6 a 12 meses.
Em Londres, pesquisadores do complexo hospitalar University College London Hospitals (UCLH), que participam da pesquisa em parceria com a AstraZeneca, recrutaram novos pacientes para um estudo clínico randomizado, aplicando em um grupo o medicamento e, no outro, o placebo, em formato duplo-cego — ou seja, não se sabe quem recebeu o remédio ou a substância neutra, sem relação com a doença.
“Até agora, injetamos o coquetel em 10 voluntários que foram expostos ao vírus em casa, em unidades de saúde ou nos corredores da universidade”, revela Catherine Houlihan, infectologista e pesquisadora envolvida no estudo. Ela e sua equipe de especialistas avaliarão de perto as reações dos voluntários quanto ao desenvolvimento (ou não) da COVID-19 em quem recebeu o “shot” com a nova droga.
A expectativa é de que a agência reguladora britânica aprove o remédio para uso na próxima semana. Já para o restante do mundo, as apostas da farmacêutica são boas. A AstraZeneca acredita que, até abril, o novo medicamento seja regulamentado em mais agências ao redor do globo.
Fiocruz: reinfecção pela COVID-19 é possível após casos leves
Um assunto que circulou bastante nas últimas semanas foi sobre reinfecção por coronavírus. Afinal, é possível? Sob quais condições? Segundo cientistas da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), a primeira exposição do organismo ao coronavírus pode não gerar memória imune em casos mais leves. Isso quer dizer que uma pessoa que já teve COVID-19 pode, sim, ser infectada de novo.
A fundação realizou uma pesquisa com base em genomas de quatro pessoas infectadas, porém sem sintomas de COVID-19, para entender melhor o processo. Eles foram monitorados semanalmente desde o início da pandemia, ainda em março, realizando testes sorológicos e RT-PCR. Através do sequenciamento genético, foi possível confirmar que um dos pacientes contraiu o coronavírus associado a um genoma de fora do Brasil, enquanto outra contava com uma estrutura viral associada a uma cepa que já estava em circulação no Rio de Janeiro.
De acordo com o infectologista e chefe da pesquisa, Thiago Moreno, em maio, um dos pacientes que estavam recebendo o acompanhamento informou aos pesquisadores que estava tendo sintomas mais fortes da doença, como a perda de paladar e olfato, além de febre. “Quando fizemos o RT-PCR mais uma vez, os quatro indivíduos testaram positivo. O que observamos foi uma reinfecção dentro do ambiente familiar. Contudo, a pessoa que apresentou em março o genótipo associado a casos importados no Brasil, agora estava infectada por uma outra cepa”, conta.
Dentro do mesmo grupo, um outro paciente havia sido infectado por uma cepa que circulava no Rio de Janeiro, mas que possuía um acúmulo de mutações que acaba permitindo a interpretação de reinfecção — e não de uma infecção persistente. Dessa forma, a pesquisa deixou claro que é, sim, possível se reinfectar com o SARS-CoV-2.
Butantan adia resultados da CoronaVac mais uma vez
Esperada para ocorrer no último dia 23, a divulgação dos resultados oficiais de eficácia e segurança da CoronaVac foi adiada mais uma vez. Apesar de defender que a vacina é eficaz, o governo de São Paulo e o Instituto Butantan, que fabricará a vacina aqui no Brasil, justificaram que o atraso se deu porque a farmacêutica chinesa Sinovac pretende somar os resultados de todos os estudos clínicos com o imunizante e divulgar tudo de uma só vez, de forma consolidada.
“Temos um contrato com a Sinovac que especifica que o anúncio deste número precisa ser feito em conjunto, no mesmo momento. Então, ontem mesmo apresentamos esses números à nossa parceira, que, no entanto, solicitou que não houvesse a divulgação pelo motivo de que eles necessitam analisar cada um dos casos para poder aplicá-los à agência NMPA, que é a Anvisa da China”, justificou Dimas Covas, diretor do Butantan.
“Recebemos também os dados de eficácia. Nós atingimos o limiar da eficácia que permite o processo de solicitação de uso emergencial, seja aqui no Brasil, seja na China”, afirmou Covas, durante coletiva de imprensa, porém sem compartilhar o estudo. A partir da taxa de eficácia, por exemplo, seria possível verificar as chances, em porcentagem, de uma pessoa não se contaminar pelo novo coronavírus, após a vacinação. A taxa mínima recomendada pela Anvisa é de 50%.
Covas afirma que, de agora em diante, o envio dos resultados de fase 3 do imunizante só serão enviados à Anvisa quando a China analisar os resultados enviados daqui para lá. “Essa base de dados [de resultados da fase 3] foi transferida na manhã de hoje [23] para que eles [Sinovac] possam proceder essa análise o mais rapidamente o possível e, aí apresentar os dados, não só à NMPA, mas para que nós possamos apresentar esses dados também à nossa Anvisa”, explicou.
