PSDB rejeita pedidos de expulsão de Aécio Neves e impõe derrota a Doria
Dos 35 membros presentes na reunião da Executiva, 30 votaram pelo arquivamento do pedido
BRASÍLIA — A Executiva Nacional do PSDB rejeitou nesta quarta-feira dois pedidos de expulsão da legenda do deputado federal Aécio Neves(PSDB-MG). Em reunião a portas fechadas, a cúpula do partido acompanhou o parecer do relator Celso Sabino (PSDB-PA), contrário ao afastamento do tucano. Sabino considerou “ineptos” os requerimentos para a saída do mineiro. A decisão impõe uma derrota ao governador de São Paulo, João Doria, que ontem chegou a cobrar que o tucano deixasse a sigla.
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Dos 35 membros presentes na reunião da Executiva, 30 votaram pelo arquivamento do pedido. Quatro foram contrários: o deputado federal Samuel Moreira (SP), o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, o secretário de Saúde da Prefeitura de São Paulo, Edson Aparecido, e o tesoureiro do PSDB, César Contijo. O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio, se absteve de votar.
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A reunião, que durou cinco horas, teve momentos de tensão, gritaria e dedos em riste. A gritaria era ouvida dos corredores. César Gontijo chegou a pedir vistas para adiar a análise da expulsão, mas acabou derrotado.
No Twitter, Doria lamentou a decisão da Executiva e disse que o “PSDB escolheu o lado errado” . O governador afirmou ainda que respeita a decisão, mas que “ela não reflete o sentimento da opinião pública brasileira”.
“Cada membro da executiva deve responder por sua posição. A minha é clara: Aécio Neves deve se afastar do PSDB e fazer sua defesa fora do partido. O derrotado, nesse caso, não foi quem defendeu o afastamento de Aécio. Quem perdeu foi o Brasil”, escreveu.
O presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, evitou encarar a decisão da legenda como uma derrota ao governador João Doria. Na reunião, a Executiva decidiu que qualquer outro pedido de expulsão de Aécio será automaticamente arquivado.
— Respeitou as instâncias do partido, respeitou o procedimento de forma democrática. Em cinco horas, o partido decidiu pelo arquivamento. O assunto Aécio Neves em relação aos fatos apresentados está encerrado — afirmou Bruno Araújo.
Derrotada, a ala de Doria na legenda fez questão de deixar claro seu descontentamento com a decisão. O prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, considerou um erro de avaliação a permanencia dele na sigla.
— Quero deixar claro o desconforto que é ter o Aécio Neves nos nossos quadros partidários. Toda vez que tem voto, quem tem a maioria ganha. Mas não acho que esse assunto está encerrado. O diretório, de maneira unânime, pediu pela saída dele. Mas é um erro de avaliação política a permanência e o estrago que a imagem do Aécio causa ao partido — disse Orlando Morando.
Seguro de que sairia vitorioso, o mineiro chegou à reunião sorridente e fez questão de apertar a mão de todos os presentes, inclusive jornalistas. O deputado federal é investigado em inquéritos da Lava-Jato. Acusado de corrupção passiva e obstrução de Justiça, ele virou réu em um processo da Lava-Jato em abril do ano passado. O deputado é suspeito de receber propina no valor de R$ 2 milhões do empresário Joesley Batista, do grupo J&F. Ele nega ter cometido irregularidades
— O partido tomou uma decisão serena e democrática. Não há aqui vitoriosos e vencidos. É uma decisão que respeita não apenas aquilo que prevê o estatuto, mas também a história daqueles que construíram o PSDB. Ninguém perde nesse episódio — afirmou Aécio Neves.
Celso Sabino elaborou dois relatórios. O primeiro considerava apenas o requerimento do diretório municipal. Porém, durante a reunião, decidiram incluir também o pedido do diretório estadual. A sessão foi suspensa por uma hora para que Sabino refizesse seu texto. Quando voltou, deu parecer contrário à saída do tucano.
Tucanos tradicionais, Fernando Henrique Cardoso, Geraldo Alckmin e Tasso Jereissati não participaram da reunião.
Ontem, o GLOBO mostrou que Aécio Neves também enfrenta problemas na prestação de contas da campanha presidencial de 2014 . O Ministério Público Eleitoral manifestou-se pela desaprovação das contas de 2014 do PSDB e do Comitê Financeiro Nacional para presidente da República de Aécio Neves.
No documento, obtido pelo GLOBO, o vice-procurador-geral eleitoral, Humberto Jacques de Medeiros, apontou irregularidades consideradas graves por “alcançarem percentual expressivo (11% nas contas do Diretório e 26% nas contas do Comitê Financeiro) comprometendo-se a regularidade, a transparência e a confiabilidade”.
“As irregularidades relatadas representam percentuais distintos e consideráveis. Nas contas do Diretório Nacional foi constatado o valor de R$ 19.569.572,39, que corresponde a 11% de irregularidade do total de receitas e nas contas do Comitê Financeiro, as irregularidades representam R $52.166.845,08, o que corresponde a 26% do total de irregularidades das contas do Comitê”, diz o parecer.Entre as irregularidades, foram apontadas “ausência de documentação fiscal comprobatória de despesas .” O documento, de 18 de junho, pede ainda que R $3,5 milhões sejam devolvidos aos cofres públicos. Aécio era presidente do PSDB em 2014. O tucano gastou R$ 201 milhões na campanha ao Planalto.