BNDES, recomendação cortada e sem interesse chinês: as notícias sobre Embraer que fizeram a ação cair 10%
Noticiário sobre companhia é bastante movimentado, mostrando que ainda há muita incerteza sobre os rumos da empresa
SÃO PAULO – Após o fracasso da joint venture com a Boeing, por mais que alguns caminhos tenham se desenhado para a Embraer (EMBR3), ainda há muita incerteza no radar, que levou a ação a cair 10,75% na sessão desta segunda-feira (4) a R$ 7,72, após registrar a maior queda do Ibovespa em abril (veja mais clicando aqui).
Nos últimos dias, ganharam destaque as notícias de que a companhia não teria despertado o interesse (pelo menos não no atual momento) dos chineses e que, no curto prazo, a companhia pode receber aporte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), 26 anos após a sua privatização. Vale destacar que, dias atrás, o senador Jacques Wagner (PT-BA) apresentou projeto para reestatizar a companhia.
Sobre o projeto de lei 2.195/2020 do setor petista, o Bradesco BBI aponta que, se ele fosse aprovado, o governo Federal poderia assumir o controle por meio de uma oferta pública ou aumento de capital.
Na avaliação do banco, o governo federal não poderá expropriar o controle da Embraer pelo fato da fabricante de aeronaves ser uma corporação, o que significa que a oferta pública de aquisição ou o aumento do capital por subscrição seriam as alternativas mais prováveis.
A oferta pública pode implicar em desembolso de caixa de US$ 14 bilhões, em comparação com o valor de mercado da Embraer de US$ 1 bilhão o que, na avaliação do BBI, tornaria essa operação improvável.
De acordo com os estatutos da Embraer, se a participação de um investidor ultrapassar 35% do total de ações, uma poison pill (“pílula de veneno” em tradução livre, cláusula presente no estatuto para proteger o minoritário) será acionada e o investidor deverá lançar uma oferta pública.
O preço da oferta que está detalhado exige um prêmio de 50% sobre o preço mais alto entre três parâmetros: a) preço mais alto das ações nos últimos 12 meses (valor patrimonial de US$ 8,6 bilhões); b) o preço mais alto pago pelo investidor nos últimos três anos (US$ 11,6 bilhões), c) a relação de 14,5 vezes o EV sobre o Ebitda, que seria o valor de mercado sobre o Ebitda (US $ 3,4 bilhões) ou d) 0,6 vez o EV sobre o backlog (US$ 14,2 bilhões).
O que vem ganhando força, enquanto isso, é o noticiário de que a companhia receberá um aporte bilionário, mas ainda está sendo estudada a forma como isso se dará.
No fim de semana, a Reuters apontou que a Embraer poderia obter um crédito de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão junto ao BNDES e bancos comerciais para capital de giro e financiar a exportação de aeronaves, citando duas fontes do governo próximas às negociações.
A Embraer poderia também entrar em um programa de socorro às companhias aéreas nacionais afetadas pelos impactos da pandemia de covid-19.
“A Embraer virou candidata de uma possível sindicalização entre os bancos e BNDES. É uma empresa aberta, de capital pulverizado que permite fazer algo como bônus com subscrição ou uma conversibilidade (em ações). É consenso dos bancos que a Embraer é uma natural candidata a um apoio…para dar capital de giro a ela e para financiar a venda dos aviões”, afirmou a fonte.
Já o Valor Econômico divulgou nesta segunda que o aporte do BNDES deve se dar pela emissão de, pelo menos, US$ 1 bilhão em ações e diluição dos atuais sócios.
De acordo com a publicação, uma emissão para o mercado de capitais foi descartada pela crise e novas parcerias apenas serão buscadas quando a pandemia estiver superada. A ideia não é que a União, que hoje tem, por meio da BNDESPar, cerca de 5% da empresa, volte a controlá-la, o que a engessaria na disputa de mercado. A busca é por liquidez para atravessar o fundo do poço com o coronavírus.
Sobre essa hipótese, os analistas do Bradesco BBI avaliam que, para que a participação do governo na companhia não supere os 35% e a “poison pill” seja acionada, o aumento de capital precisaria ser superior a US$ 18,25 por ADR da companhia, resultando em um prêmio de 214%. Se estes termos forem confirmados, o preço das ações poderia subir para US$ 8,65 por ADR (ante os US$ 5,60 negociados nesta segunda-feira).
Porém, ainda há muitas incertezas no radar sobre a estratégia para a companhia após o fracasso da joint venture com a Boeing. Nesta segunda-feira, o Bank of America reduziu a recomendação para os ADRs (na prática, as ações da companhia negociadas na bolsa americana) ERJ de outperform para neutra, reduzindo o preço-alvo de US$ 15 para US$ 8, apontando principalmente para os planos pouco claros para a área de aviação comercial, principal ponto da proposta de parceria não efetivada entre Boeing e a brasileira.
O BofA aponta que a ação já caiu 68% no acumulado do ano com o cancelamento da joint venture adicionando ainda mais pressão ao ambiente já desafiador em meio ao COVID-19.” Em nossa opinião, esses ventos contrários já estão precificados nos níveis atuais de preço das ações. No entanto, esperamos um upside limitado para o preço das ações até que os investidores tenham mais clareza sobre os planos da Embraer”, avaliam.
Eles apontam, contudo, que veem a Embraer como uma sobrevivente, também citando como alternativas o aporte do BNDES/governo. “Não esperamos que a recuperação da companhia após o encerramento da transação neste momento de coronavírus seja fácil, mas a Embraer passou com sucesso por dificuldades no passado”, destacam.
Além disso, ela poderia encontrar outro parceiro ou optar por manter toda a propriedade do comercial negócio da aviação. Neste sentido, o Bradesco BBI reforça que a chinesa Comac seria a compradora natural – mas o tempo não favorece a Embraer. “Se a situação financeira da Embraer começar a se deteriorar nos próximos trimestres, o preço de aquisição cairia. Para superar a ‘poison pill’ da Embraer, a Comac poderia usar a mesma estrutura de negócios negociada entre a Embraer e a Boeing, o que significa que a chinesa compraria 80% da unidade de negócios de aviação comercial”, avaliam.
A eventual parceria chinesa também é permeada por dúvidas, conforme destacou a Forbes. Segundo a publicação, a China poderia não ter interesse em adquirir a Embraer, pois :i) o país pode não fazer uma grande aquisição aeroespacial em um momento difícil para o setor, 2) há sobreposição de produtos, 3) há mensagens políticas contraditórias no Brasil e 4) a China não teria o que a Embraer precisa. Assim, destaca a publicação, o cenário da Boeing retomar as negociações com a Embraer é mais provável do que um possível acordo entre a China e a Embraer.
Porém, pondera o Bradesco BBI, a China tentou adquirir a série de aeronaves CSeries da Bombardier antes da união da última com a Airbus, o que, na opinião dos analistas, sugere que um possível acordo entre Comac e Embraer poderia ser alcançado.
De qualquer forma, os analistas do banco permanecem com a recomendação underperform para os ativos da Embraer, com preço-alvo para 2020 de US$ 4,00, destacando quatro questões: 1) as companhias aéreas adiarão a maioria das entregas de aeronaves esperadas para 2020 e 2021; 2) a Embraer enfrentará uma concorrência acirrada com a Airbus por novos pedidos de jatos regionais; 3) queima de caixa que provavelmente aumentará nos próximos trimestres e 4) o valuation pouco atraente.