PRIMEIRA MULHER A DIRIGIR FILMES NO AFEGANISTÃO É BALEADA EM ATENTADO
A atriz e cineasta Saba Sahar, primeira mulher a dirigir filmes no Afeganistão, foi baleada em Cabul, capital do país, num ataque planejado para matá-la.
De acordo com a BBC, Sahar estava viajando a trabalho na terça (25/8), quando três homens armados abriram fogo contra o seu carro. Ela foi levada a um hospital e passou por uma cirurgia. A gravidade dos ferimentos, porém, ainda não foi informada.
Além de Sahar, haviam outras pessoas no carro: dois seguranças, o motorista e uma criança. Os seguranças também foram atingidos, mas o motorista e a criança foram poupados.
“Cheguei ao local e encontrei todos eles feridos”, disse Emal Zaki, marido de Sahar, à BBC. “Ela recebeu os primeiros socorros e nós a transferimos para o hospital de emergência e depois para o hospital da polícia”, acrescentou.
Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque, mas Sahar enfrentava ameaças de fundamentalistas talibãs, que proíbem mulheres de estudar e trabalhar, ao se tornar uma importante ativista dos direitos femininos no país.
Ela fez a transição de estrela do cinema afegão da era pré-talibã para cineasta em 2004 com “The Law”, filme sobre justiça e corrupção na instável democracia afegã, estabelecida após a derrota dos talibãs pelas forças dos EUA, e também assinou o documentário “Traumfabrik Kabul” (2011), sobre a importância de divulgar a luta feminina no país.
Na ocasião, ela deu uma impactante entrevista ao jornal britânico The Guardian. “Quero mostrar que as mulheres afegãs são capazes de fazer qualquer coisa que os homens fazem. Quero mostrar aos conservadores que trancam suas filhas e esposas em casa que devem deixá-las sair para estudar, ganhar algum dinheiro e ajudar a reconstruir o Afeganistão”, declarou, contando que, por causa disso, tinha sido marcada para morrer. .
Sahar revelou que recebia várias ameaças de morte por meio de ligações anônimas. “Eles me dizem para dizer adeus aos meus entes queridos, porque eu logo estarei morta.”
A diretora não se intimidou e denunciou as ligações às autoridades. O resultado? “Eles me ligaram novamente e perguntaram por que eu fui às autoridades”, disse ao Guardian. “Eles falaram que, mesmo que todo o governo esteja me apoiando, ainda iam me matar. ‘Vamos matá-la na rua, em público’.”
“Fazer filmes é minha paixão”, ela continuou. “Eu amo meu país. Quero mostrar às pessoas que há mais no Afeganistão do que guerra, drogas e terrorismo. Se eu morrer por exigir meus direitos e inspirar outras mulheres a lutar pelos delas, então estou pronta para perder minha vida. ”
Após o atentado, a Anistia Internacional afirmou que tem ocorrido um aumento “extremamente preocupante” de atos contra personalidades culturais e ativistas no Afeganistão, após a decisão de Donald Trump de promover um “acordo de paz” com os guerrilheiros fundamentalistas, inimigos declarados dos direitos humanos.