Brasil pode enfrentar falta de suprimentos para vacina contra COVID-19
Com as expectativas elevadas pela chegada da vacina contra a COVID-19, um questionamento que pouco vem à tona é a que passo anda a produção de outros insumos e ferramentas, que vão além do imunizante. No Brasil, a indústria de refrigeradores e seringas, por exemplo, está apreensiva, visto que não houve contato do governo e ainda não se sabe quanto é necessário produzir para a atender à demanda de 2021.
Você deve estar se perguntando qual é o dilema. O que acontece é o seguinte: os prazos apertados podem prejudicar a entrega dos materiais e atrasar o início das campanhas de vacinação. Outra grande questão está relacionada com a disponibilidade de matéria-prima, tendo em mente que alguns componentes usados na manufatura são importados, com direito a risco de falta de estoques e aumento de preços.
Costumeiramente, os governos estaduais são responsáveis pela compra dos insumos de vacinação, ou seja: pela aquisição dos materiais e encaminhamento para os municípios. Mas na situação atual, coube ao Ministério da Saúde a tarefa.
Já abordamos aqui no Canaltech as dificuldades que podem ser trazidas pela necessidade de armazenamento refrigerado, que é o caso da vacina desenvolvida pelos laboratórios Pfizer e BioNTech, por exemplo. As doses precisam ser armazenadas a -75° C, e a maioria dos centros de distribuição do Brasil conta com câmaras frias que chegam no máximo a -20° C. A Pfizer já anunciou o desenvolvimento de caixas especiais com gelo seco que mantêm a temperatura necessária durante o transporte. Depois de abertas, as doses podem permanecer em geladeira comum por até cinco dias sem estragar.
Em entrevista à BBC News, o engenheiro Ariel Gandelman, membro do Conselho Nacional de Climatização e Refrigeração (CNCR), declarou que o país tem capacidade de fornecer a tecnologia necessária para guardar as doses, mesmo que seja a -75° C: “Precisamos destacar que o Brasil é referência mundial em refrigeração e possui um parque industrial e dezenas de milhares de profissionais qualificados para atender a demanda”.
Enquanto isso, o próprio Ministério da Saúde informou à BBC que tem feito investimentos na estrutura que garante a estabilidade das vacinas. “Em 2020, mais de 42 milhões de reais foram investidos pela União com foco na aquisição de equipamentos, dentre eles câmaras refrigeradas para ampliação da capacidade de armazenamento da rede de frio”.
Quando se trata de seringas, itens imprescindíveis para a aplicação das vacinas, há três empresas responsáveis pela sua fabricação aqui no Brasil: BD, Injex e SR. Juntas, essas fábricas entregam a cada ano 1,5 bilhão de seringas. Mas veja só: cada imunizante tem a sua especificação, e a agulha pode ser fina, grossa, comprida ou curta. Enquanto não se sabe quais vacinas serão compradas pelo Brasil, não dá pra começar a fabricar as seringas. Segundo o Ministério da Saúde, esse planejamento está sendo feito, mas isso depende de os imunizantes se saírem bem nos testes clínicos, serem aprovados pela Anvisa e chegarem ao Brasil.
O comunicado acrescenta que a pasta “iniciou o processo de aquisição de mais de 300 milhões de seringas e agulhas no mercado nacional e 40 milhões no mercado internacional, com o intuito de apoiar os estados e municípios no desenvolvimento inicial das ações de vacinação. Para a aquisição interna, já foi realizada pesquisa de preços e emissão de nota técnica para elaboração do edital de compra, que será lançado em breve” mas que “Numa situação normal, entre a ordem de compra, a fabricação e a entrega, há um prazo que varia entre 60 e 90 dias. Essa tem sido nossa preocupação há algum tempo”.
Ou seja: caso o edital do ministério tenha seu processo finalizado ainda em dezembro, a entrega completa das seringas só aconteceria em fevereiro ou março, o que coloca em risco o início da campanha de vacinação contra a COVID-19. Resta esperar para ver como essa situação vai se desenrolar.
Fonte: BBC