Pesquisadores tocantinenses apontam: regiões mais quentes resistem, mas não evitam propagação da Covid-19
Existe um debate na literatura internacional sobre as condições climáticas e ambientais que melhor se adaptam ou não ao novo vírus, a Covid-19. Uma série de estudos vem sendo realizados no mundo todo em tempo real para descobrir essa relação e tantos outras questões relacionadas ao problema que tem afetado o mundo.
Mesmo com tantas pesquisas, havia uma lacuna internacional sobre regiões de trópicos, como o Brasil, que é constituído de um clima tropical e outra parte subtropical.
E foi para cobrir essa lacuna que dois pesquisadores da Universidade Federal do Tocantins (UFT) se juntaram para estudar o tema.
Os professores David Nadler Prata (Ciências da Computação) e Waldecy Rodrigues (Economia), ambos do Instituto de Pesquisa e Extensão em Desenvolvimento Regional da UFT, com a colaboração do professor Paulo Bermejo, da Universidade de Brasília (UnB), coletaram dados oficiais divulgados aberta e diariamente pelo Ministério da Saúde sobre número de infectados nas 27 capitais brasileiras e compararam com as relações climáticas das cidades. Isso permitiu que eles referendassem o que tem sido publicado mundialmente e publicassem um artigo na revista Science of The Total Environment.
Para fazer essa relação, os dados foram rodados em modelos estatísticos sofisticados.
“Criamos um modelo aditivo generalizado explorando características lineares e não-lineares de fatores ambientais como temperatura, umidade e altitude, e, também dados demográficos como população e densidade demográfica. Além disso, para dar suporte a modelos preditivos, criamos um modelo polinomial de regressão linear multivariada”, explica Prata. A junção dos dois modelos permitiu ver o efeito individual das variáveis para essa expansão em cada cidade pesquisada.
A principal conclusão da pesquisa é que no Brasil, nas regiões mais quentes, há uma certa tendência de redução dos casos da Covid-19, cerca de 4% por grau Celsius de temperatura média compensada, mas isto é condicionado por outros fatores, como por exemplo a umidade relativa do ar.
“Estes resultados estão de acordo com outros testes realizados no mundo, como China, Oceania, Europa e EUA. Desta sorte, mesmo nas regiões quentes e secas, como é o caso do Estado do Tocantins, esta pequena proteção natural pode se esvair muito rapidamente dada a concentração de pessoas e o comportamento social”, ressalta Rodrigues.
Outra conclusão é que para as temperaturas mais baixas, clima subtropical do Brasil, há um índice maior de infecção do Covid-19. Porém, pondera Prata, o estudo não conseguiu evidências que deem suporte de que em regiões mais quentes, acima de 24 graus Celsius, haveria uma redução no índice de infestação do vírus. Ou seja, estudos para temperaturas mais altas precisam ser melhor investigados, pois o clima quente resiste, mas não barra a Covid-19.
De forma prática, para a saúde pública do Brasil, é preciso destacar, segundo Prata, que as regiões com clima quente não estão livres do vírus. O vírus não desaparecerá simplesmente por causa de um clima mais quente, com média de temperaturas acima dos 25 graus centígrados.
O trabalho publicado pelos pesquisadores em um dos mais respeitados periódicos na área ambiental do mundo, contribui para a compreensão mundial do comportamento do novo coronavírus em diferentes condições climáticas e ambientais e se destaca por haver poucos estudos científicos para o hemisfério sul.
“A maior parte dos estudos são para China, Estados Unidos e Europa. Como o vírus chegou no hemisfério norte no inverno, as políticas públicas de saúde do mundo têm interesse em saber como esse vírus vai reagir no verão, com climas mais quentes”, esclarece Prata.
O artigo com o resultado completo da pesquisa estará aberto gratuitamente até 18 de junho pela Elsevier para todos. Já o público da UFT, pela Rede Café, tem acesso permanente a ele e outros trabalhos, pois está disponível pelo Portal de Periódico da Capes.
Fonte: UFT