STF versus Moro

Estimulado por Bolsonaro, o STF trabalha para enfraquecer a candidatura do ex-juiz Sergio Moro a presidente em 2022

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O Supremo Tribunal Federal (STF) procura ter papel ativo nas manobras que partem do Palácio do Planalto para inviabilizar a candidatura do ex-ministro Sergio Moro a presidente em 2022. Considerado como o único que poderia ameaçar a reeleição de Bolsonaro caso as eleições fossem hoje (o blog PoderData fez uma pesquisa no último dia 5 mostrando que os dois chegariam ao segundo turno com 41%), Moro passou a ser alvo preferencial de medidas que procuram enfraquecê-lo politicamente. Uma das artimanhas tem sido pautar ações que podem levar à anulação de suas sentenças contra o ex-presidente Lula e também de todo o processo da Lava Jato do qual o ex-juiz foi personagem central. O ponto nevrálgico do desgaste público de Moro seria o STF decidir, nas próximas semanas, a suspeição do ex-juiz por ele ter condenado o petista no caso do tríplex do Guarujá, cuja sentença levou Lula à prisão por mais de 500 dias e o tirou da disputa presidencial de 2018. Esse julgamento está nas mãos do ministro Gilmar Mendes, presidente da 2ª Turma do STF, que deve pautar o assunto em breve. Caso Moro seja considerado suspeito de ter perseguido Lula e se a condenação for anulada, o ex-magistrado terá questionada toda sua carreira de 22 anos como juiz federal e sofrerá uma derrota que poderá sepultar eventual disposição de suceder Bolsonaro.

Voto de minerva

Quem imagina que a possibilidade de Lula ter a sentença revogada é reduzida, não conhece os bastidores do STF e suas implicações políticas. O julgamento sobre a suspeição de Moro começou em dezembro de 2018 na 2ª Turma do STF, composta por Cármen Lúcia, Edson Fachin, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello, além de Gilmar Mendes. De cara, Moro obteve dois votos a seu favor (Cármen e Fachin), mas isso não significa muita coisa. O julgamento foi suspenso porque Gilmar pediu vistas e agora ele está disposto a colocar o assunto em votação de forma definitiva. A tendência é a de que Lewandowski, amigo declarado de Lula, e Gilmar, votem a favor do petista, impondo uma gigantesca derrota à Lava Jato, publicamente criticada pelos dois magistrados. O voto de minerva caberá ao decano Celso de Mello, que vai se aposentar no próximo dia 1º de novembro. Mello já tomou decisões tanto favoráveis como contrárias à operação e a Moro, mas há um agravante. Ele está hospitalizado com graves problemas na coluna e pode não voltar tão cedo ao tribunal. Além do mais, o STF não vem realizando sessões presenciais desde março, com o início da pandemia. E Gilmar Mendes já disse à ISTOÉ desejar que a decisão sobre a suspeição de Moro seja tomada presencialmente e, de preferência, com a presença de Mello. Se o decano não puder votar nessa delicada questão, o mais provável é que a demanda seja resolvida por apenas quatro ministros. Como é quase líquido e certo que Gilmar e Lewandowski votarão a favor de Lula, o placar acabará em 2 a 2. E, nesse caso, a vitória será de Lula, pois o empate é pró-réu. Assim, estará consolidada a maior derrota da Lava Jato e a desmoralização de Moro, que, dessa forma, terá enorme dificuldade de sustentar uma candidatura a presidente. Está nas mãos de Celso de Mello, portanto, a salvação de Moro e de toda a Lava Jato.

“Nada contra Lula”

FIEL DA BALANÇA Celso de Mello será decisivo na sessão que envolve Moro (Crédito:Mateus Bonomi)

Gilmar já deixou claro que gostaria que Celso de Mello participasse dessa polêmica sessão da 2ª Turma por ele ter sido um dos mais ativos ministros a acompanhar a Lava Jato desde seu início, em 2014, e a sua presença daria maior credibilidade à decisão. Os advogados de Lula, no entanto, apostam na ausência de Mello para garantir a vitória. Eles sustentam que Moro foi parcial no julgamento do caso do tríplex do Guarujá e que o ex-juíz condenou o petista à prisão para tirá-lo das eleições de 2018, vencidas por Bolsonaro. Para eles, Moro beneficiou Bolsonaro pois logo depois acabou virando seu ministro da Justiça. Moro, contudo, nega qualquer perseguição ao petista. Em entrevista à ISTOÉ, o ex-juíz diz que condenou o ex-presidente com base nas provas do processo. “Como juiz, eu estava vinculado à lei e às provas e proferi a sentença condenatória contra Lula em meados de 2017, muito antes do ano eleitoral de 2018, e quando sequer conhecia o então candidato Jair Bolsonaro”. Para ele, o fato de aceitar convite para ingressar no governo ao final de 2018 não significa nada. “A ida para o ministério foi muito depois da sentença condenatória”. Segundo Moro, a comprovação mais cabal de que ele não tinha ligações com o bolsonarismo é que ele já deixou o governo. “Vale lembrar que, por opção pessoal, nem faço mais parte desse governo. Entrei com o objetivo claro de consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado”. Moro assegura que não perseguiu o ex-presidente. “Nunca tive nada contra o ex-presidente Lula. Além disso, é importante destacar que a sentença foi confirmada por instâncias superiores, como o Tribunal Regional Federal de Porto Alegre e depois o Superior Tribunal de Justiça”, acrescentou Moro.

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