Vacina de Oxford contra Covid-19 começa a ser testada em profissionais de saúde de SP
A vacina é uma das 141 cadastradas na Organização Mundial de Saúde (OMS) e está entre as 13 que já estão em fase clínica de testes em humanos no mundo. A testagem em profissionais de saúde de São Paulo começou na sábado (20), com a triagem dos voluntários.
A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a Fundação Lemann confirmaram nesta segunda-feira (22) que começaram os testes em São Paulo da vacina ChAdOx1 nCoV-19, liderada globalmente pela Universidade de Oxford, no Reino Unido.
A vacina é uma das 141 candidatas cadastradas na Organização Mundial de Saúde (OMS) e está entre as 13 que já estão em fase clínica de testes em humanos no mundo.
Os testes da vacina em São Paulo começaram no sábado (20) e prosseguiram nesta segunda-feira (22), segundo o Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Unifesp, que coordena a aplicação da vacina em São Paulo. Inicialmente a universidade havia informado que a sorologia havia iniciado na sexta-feira (19).
De acordo com a assessoria da Fundação Lemann, a primeira fase da pesquisa, iniciada sexta e segunda, é a fase de triagem dos testes sorológicos nos voluntários. As aplicações da vacina em si, de acordo com a Unifesp, começaram nesta terça-feira (23).
“No último sábado, 20, interessados selecionados em compor o grupo de voluntários passaram por teste de sorologia, seguindo os protocolos exigidos no estudo. Os participantes precisam ter sorologia negativa para a infecção pelo SARS-CoV-2 (causador da Covid-19), ou seja, não podem ter contraído a infecção antes de receber a vacina. A partir de hoje, terça-feira, 23, voluntários que tenham sorologia negativa estarão aptos para a aplicação da vacina”, disse o comunicado da Unifesp.
Total de testados
Informações da Universidade de Oxford apontam que pelo menos 5 mil profissionais da saúde participarão das testagens no Rio de Janeiro, São Paulo e na região Nordeste.
Do total de voluntários da área da saúde, 2.000 serão vacinados em São Paulo, 1.500 no Rio de Janeiro e 1.500 na região Nordeste, possivelmente na cidade de Salvador, na Bahia.
A Unifesp afirma que, na capital paulista, o Hospital São Paulo está responsável pela análise do perfil dos profissionais de saúde aptos a receberem o teste da vacina.
“Estão sendo recrutados profissionais de saúde de 18 a 55 anos que atuam prioritariamente dentro do Hospital São Paulo-Unifesp, na linha de frente do combate à Covid-19, entre médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, além de trabalhadores do hospital que desempenham funções em ambientes com alto risco de exposição ao novo coronavírus, como motoristas de ambulância, seguranças e agentes de limpeza”, afirmou a universidade.
Em nota, a Fundação Lemann, que é uma das financiadoras do projeto no Brasil, celebrou o início dos testes no país e disse que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que resultados positivos sejam conhecidos.
“Há um caminho importante a ser percorrido agora pelos especialistas antes de podermos celebrar bons resultados. O que virá depois, ainda não sabemos. Enquanto isso, o foco da Fundação Lemann está em acompanhar a iniciativa. Há muitas pessoas e organizações trabalhando colaborativamente para o sucesso e, junto delas, esperamos dar nossa contribuição para que a pandemia seja superada, com foco e atenção ao Brasil e sua gente, nosso maior compromisso”, disse a nota da fundação (veja íntegra abaixo).
Os testes da vacina de Oxford em São Paulo estão sendo coordenados pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com a coordenação das infectologistas Dra. Lily Yin Weckx e pela Dra. Sue Ann Costa Clemens, responsável pela articulação que colocou o Brasil como o primeiro país da América Latina a integrar a fase de testes da vacina, para além do Reino Unido.
Vacina de Oxford – Fase 3
A vacina da Universidade de Oxford, no Reino Unido, em parceria com a empresa AstraZeneca, que utiliza princípios semelhantes de estudos de vacinas contra ebola e Mers (síndrome respiratória do Oriente Médio causada por outro tipo de coronavírus) é uma das vacinas em estágio mais avançado no mundo.
Ao todo, 50 mil pessoas serão testadas em todo o planeta — 30 mil nos Estados Unidos e outras em países da África e Ásia. No Brasil, pelo menos 5 mil voluntários entre 18 e 55 anos serão vacinados. A ideia é anunciar os resultados até setembro e, se tudo correr bem, entregar as vacinas já em outubro.
Em São Paulo, os testes em mil voluntários estão sendo conduzidos pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e contam com a viabilização financeira da Fundação Lemann em toda infraestrutura médica e equipamentos.
No Rio de Janeiro, os testes em mil voluntários serão feitos pela Rede D’Or São Luiz, com R$ 5 milhões bancados pela própria Rede, e sob coordenação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).
