Sobreviventes relatam terror em julgamento de serial killer nos EUA
Vítimas contaram a violência sofrida nas mãos de Joseph DeAngelo, 74, o 'matador de Golden State', acusado de 13 assassinatos e 45 estupros
Sobreviventes e parentes de vítimas de um dos serial killers mais violentos da história dos EUA relataram momentos de terror e as consequências dos crimes de Joseph DeAngelo, o ex-policial que está sendo julgado esta semana em Sacramento, capital da Califórnia.
Conhecido como “matador de Golden State” (“Golden State killer”, em inglês), ele confessou 13 assassinatos e é acusado de 5 estupros, além de dezenas de roubos e agressões físicas. Como já assumiu a culpa, DeAngelo, hoje com 74 anos, será condenado na próxima sexta-feira a 11 penas de prisão perpétua.
Ele cometeu quase todos os crimes num espaço de dez anos, entre 1976 e 1986. Por ter sido policial e também ex-militar, ele conseguia cometer seus crimes deixando poucas provas que as técnicas da época poderiam pegar. Só foi preso em abril de 2018 com o avanço dos testes de DNA.
Na audiência de terça-feira (18), as vítimas que sobreviveram e os parentes daquelas que não tiveram chance contaram em detalhes o terror dos ataques de DeAngelo e o impacto que isso causou em suas vidas. Também falaram de como se recuperaram, se uniram e conseguiram seguir em frente todos esses anos.
O primeiro relato foi de Phyllis Henneman, vítima do primeiro estupro que o serial killer confessou ter cometido, em junho de 1976. Como ela faz um tratamento contra o câncer, coube à sua irmã, Karen Veilleux, ler um depoimento por escrito.
“Naquela noite eu fui dormir, sem saber que a minha vida iria mudar para sempre”, leu Karen, segundo o jornal Los Angeles Times. “Mas agora os papéis se inverteram. Ele vai passar o resto de sua vida miserável na cadeia. Eu não sou aquilo que aconteceu comigo, eu sou o que escolhi ser”.
Kris Pedretti, que tinha 15 anos quando foi estuprada por DeAngelo, contou que não achava que sobreviveria ao ataque, que aconteceu em dezembro de 1976. “Ele me atormentou, me disse várias vezes que iria me matar, e eu acreditei. Três vezes naquela noite eu achei que iria morrer e esperei que ele me matasse”.
Enquanto o réu ouvia, sem demonstrar reação, ela o questionou. “Eu perguntaria para ele ‘você sente algum remorso pelo que fez comigo? Pelas pessoas cujas vidas você tirou dessa maneira sádica ou pelos anos de sofrimento que deixou para suas vítimas e as famílias? Você finalmente se sente humilhado?”, disse ela.
Outra sobrevivente, Peggy Frink, contou ao júri como ela e a irmã foram violentadas e espancadas dentro da própria casa, em 1976. “Durante um bom tempo doía para pentear o cabelo, de tantas vezes que ele me bateu na cabeça”, relatou a vítima, que disse que ficou com as mãos dormentes por meses por ter sido amarrada com força.
Joseph DeAngelo usava uma máscara de proteção contra o novo coronavírus e assistiu a todos os depoimentos sentado em uma cadeira de rodas, entre dois defensores públicos. Segundo os relatos, em nenhum momento ele olhou na direção das vítimas e seus familiares.
A promotoria tentou mostrar vídeos em que ele aparece praticando atividades físicas e andando normalmente na cadeia, sem nenhum problema de locomoção ou saúde, mas o juiz não permitiu.