Segundo o que foi dito na coletiva, a farmacêutica prefere que, ao invés de dados coletados apenas no Brasil, seja feito um compilado geral de todos os estudos de fase 3 espalhados pelo globo com seu imunizante. Esse processo pode levar até duas semanas para ser concluído.
Camelôs vendem “vacina fake” no Rio
A gente tá cansado de saber das fake news, mas podemos nos preparar para as vacinas falsas, também. No Rio de Janeiro, por exemplo, já tem camelô vendendo uma suposta vacina chinesa ao preço de R$ 50, cobrando mais R$ 10 para aplicação — sem qualquer aprovação ou regulamentação da Anvisa ou de qualquer outra agência. Afinal de contas, as únicas vacinas já liberadas para uso emergencial o foram no exterior — a exemplo das vacinas da Moderna, da Pfizer e da Rússia. Poucos países iniciaram suas campanhas, aliás.
Em conversa com o Canaltech, a pesquisadora e jornalista Cristina Tardáguila, também diretora adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN), na Flórida, e fundadora da Agência Lupa, já alertou que casos de vacinas falsas contra a COVID-19 devem se tornar cada vez mais comuns e serão um tema recorrente em 2021. Então, podemos nos preparar.
Aqui no Brasil, a pirataria é algo que conhecemos desde muito tempo — e ela realmente já chegou às vacinas. Em outubro, a Anvisa notificou uma suposta comercialização irregular da vacinas contra a COVID-19 na cidade de Niterói, também no estado do Rio. Os falsificadores alegavam vender a vacina de Oxford, que não havia sido regulamentada em lugar nenhum do globo, nem sob uso emergencial.
E na semana passada, segundo o jornal Diário do Rio e relatos nas redes sociais, camelôs localizados em Madureira, um bairro da Zona Norte da capital, comercializam um suposto imunizante contra o coronavírus, que na verdade é uma falsificação da vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinopharm. E você deve estar se perguntando neste momento: o que vem dentro da ampola? Nós também queremos saber.
brother a vacina falsa de covid que ta a venda em madureira por 50 reais 🗣 pic.twitter.com/hwJggv0euk
— julha (@juwlwia) December 21, 2020
Nova linhagem de coronavírus surge no Rio de Janeiro
Ainda com o escopo no Rio de Janeiro, outra notícia importante da semana foi a descoberta de uma nova linhagem do coronavírus foi descoberta por pesquisadores brasileiros, mais especificamente na capital fluminense. Um estudo genômico do SARS-CoV-2, coordenado por cientistas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do LNCC (Laboratório Nacional de Ciência da Computação), descobriu que essa nova cepa se originou da linhagem B.1.1.28 e, até o momento, é composta por cinco mutações do coronavírus.
De 180 genomas virais analisados pelo grupo de pesquisadores, vindos de diferentes municípios do Rio de Janeiro, a nova variação foi identificada em 38 deles. De acordo com a pesquisadora Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, geneticista e coordenadora do LNCC, o surgimento da nova linhagem ocorreu em julho de 2020 e ela foi registrada, principalmente, em Cabo Frio, Niterói e Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Mas, calma: não há motivo para pânico. Os cientistas afirmam que, apesar de nova, a linhagem recém-descoberta não é mais agressiva e nem mais contagiosa que as outras variantes, e também não há nenhum indício de que seja mais resistente às vacinas. “Não temos evidências de que essa mutação represente um perigo maior. Mas ela mostra que o coronavírus circula com intensidade no estado, que as medidas de distanciamento social e a vigilância são fundamentais”, comentou Vasconcelos ao jornal O Globo.
Vacina da AstraZeneca pode chegar em fevereiro ao Brasil
Estamos em 27 de dezembro e, apesar de contarmos com um plano de imunização nacional, ainda não temos nenhuma vacina regulamentada pela Anvisa, ainda que sob uso emergencial. Uma boa notícia é que, de acordo com Nísia Trindade, presidente da Fiocruz, a vacina de Oxford, em parceria com a AstraZeneca, estará disponível no país em 8 de fevereiro. A notícia foi dada em audiência pública na Câmara dos Deputados.
Agora, a aplicação depende da Anvisa: é necessário registrar o imunizante para iniciar a programação das campanhas. A chegada de um milhão de doses da vacina está prevista para acontecer entre 8 a 12 de fevereiro e 15 a 19, também do mesmo mês. Já na terceira semana, de 22 a 26 de fevereiro, mais 700 mil doses diárias serão entregues — o que totaliza 3,5 milhões de vacinas por semana.
