20 anos sem Agepê: conheça mais sobre o sambista do povo
Cantor foi o terceiro maior vendedor de LPs, depois de Roberto Carlos e do Balão Mágico
Você sabe quem foi o sambista brasileiro Agepê? Se sim, parabéns por conhecer um dos maiores sucessos da música brasileira (que chegou a ser o terceiro maior vendedor de LPs). Mas se você nunca ouviu falar desse nome, não se martirize. Resolvi escrever esse artigo, pois muitas pessoas não conhecem o músico. Na verdade, não tenho nenhuma vergonha de dizer que conheci a sua história recentemente, mesmo sendo um curioso da história do nosso samba.
Talvez, um dos motivos para esse desconhecimento é que o cantor e compositor morreu em 1995, há exatos 20 anos. Na época, eu tinha apenas 10 anos e, apesar de estar iniciando minhas aulas de cavaquinho, não me lembro de ter aprendido nenhuma música do Agepê. Nos anos que se seguiram, talvez por displicência minha ou esclerose da nossa mídia de massa, continuei desconhecendo o artista.
O sambista ficou conhecido como Agepê pela junção das iniciais do seu nome (Antônio Gilson Porfírio). Nascido no Rio de Janeiro, em 1942, iniciou seu interesse pela música quando ainda trabalhava como técnico da Telerj, antiga companhia telefônica do Rio de Janeiro.
Rotulado por alguns como cantor “brega” e discriminado por parte dos intelectuais e da imprensa do país, Agepê é reconhecido atualmente como um grande talento da música brasileira. Com um estilo marcado pela voz forte e pelo romantismo apurado, o músico mesclava batuques e ritmos africanos como o ijexá, além de outros consagrados como o baião e o samba. Teve vários sucessos, como “Menina dos cabelos longos”, “Cheiro de primavera”, “Me leva”, “Moça criança” e “Lá vem o trem”.
Agepê passou sua infância pobre no Morro do Juramento, na zona norte do Rio de Janeiro, junto ao pai músico e a mãe alagoana. Ficou órfão de pai ainda menino e foi à luta para ajudar a mãe faxineira. Aos 18 anos, enquanto prestava serviço militar na aeronáutica, não raras vezes, fugia do quartel para namorar e acabou expulso do serviço militar. “Queria ser piloto, mas acabei tirando brevê como passageiro só de ida”, brincou o compositor em entrevista à Veja, em 1986.
Sua carreira teve início em 1975, ao gravar um álbum com “Moro onde não mora ninguém”. A partir de então, tornou-se conhecido em todo território nacional e passou a integrar a ala de compositores da Portela, tendo Canário como parceiro de composições.
Em 1984, veio o seu maior sucesso, “Deixa eu te amar”, no disco “Mistura Brasileira”. A música é recheada de metáforas eróticas, como “vou me embrenhar em densa mata, só porque / existe uma cascata que tem água cristalina / aí vou te amar com sede / na relva, na rede, onde você quiser…”. Essa foi a primeira gravação de samba a alcançar a marca de um milhão de unidades vendidas, atingindo um milhão e meio. Por esse trabalho, tornou-se capa da revista “Veja”, em 1986, como um dos grandes nomes do “samba romântico”.
Essa edição de Veja trouxe a manchete com o título “No coração do povo”. Nessa matéria, o cantor tenta se definir: “sou mesmo coisa de fenômeno” – referindo-se ao fato de ser o terceiro maior vendedor de LPs, depois de Roberto Carlos e da Turma do Balão Mágico.
Nessa publicação, Beth Carvalho afirma: “Os sambistas que eu e o Martinho da Vila gravamos têm a cara do povão, enquanto o Agepê e os sambistas românticos se dirigem ao homem médio, daí o sucesso”. Para Agepê, o seu êxito deveu-se à maneira como viveu: “Eu conheço a linguagem brasileira porque já vivi de A a Z”.