Os asiáticos são mais resistentes ao novo coronavírus? Até agora, sim

Um enigma a ser decifrado: por que a Índia, com 1,3 bilhão de habitantes, tem menos mortos por covid-19 do que a cidade de São Paulo?

-- Publicidade --

-- Publicidade --

O mundo está rapidamente se aproximando de 4 milhões de casos de covid-19, marca que pode ser atingida ainda neste sábado. Até ontem à noite, a base de dados da universidade americana Johns Hopkins registrava 3,9 milhões de casos confirmados e 274.000 mortes em 187 países e regiões. Embora a pandemia esteja fazendo vítimas em todos os continentes, um dado chama a atenção: até agora, o novo coronavírus tem sido muito mais benevolente com os asiáticos.
Um exemplo notável é a Índia, o segundo país mais populoso do mundo. Com 1,3 bilhão de habitantes, a Índia tinha até ontem um total de 1.985 óbitos por covid-19 – menos do que a cidade de São Paulo, com seus 12 milhões de habitantes. Segundo o balanço da Secretaria Municipal da Saúde divulgado na sexta-feira, a capital paulista tinha 2.106 óbitos confirmados por covid-19 e mais 2.624 casos suspeitos em análise, totalizando 4.730 possíveis mortes relacionadas ao coronavírus.

De acordo com dados do site Worldometer, a Índia tem até agora 1 óbito por covid-19 por milhão de habitantes. No Brasil, a proporção é de 45 óbitos por milhão de pessoas. Nos Estados Unidos, 236. Na Itália, 500. Na Espanha, 562. Na Bélgica, 735 (a maior taxa do mundo).
São números que contrastam com os dos países asiáticos, pelo menos até o momento. A China (ainda que seja preciso dar um desconto por causa das suspeitas de camuflagem dos números reais) tem até agora 3 óbitos por milhão de habitantes. No Japão e na Coreia do Sul, são 5. Em Cingapura, 3. Em Hong Kong, 0,5. Em Taiwan, 0,3.

Nenhum especialista conseguiu dar até agora uma explicação plausível para a aparente resiliência asiática nesta pandemia. Há quem tenha mencionado que o clima quente ajuda, mas vários países da região têm inverno rigoroso. Alguns citam o uso massivo de máscaras de proteção facial, mas esse hábito não é tão difundido em alguns países. Para quem acha que o nível de desenvolvimento pode fazer a diferença, basta lembrar Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo e que registrou até agora 1 óbito por milhão de habitantes.

Outra hipótese levantada é a rapidez com que muitos países do continente agiram para conter a propagação do coronavírus. Na Índia, o primeiro caso da doença foi confirmado em 29 de janeiro. No dia 24 de março, quando o país se aproximava da marca de 500 casos (e 10 mortes), o governo tomou uma medida drástica: determinou o lockdown em todo o país por 21 dias. Ninguém pode deixar suas casas, as escolas suspenderam as aulas, as fábricas pararam de produzir e os serviços de transporte deixaram de funcionar, exceto para levar bens essenciais. O bloqueio total foi estendido duas vezes e vai continuar pelo menos até 17 de maio.

No início deste mês, o governo indiano começou a relaxar o lockdown. Dividiu o país em três zonas (vermelho, laranja e verde), conforme a situação da pandemia. Nas áreas em que a situação está mais sob controle, o governo está autorizando a retomada das atividades. O lockdown pode estar ajudando o país a evitar a disseminação da covid-19, mas não parece ser a única explicação. Afinal, apesar das ordens das autoridades sanitárias, nem todos os indianos têm respeitado o distanciamento social – uma regra difícil de ser cumprida em um país onde vivem 464 pessoas por km2 (no Brasil, a média é de 25 pessoas na mesma área).

Alguém já comentou que o fato de a Índia usar largamente hidroxicloroquina para combater a malária pode estar ajudando a proteger a população da covid-19, mas os estudos apontam que a droga não é eficaz contra a doença. Além disso, a Índia é um país com alta incidência de doenças cardiovasculares, diabetes e doenças respiratórias crônicas, o que coloca milhões de pessoas nos grupos de risco.

Há também quem lembre que a Índia é um país onde provavelmente está havendo subnotificação das mortes, pela dificuldade de realizar testes para confirmar as causas dos óbitos. Ainda assim, é pouco provável que esteja havendo subnotificação em outros países asiáticos mais desenvolvidos, como Japão, Coreia do Sul e Cingapura.

Em suma, até agora, ninguém conseguiu elucidar por que os asiáticos estão resistindo mais ao avanço do novo coronavírus. Decifrar esse enigma pode apontar um caminho para lidar melhor com a doença.

Contraste entre a Ásia e o resto do mundoNúmero de mortes por covid-19 por milhão de habitantes (em 8 de maio)
Taiwan 0,3
Hong Kong 0,5
Bangladesh 1
Índia 1
China 3
Cingapura 3
Coreia do Sul 5
Japão 5
BRASIL 45
Alemanha 88
Estados Unidos 236
Itália 500
Espanha 562
Bélgica 735

Fonte: Worldometer

Banner825x120 Rodapé Matérias
você pode gostar também