Crise na Amazônia fica mais internacional e pode envolver pacto na ONU

Reunidos na França, cúpula do G7 decide ajudar Brasil e países da região a combater queimadas e desmatamentos; Colômbia vai propor pacto às Nações Unidas

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O domingo, 25, terminou com a questão da Amazônia ganhando ainda mais contornos internacionais, com uma promessa de ajuda do G7 a todos os países da região, com o apoio de Israel ao governo brasileiro e com o anúncio pelo governo da Colômbia de levar à Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em setembro a proposta de um pacto regional pela preservação da região.

Líderes do G7 reunidos em Biarritz, na França, disseram que estão se preparando para ajudar o Brasil a combater incêndios e reparar os danos na região amazônica. O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que os integrantes da cúpula estavam chegando a um acordo sobre como apoiar o país e que o acordo envolveria mecanismos técnicos e financeiros “para que possamos ajudá-los da maneira mais eficaz possível”.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que seu país e outros do G7 vão conversar com o Brasil sobre reflorestamento na Amazônia assim que os incêndios cessarem. “É claro que é território brasileiro, mas temos a questão das florestas tropicais que é realmente um problema global”, disse ela. “O pulmão de toda a Terra está afetado e, portanto, precisamos encontrar soluções comuns.”

papa Francisco também acrescentou sua voz ao coro de preocupação com os incêndios no Brasil e pediu que as pessoas a orem para que “sejam controladas o mais rápido possível”. Na Praça de São Pedro, no Vaticano, o religioso disse que o mundo todo está preocupado com as queimadas e alertou que a Amazônia é “vital para o nosso planeta”.

O presidente da Colômbia, Iván Duque, afirmou neste domingo que levará à ONU a proposta de um acordo envolvendo todos os países que são cobertos pela Floresta Amazônica, em resposta aos incêndios que consumem a maior floresta tropical do mundo.

“Queremos liderar entre os países que têm esse território amazônico um pacto de conservação que será levado à Assembleia das Nações Unidas em setembro”, disse o presidente em um evento público em uma comunidade indígena na Isla Ronda, departamento do Amazonas, limítrofe de Peru e Brasil.

A Floresta Amazônica é compartilhada por Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, assim como a Guiana Francesa, um departamento ultramarino da França. “Nós não temos neste momento uma situação de incêndios como a que o Brasil vive, mas devemos nos prevenir também”, acrescentou Duque. Antes de levar a proposta à assembleia das Nações Unidas, o presidente colombiano apresentará o pacto à reunião do gabinete binacional do qual participará na próxima terça-feira com o presidente peruano Martín Vizcarra na cidade de Pucallpa, no Peru.

Enquanto isso, o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse, também neste domingo, que gostaria de receber ajuda para combater os incêndios florestais no país, que queimaram mais de 745 mil hectares de terra na região de Chiquitania, na divisa com o Paraguai, e 100 mil hectares em Beni, na Amazônia boliviana. Em uma entrevista coletiva, ele afirmou que havia aceitado ofertas de assistência dos líderes da Espanha, Pedro Sánchez, Chile, Sebastián Piñera, e Paraguai, Mario Abdo.

Já o presidente Bolsonaro aceitou o apoio de Israel. Em sua conta no Twitter, ele afirmou que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reconhece os “esforços do Brasil no combate aos focos de incêndio na Amazônia”. “Aceitamos o envio, por parte de Israel, de aeronave com apoio especializado para colaborar conosco nessa operação”, escreveu, após falar por telefone com Netanyahu.

G7

O fim de semana que, a princípio, poderia ser bastante negativo para Bolsonaro no encontro dos sete países mais ricos do mundo, o G7, em Biarritz, na França, terminou melhor do que o brasileiro esperava. Principal crítico da atuação brasileira na questão, o presidente francês, Emmanuel Macron, foi quem levou o tema à reunião, mas sua proposta de suspender o fechamento de acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul por conta da questão não encontrou guarida entre os demais líderes.

A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, após sua participação no G7, afirmou que Bolsonaro está empenhando “forças significativas” para combater os incêndios na Amazônia. Segundo ela, a Alemanha e outros países vão conversar com o Brasil para apoiar o reflorestamento da Amazônia.

Tristeza

Bolsonaro tem revelado tristeza com o noticiário sobre os incêndios na floresta amazônica, em conversas com interlocutores nos últimos dias. Ele entende que as queimadas já vinham ocorrendo e enxerga um exagero na repercussão negativa que tem sido dada sobre ele. A um aliado próximo, o presidente disse que talvez viaje à região, mas oficialmente não há ainda nenhuma viagem prevista.

Em coletiva de imprensa no sábado, 24, os ministros da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, destacaram a preocupação do presidente em conter a devastação causada pelo fogo e por crimes ambientais na Amazônia. A decisão de enviar as Forças Armadas foi citada como prova disso. Interlocutores do presidente também frisam essa medida.

A interlocutores, o presidente também se queixou da posição de Macron, que associou a crise ao seu governo. Bolsonaro compartilhou neste domingo no Twitter um vídeo gravado no G-7, em que Merkel diz que vai ligar para o chefe do Executivo brasileiro na próxima semana. “Já avisei que vou ligar para ele na próxima semana para não dar a impressão de que estamos contra ele”, disse Merkel, sentada à mesa de reunião ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron e do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson.

Então Macron pergunta a quem Merkel estava se referindo e ela responde: “Bolsonaro”. “Nós vamos ligar para ele”, disse Macron. Junto com o vídeo, Bolsonaro escreveu uma mensagem dizendo que a “crise só interessava aos que querem enfraquecer o Brasil” e agradeceu às “dezenas” de chefes de Estado que o ouviram e ajudaram a “superar” essa crise.

Bolsonaro ainda afirmou que, desde o princípio, buscou o diálogo com os líderes do G-7, assim como com a Espanha e o Chile, que participam do encontro como convidados. “O Brasil é um país que recupera sua credibilidade e faz comércio com praticamente o mundo todo”, disse.

(Com Estadão Conteúdo, Agência Brasil, AFP, Reuters e Associated Press)

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