Pentágono: origem do coronavírus é inconclusiva, mas provavelmente natural
Desde quando a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) passou a se alastrar com mais perigo nos Estados Unidos, tanto os americanos quanto os chineses passaram a trocar acusações sobre a possibilidade de o patógeno ter sido criado em laboratório, como uma arma biológica — o que até mesmo alimentou ainda mais as já delirantes teorias de conspiração. Líderes do governo de ambos os países chegaram a se envolver nessa discussão. Agora, o principal general do Pentágono, Mark Milley, admitiu que as evidências apontam para origens naturais.
A declaração foi dada nesta terça-feira (14) , quando Milley falou sobre uma matéria publicada pelo Washington Post. O texto do jornal diz que, em 2018, oficiais do departamento de estado já haviam comunicado à inteligência norte-americana preocupações sobre o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV, na sigla em inglês), que vinha conduzindo estudos sobre o coronavírus em morcegos.
“Durante as interações com os cientistas do laboratório da WIV, eles observaram que o novo laboratório tinha uma grave escassez de técnicos e pesquisadores treinados adequadamente, da forma necessária para operar com segurança esse laboratório de alta contenção”, teria dito um cabo, em um relatório com data de 19 de janeiro de 2018, segundo o Washington Post.
Vale destacar que esse laboratório a que o soldado se refere é um prédio de nível de biossegurança 4 (também chamado de BSL-4), onde ficam patógenos de alta periculosidade, como a versão anterior do coronavírus (SARS), o Ebola, a febre de Lassa e o vírus de Marburg. Vários países possuem instalações semelhantes, para análises. Os Estados Unidos, por exemplo, possuem seis.
Declaração acontece em um momento delicado
De acordo com a matéria do Washington Post, diplomatas pediram mais apoio dos Estados Unidos para ajudar com essas questões no laboratório chinês, mas entre 2018 e 2019 a guerra comercial e tecnológica travada pelo governo Trump estava ficando mais acirrada. Além disso, o presidente vinha cortando o alcance dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) dos Estados Unidos no exterior.
Como sabemos, a versão oficial de Pequim, comprovada por várias evidências científicas a partir do sequenciamento genético do novo coronavírus, diz que o patógeno foi transmitido para os humanos a partir de animais dos mercados de animais selvagens de Wuhan. Contudo, diante das declarações conspiratórias anteriores e da atual indisposição de Trump com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o senador republicano Tom Cotton voltou cogitar a possibilidade de uma origem artificial, até mesmo por acidente — embora ele mesmo diga que a transmissão natural seja um cenário mais provável.
Mas eis que o próprio principal general de Trump preferiu, então, adotar um tom mais ameno sobre uma possível arma biológica. “Há muitos boatos e especulações em uma ampla variedade de mídias, sites, blogs, etc. Não deve ser surpresa para vocês que tenhamos um grande interesse por isso, e tivemos muita inteligência analisando o fato. E eu diria que, neste momento, (a origem) é inconclusiva, embora o peso das evidências indiquem que seja natural. Mas não sabemos ao certo”, afirmou Milley, em uma coletiva de imprensa, nesta terça.
A revelação do relatório na matéria do Washington Post acontece em um momento bastante delicado, em que os Estados Unidos são o epicentro da COVID-19. Portanto, a declaração do militar surge como uma forma de diminuir a tensão — já que, afinal de contas, o mais importante agora é mesmo salvar vidas e evitar novas mortes.
Fonte: The Guardian