Bolsonaro e procurador-geral Augusto Aras se encontram durante reunião no Planalto
Na semana passada, Aras pediu ao STF inquérito para apurar declarações do ex-ministro Sergio Moro, de que Bolsonaro tenta interferir politicamente em investigações da Polícia Federal.
O presidente Jair Bolsonaro e o procurador-geral da República, Augusto Aras, se encontraram nesta segunda-feira (27) no Palácio do Planalto. Segundo a Procuradoria-Geral da República, os dois conversaram durante uma reunião entre Aras, o advogado-geral da União, André Mendonça, e o ministro da Casa Civil, general Braga Netto, sobre a pandemia do coronavírus.
Na última sexta-feira (24), o procurador-geral pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito para apurar declarações do ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública Sergio Moro. Ele deixou o governo acusando Bolsonaro de interferir na autonomia da Polícia Federal. O presidente contesta.
A Procuradoria Geral da República (PGR) afirmou que o presidente se deslocou até o gabinete da Casa Civil a fim de cumprimentar o procurador-geral. De acordo com a PGR, Bolsonaro e Aras não trataram de outros assuntos. A TV Globo também questionou o Palácio do Planalto sobre o encontro. Primeiro, a assessoria negou que o presidente e o procurador tivessem se encontrado. Depois, a assessoria atualizou a agenda do presidente e incluiu uma audiência com o procurador-geral. A Secretaria de Comunicação informou, após a mudança na agenda, que o presidente e Aras somente se cumprimentaram.
De acordo com a PGR, a conversa entre o ministro da Casa Civil e procurador-geral estava marcada desde a semana passada. Braga Netto é coordenador do Comitê de Crise para Supervisão e Monitoramento dos Impactos da Covid-19, e Aras criou o Gabinete Integrado de Acompanhamento do Covid-19 (Giac), com o objetivo de centralizar a análise das questões jurídicas sobre o coronavírus.
A decisão sobre a abertura do inquérito para apurar as declarações de Moro será do ministro Celso de Mello, do STF. Se autorizado, caberá a Aras definir a linha da investigação. Para a PGR, em tese, a fala do ex-ministro da Justiça e ex-juiz atribui a Bolsonaro crimes como falsidade ideológica, coação no curso do processo, advocacia administrativa, prevaricação, obstrução de Justiça e corrupção passiva privilegiada.
No final da tarde desta segunda, ao chegar à residência oficial do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que Sergio Moro terá de provar as acusações que fez. “O ministro que saiu fez acusações e é bom que ele comprove. Até para minha biografia, tá ok? Agora, o processo no Supremo é o contrário, é ele que tem que comprovar aquilo que ele falou ao meu respeito”, afirmou. “Eu espero que o Supremo analise para tirar a dúvida. Uma acusação grave que foi feita a meu respeito. Seria bom o Supremo decidir isso o mais rapidamente possível. E o ministro pode apresentar as provas, se ele tiver obviamente”, disse.
Novo ministro
Na portaria do Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse avaliar dois nomes para substituir Sergio Moro. Segundo ele, o nome do escolhido será publicado na edição desta terça-feira (28) do “Diário Oficial da União”.
Ele afirmou que um dos dois nomes cogitados é o do atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira.
“Tem dois nomes na mesa. Um é o do Jorge. Se eu falar o outro perde a graça. Porque eu não falo com vocês? Porque se muda, vão falar que eu recuei”, disse. Segundo Bolsonaro, ele levará em conta na escolha “além do conhecimento técnico, a capacidade de dialogar com os demais poderes, ter boa entrada no Supremo, no TCU [Tribunal de Contas da União], no Congresso”.
Questionado se o atual ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, seria alguém com esses atributos, respondeu que sim, entre risos.