São recrutadas pessoas da linha de frente do combate à Covid-19, em situação de maior exposição à contaminação. Eles precisam ser soronegativos, ou seja, que não contraíram a doença anteriormente.
A vacina utiliza uma tecnologia conhecida como vetor viral recombinante. Ela é produzida a partir de uma versão enfraquecida de um adenovírus que causa resfriado em chimpanzés — e que não causa doença em humanos. A esse imunizante foi adicionado o material genético usado na produção da proteína “spike” do Sars-Cov-2 (a que ele usa para invadir células), induzindo os anticorpos.
É considerada uma vacina moderna e “segura” por não utilizar o vírus e sim uma sequência genética.
Entraves
Apesar de participar da fase de testes em humanos, o Brasil corre o risco de ficar de fora das primeiras levas de compra da vacina de Oxford, caso o governo brasileiro não assine um acordo com a universidade para ter prioridade de compra do produto, caso ele tenha resultados positivos no controle da Covid-19.
O acordo está em análise no Ministério da Saúde e no Ministério da Economia, mas a Universidade de Oxford e a farmacêutica Astrazeneca, responsáveis pela pesquisa da vacina no Reino Unido, não receberam qualquer sinalização de que ele será apreciado no curto prazo.
Segundo fontes envolvidas nos testes em solo brasileiro, o atraso para firmar o acordo pode colocar o Brasil no fim da fila de prioridades para receber os primeiros lotes de produção em massa da vacina.
O G1 procurou o Ministério da Saúde para entender os entraves que impediram a assinatura do acordo até aqui, mas ainda não recebeu retorno do órgão.
Porém, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, disse nesta terça-feira (23) durante audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília, que o governo federal deve assinar ainda nesta semana o acordo para produzir no Brasil a vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e a biofarmacêutica AstraZeneca.
“Nós já estamos fechando com a Casa Civil a assinatura, o compromisso de participação do Brasil. Já estamos com as ligações paralelas com a universidade e com a AstraZeneca já bem adiantadas, envolvendo aí a Fiocruz e a Biomanguinhos”, informou o ministro na comissão mista do Congresso Nacional que acompanha a pandemia do coronavírus no país.
Íntegra da nota da Fundação Lemann:
“Neste final de semana, a Fundação Lemann teve a oportunidade de celebrar com os parceiros envolvidos e especialistas responsáveis, o início dos testes em São Paulo para a vacina ChAdOx1 nCoV-19, liderada globalmente pela Universidade de Oxford. Em São Paulo, onde a iniciativa contou com o financiamento da Fundação Lemann, os estudos clínicos estão sob responsabilidade do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), na liderança da Dra. Lily Yin Weckx e com o apoio da Dra. Sue Ann Costa Clemens, responsável pela articulação que colocou o Brasil como o primeiro a integrar a fase de testes para além do Reino Unido. Há um caminho importante a ser percorrido agora pelos especialistas antes de podermos celebrar bons resultados. O que virá depois, ainda não sabemos. Enquanto isso, o foco da Fundação Lemann está em acompanhar a iniciativa. Há muitas pessoas e organizações trabalhando colaborativamente para o sucesso e, junto delas, esperamos dar nossa contribuição para que a pandemia seja superada, com foco e atenção ao Brasil e sua gente, nosso maior compromisso”.
Íntegra da nota da Unifesp:
“A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), através de seu Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE), deu início ao processo de triagem dos voluntários que vão participar dos testes de vacina contra a Covid-19, desenvolvida pela Universidade de Oxford. No último sábado, 20, interessados selecionados em compor o grupo de voluntários passaram por teste de sorologia, seguindo os protocolos exigidos no estudo. Os participantes precisam ter sorologia negativa para a infecção pelo SARS-CoV-2 (causador da Covid-19), ou seja, não podem ter contraído a infecção antes de receber a vacina. A partir de hoje, terça-feira, 23, voluntários que tenham sorologia negativa estarão aptos para a aplicação da vacina.Estão sendo recrutados profissionais de saúde de 18 a 55 anos que atuam prioritariamente dentro do Hospital São Paulo-Unifesp, na linha de frente do combate à Covid-19, entre médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem, além de trabalhadores do hospital que desempenham funções em ambientes com alto risco de exposição ao novo coronavírus, como motoristas de ambulância, seguranças e agentes de limpeza. O estudo com a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford está na fase 3, o que significa que a vacina se encontra entre os estágios mais avançados de desenvolvimento. Ele segue todos os trâmites rígidos da pesquisa científica, o que demanda dos pesquisadores envolvidos dedicação total ao projeto junto à Universidade de Oxford e em conjunto com demais participantes, como Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e Fundação Lemann. Cada avanço registrado será compartilhado com todos”.