“Temos que enaltecer a ciência brasileira”, diz virologista sobre combate à Covid-19
Em debate online do evento Rio2C, pesquisadores falam sobre conquistas e desafios encontrados nos laboratórios desde a chegada do novo coronavírus ao país
Ao lado dos profissionais de saúde, os cientistas também fazem parte da linha de frente do combate à pandemia da Covid-19. Lidando com as longas jornadas de trabalho nos laboratórios, os cortes de verbas e a pressão para encontrar respostas rápidas à crise, eles têm sido fundamentais para mitigar os danos da infecção pelo novo coronavírus.
Para discutir o assunto e compartilhar suas experiências, os virologistas Thiago Moreno, da Fiocruz, e Renato Santana, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), participaram de um painel do Rio2C, um evento digital e gratuito que tem sido organizado nesta semana.
Membro da equipe da Fiocruz que lidera ensaios clínicos da OMS no Brasil, Thiago Moreno está trabalhando em testes com o atazanavir, medicamento usado no tratamento do HIV cujas propriedades têm sido estudadas para combater a infecção do Sars-CoV-2. No início de abril, o cientista comemorou o sucesso do uso do remédio em culturas de células e anunciou o início de testes em camundongos.
Tendo trabalhado em outras epidemias, como as de zika e chikungunya, a missão do virologista agora é testar medicamentos já aprovados para tratar outras doenças e observar como e se eles podem ser “reposicionados” para combater os sintomas da Covid-19. “Isso acelera o processo até os ensaios clínicos e promove uma interface entre a ciência básica e a aplicada”, explicou Moreno, em live transmitida pelo Rio2C na quarta-feira (06).
Com a necessidade de entregar opções de tratamento seguras e rápidas à sociedade, o cientista diz que trabalhar durante a pandemia tem sido como “trocar o pneu enquanto o carro está em movimento; queremos oferecer outros estepes [múltiplos tratamentos.]”
Velhos desafios
Além de orientar testes em laboratório, o professor Renato Santana, da UFMG, também acompanha a atuação de colegas da universidade no atendimento básico aos pacientes com Covid-19. “Os grupos têm trabalhado entre 12 e 13 horas por dia, não só com a pesquisa, mas também com atenção básica, que é o mais primordial”, contou Santana durante o evento online. “Esse é o nosso compromisso com a sociedade. Como cientistas, isso é a única coisa que poderíamos estar fazendo”, acrescentou, citando também os alunos de pós-graduação que têm se volutariado para atender a população.
Diante da crise, o virologista ressalta o papel da ciência no combate à pandemia. “A gente tem que enaltecer a pesquisa científica do Brasil”, afirma. “Apesar de muitas vezes não termos o financiamento que nossos parceiros e colaboradores internacionais têm, ou então [sofrermos com] reduções de verbas ao projeto, vários cientistas brasileiros são notórios pelas descobertas que têm feito sobre a Covid-19, com impacto profundo inclusive na saúde do nosso país.”
E é através da ciência e de políticas públicas fundamentadas nela que situação será amenizada. Para Santana, além de manter as ordens de distanciamento social, a testagem em massa é uma das principais medidas para o enfrentamento da pandemia.