Outra boa notícia, dada na mesma audiência, tem a ver com a vacina da Pfizer, em parceria com a BioNTech: segundo o secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo Medeiros, “a expectativa é de oito milhões [de doses] no primeiro semestre de 2021 e outras 62 milhões de doses no segundo semestre do ano que vem, totalizando 70 milhões de doses da vacina da Pfizer em 2021”.
Combinação entre AstraZeneca e Sputnik V ganha acordo
Em 11 de dezembro, uma notícia pegou muita gente ligada em novidades do mundo das vacinas de surpresa: a união entre duas fortes candidatas, as vacinas da AstraZeneca e do Instituto Gamaleya, da Rússia. E na última segunda (21), a farmacêutica britânica assinou o acordo com o instituto russo. Ou seja: a junção vai acontecer! Pelo menos em laboratório, até o momento. E se der certo, vai virar uma vacina só.
Os envolvidos (O Fundo Russo de Investimento Direto, o Instituto Gamaleya e as empresas farmacêuticas AstraZeneca e R-Pharm) garantiram que os ensaios começarão “em breve”, mas ainda não há uma data específica. É preciso, antes de tudo, avaliar a imunogenicidade e segurança do uso combinado de um dos componentes da Sputnik V e um dos componentes da vacina AZD1222, desenvolvida pela AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford. A partir de então, os testes com as fórmulas combinadas serão conduzidos.
A compatibilidade entre os dois imunizantes se dá graças à biotecnologia utilizada em suas fórmulas, que utilizam um adenovírus modificado, com parte do material genético do SARS-CoV-2, o novo coronavírus. Em ambas as vacinas, esse tal adenovírus carrega o coronavírus causador da COVID-19, provocando uma resposta do organismo para formar anticorpos. A única diferença é que, na vacina da AstraZeneca, os adenovírus usados nas duas doses são iguais. Na Sputnik V, eles são diferentes.
Mesmo assim, do ponto de vista científico, é importante e interessante contarmos com essa combinação, ainda que em testes. Caso dê certo, poderemos ter uma forte candidata com eficácia e segurança aumentadas, graças a essa formulação “conjunta”. Vamos aguardar e acompanhar.
A nova variante do coronavírus que está se espalhando pela Europa
Há pouco mais de uma semana, uma nova variante do coronavírus foi encontrada na Inglaterra e a descoberta foi divulgada pelo governo britânico ao mundo. Batizada de VUI-202012/1, a mutação fez com que o governo do país apertasse as medidas de distanciamento social, principalmente em época de festas de final de ano.
Muito embora a cepa não seja mais letal que as anteriores nem cause sintomas mais graves, sua transmissibilidade parece ser mais alta — embora novas pesquisas relacionadas a ela ainda sejam necessárias. No entanto, uma característica dessa variante é que ela é muito menos resistente à vacina.
Os primeiros resultados envolvendo pesquisas com a nova variação atestam que ela chega a ser 70% mais transmissível. Para se ter uma ideia, em poucos dias, ela “viajou” para outros países, como Austrália, Dinamarca e Holanda, e agora variantes similares foram encontradas na África do Sul, França, Finlândia, Itália e Turquia.
Fake news sobre vacinação vão dar o que falar em 2021
Vacinas podem alterar o DNA humano? Bill Gates mandou inocular um microchip nas pessoas? Beber produtos químicos ajuda a “matar” o coronavírus? Apesar de, para uns, essas perguntas soarem como completos absurdos, muitas pessoas acreditam (ou já acreditaram, um dia) que se tratavam de plenas verdades. E as ondas de desinformação que se formaram em 2020 tendem a aumentar mais ainda com a chegada das vacinas.
Você leu aqui no Giro que o Canaltech conversou com Cristina Tardáguila, diretora adjunta da International Fact-Checking Network (IFCN), na Flórida, e fundadora da Agência Lupa, certo? Pois bem: a conversa rendeu informação de sobra sobre o que podemos esperar do ano que se aproxima em relação à COVID-19 e as armas que teremos contra a doença.
Vale adiantar que a relação entre as fake news e a vacinação “já é uma realidade, e não precisará nem virar o ano. É o principal debate que o Brasil vive agora”, segundo Tardáguila. “Mesmo que, em alguns casos, as fake news pareçam, de imediato, piadas e até mesmo mentiras — o que são, de fato —, a desinformação deve afetar significativamente a vacinação no Brasil”, avalia a profissional.
O grande desafio de 2021 é manter a informação “limpa”, livre de mentiras e interferências, uma vez que, quanto mais as fake news são propagadas, mais provocam dúvidas. Por isso é tão importante nos preocuparmos com resultados e eficácia de vacinas, já que o objetivo da imunização é salvar vidas e frear a propagação do vírus, deixando sua circulação mais contida, por assim dizer. Manter esses pontos esclarecidos é essencial para que se evitem novas ondas de desinformação.